quinta-feira, junho 29, 2006

NOVOS TRECHOS DE "A CONFRARIA DOS HOMENS DE BEM"

Já no estacionamento Abel realizou o ritual que já se tornava um hábi­to. Discretamente tentava detectar atitudes e veículos suspeitos pelas ime­diações. Viu apenas o pipoqueiro e o vendedor de algodão doce, na verdade agentes de segurança disfarçados contratados por Sforza. Foi-lhes dito que o editor da Proeza vinha sofrendo ameaças e que precisava de uma vigilante proteção. Do outro lado do estacionamento um Tempra branco esperava que Abel saísse para que logo em seguida o escoltasse, procedimento do qual ele já estava a par. Podia partir tranqüilo e colocar-se à espera do deputado, um tipo de ídolo dos confrades, ou então o eleito entre eles para alcançar por outros meios aquilo que eles conseguiam pela remoção de “entraves que impedi­am que a sociedade alcançasse a harmonia e o bem-estar em sua plenitude”.

Pensavam que ele precisava ouvir as palavras de Rosa para finalmente abraçar a causa dos homens de bem. Será que eles não percebiam que ele já pouco se importava se eles matavam suas vítimas por enforcamento ou inani­ção? Que ele já aceitara o que lhe acontecera como natural e inevitável? Os últimos meses ensinaram-lhe a ser mais pragmático. Um tanto quanto cínico ele já era. Agora ele dizia a si mesmo que não adiantava continuar a sentir remorsos ou culpa. O que ele poderia fazer? O sangue não deixaria de impreg­nar suas mãos em hipótese alguma. Se denunciasse a Confraria, poderia ganhar proteção da polícia enquanto assistia às investigações sobre as atividades dos confrades. Proteção? Eles prometeram que não lhe infligiriam nenhum dano físico. Enfim, conseguiriam provar alguma coisa contra eles, contra conspi­radores tão eficientes e meticulosos? Se eles fossem presos, se a Confraria fosse desmantelada, os estranhos e fatais incidentes cessariam, mas os atos inescrupulosos daqueles ligados à administração e à representação públicas continuariam a causar sérios problemas aos menos favorecidos. Eles sujaram suas mãos para sempre ao travarem com ele o primeiro contato.

Melhor permanecer do lado mais justo. Ou menos injusto. Tanto melhor que conseguiu um bom emprego, um salário invejável e a vida que teria pedido a Deus se acreditasse em um. Que importava se estava convencido ou não da justeza dos atos da Confraria? Não estava minimamente disposto a abrir mão do que conquistara; não apearia do cavalo da fortuna. Conversaria normalmen­te com o deputado. Mas nada do que lhe fosse dito alteraria seu pensamento. Estava sinceramente curioso a respeito das idéias daquele homem. E do próprio homem. Queria saber detalhes de seu projeto. Sentia-se privilegiado por vislumbrar o embrião de uma candidatura à presidência da República. Um con­frade-presidente. Idéia impensável, de difícil digestão.

***

Raful sorriu de forma complacente. Os outros confrades também não se livraram de seus sorrisos. Alguns trocaram curtas e cochichadas palavras.
— Mas, Abel... — disse o delegado. — Ao participar deste projeto estou... hã... exercendo minha profissão com mais eficiência. Minha função é proteger e servir a sociedade. E é exatamente o que a Confraria também faz. Removendo alguns elementos daninhos, estou... estou realizando uma... profi­laxia. Isso. Uma profilaxia contra as doenças que afligem a sociedade. Pro­tejo-a contra seus parasitas e sirvo-a através... através da minha total entrega a este projeto que só... hã... objetiva o bem comum. Toco meu violão com a mais tranqüila das consciências.
— Não há como argumentar com vocês... — disse, lançando o olhar em volta. — E esta palhaçada toda, o que foi? Um teste? Vocês sabiam de minha relação com Raful. Sabiam o tempo todo. Então resolveram testar minha leal­dade. E eu fui lá investigar, dócil e obediente como um cachorrinho. Eu fa­lhei como amigo, mas vocês ficaram exultantes com isso, pois era o que que­riam que eu fizesse. E então? Como me saí?
— Muito bem — disse Rosenfeld. — Fez o que se espera que faça um homem de bem. Acima das amizades está o bem comum. Você não pode apoiar al­guém que nada no erro por esse alguém ser seu amigo, um amigo que prejudica a grande maioria. O homem de bem pensa mais alto.
— Você foi aprovado — afirmou Benício.
— Parabéns — disse Silvano, apertando a mão de Abel. — Parabéns, confrade Abel.
Subitamente toda a sua cor esvaíra-se. Sentia um frio glacial percor­rer-lhe o corpo de e para todas as direções. “Confrade Abel”? Um teste. Como aquele pelo qual Bruno Luft passara. Mas o rapaz queria tornar-se um confra­de. Abel não desejava tal honra. Esquadrão da morte de luxo... Mas, olhando as coisas de outro ângulo, ser membro da Confraria significava que eles ti­nham total confiança nele. Significava estar no poder, ser o poder, caso vingasse o projeto político. Significava também a substituição da omissão pela cumplicidade em relação aos crimes nascidos naquelas reuniões. Mas ele já estava preso de corpo inteiro naquele sinistro emaranhado. Seu destino não seria tão diferente do dos outros na hipótese de a conspiração ser um dia descoberta. Sim, que mal havia em ser tratado de confrade? Afinal, nada mais mudaria em sua vida. Ele apenas passaria a ser tratado por um título, uma mera palavra, não era isso? Com a vantagem de usufruir os privilégios que o poder costuma oferecer.
— Confrade Abel... — divagou o jornalista. — Não soa tão mal.
A partir daquele momento teve de enfrentar uma demorada sessão de abra­ços e apertos de mão. Todos queriam saudar e dizer parabéns ao novo irmão. Uns de maneira mais efusiva que os outros. Bruno Luft cometeu o exagero de um beijo na face esquerda.
— Valeu, Abelão, meu velho. Se não pudemos ser cunhados, agora somos bem mais que isso. Somos confrades, logo irmãos.
— E que não passe disso — disse Abel, esfregando o rosto.

***

Caso alguém - certamente vítima de insanidade temporária (ou definitiva) - tenha vontade de ler a obra completa, há diferentes meios de se atingir tal objetivo:

À direita há um link para o site da Papel & Virtual Editora, bem na página em que o livro está à venda.

Caso queira receber por e-mail, em PDF, há uma taxinha simbólica de R$ 5,00. Eu mesmo mando o livro para seu endereço eletrônico.

Meu e-mail é franciscocabral@gmail.com

domingo, junho 25, 2006

DIGRESSÕES SOBRE A COPA

- Terminada metade dos jogos das oitavas-de-final, tive 100% de acerto sobre quem passaria para as quartas, embora os adversários de alguns dos classificados tenham sido outros em minhas previsões.

- Achei que o Brasil enfrentaria a República Tcheca (do meu amigo de Praga), mas os tchecos simplesmente apagaram no confronto com Gana. Parece que pesou a falta de intercâmbio com times de fora da Europa, onde os conterrâneos de Kafka vem causando furor há mais de uma década.

- A Seleção Brasileira vai passar sem sustos por Gana. Terá um jogo dificílimo com a Espanha, mas vai passar relativamente fácil pela semifinal com Portugal. Ou seja, mudei minha previsão. Inicialmente, segundo minha bola de cristal, seria a Inglaterra a disputar com o Brasil uma vaga na final. Mas os ingleses estão jogando mal e sem raça. O time de Felipão vai bem pelo menos no segundo quesito.

- Hoje também já não tenho certeza da presença argentina na decisão. No jogo com o México, nossos bons vizinhos não mostraram a determinação habitual. Nem encaixaram seu vistoso toque de bola. A Alemanha, ao contrário, é uma máquina mais azeitada a cada dia. Os jogadores, desde a primeira partida, estão completamente impregnados do espírito rodrigueano da "pátria em chuteiras". E estão jogando como nunca. Até o Klose, que era uma espécie de Obina branco, está se revelando um Tostão, um Careca... Bem, na verdade, um Klinsmann - que é o atual chefe dele.

- Em suma, a bola de cristal, de pilha nova, mas esfumaçada, ainda parece mostrar calções negros e camisas brancas na final. Mas sem listras azuis desbotadas.

- Se dependesse só dos técnicos, o Brasil não teria nenhuma chance diante de Portugal.

LITERATURA: UM ESCRITOR INJUSTAMENTE DESCONHECIDO

“Desconhecido” em termos. O grande público de hoje pode jamais ter ouvido ou lido o nome Gilbert Keith Chesterton. Ou G.K. Chesterton, como também era conhecido. Mas em sua época ele foi quase um Dickens, para ficar numa comparação entre ingleses.

Antes de tudo sua narrativa era deliciosa. Na verdade, ainda é, pois a obra é imortal. Felizmente. Seus textos são impregnados de humor, como forte pendor para a ironia e o sarcasmo. Como brinde, recebemos generosas pitadas de erudição.

Para os mais jovens, especialmente os aficcionados pelos quadrinhos adultos, um bom incentivo para a leitura de Chesterton é o fato de ele ter sido citado em uma das histórias de Sandman, de Neil Gaiman. Numa das cenas de uma das primeiras edições da célebre revista, na Biblioteca das Obras que Nunca Foram Escritas, aparece em uma estante um exemplar de “O Homem que era outubro”, de G. K. Chesterton. Uma alusão ao livro - este, sim, escrito e publicado - “O Homem que era quinta-feira”.

Para quem já conhecia o livro, não foi uma surpresa a citação-homenagem de Gaiman. Afinal, a trama da obra tem muito a ver com enredos de sonhos, o material de que vive Sandman, ou Morpheus, o Mestre do Sonhar.

O ambiente onírico, aliás, remete a outro autor espetacular, Franz Kafka. E a leitura dessa gente toda, desconfio, deve ter influenciado o tecedor destas linhas, cuja obra também apresenta um ou outro componente de sonhos. De uma coisa tenho certeza: o próprio estilo dos meus sonhos (e pesadelos) influenciou minha escrita.

Mas estou aqui é para dar esta dica: leiam Chesterton. Além do livro acima citado, seria bom também não deixar de lado toda a série de contos do Padre Brown, um detetive que não deve nada a Sherlock Holmes. Com a vantagem de contar com a escrita mais refinada do velho G.K. Ah, tem ainda os ensaios.

Confira abaixo uma pequena biografia do grande escritor:

GILBERT KEITH CHESTERTON

Prolífico crítico inglês e autor de versos, ensaios, novelas e de curtas histórias. Chesterton foi, com George Bernard Shaw, Hilaire Belloc, e H.G. Wells, parte dos grandes homens edwardianos das letras. Ele é, provavelmente, mais conhecido por sua série sobre o padre-detetive Father Brown, que apareceu em 50 histórias. Entre 1900 e 1936, Chesterton publicou uns cem livros.

"A grande massa da humanidade, com sua grande massa de livros vazios e de palavras sem valor, nunca duvidou e nunca duvidará que a coragem é esplêndida, que a fidelidade é nobre, que as donzelas em apuros devem ser salvas, e que inimigos vencidos devem ser poupados. Há um grande número de pessoas cultas que duvidam destas máximas da vida diária, justo, existe um grande número pessoas que acreditam que são o Príncipe de Gales; e eu tenho dito que ambas as classes de pessoas são agradáveis de se conversar." (de 'Uma defesa da moeda de um centavo Dreadfuls', 1901).

G.K. Chesterton nasceu em Londres-Inglaterra, no dia 29 de maio de 1874, numa família de classe média. Não aprendeu a ler até os oito anos e um de seus professores disse a seu respeito: "se nós abríssemos sua cabeça, nós não devemos encontrar o cérebro, mas somente uma protuberância da gordura branca." Chesterton estudou na University College e na Escola Slade de Arte (1893-96). Por volta de 1893, atravessou uma crise de ceticismo e depressão, e durante este período, Chesterton experimentou práticas de Ouija e cresceu fascinado com as artes mágicas. - Em 1895, Chesterton deixou a University College sem ter colado grau e trabalhou em Londres para o editor Redway, e T. Fisher Unwin (1896-1902).

Muitos de seus trabahos foram publicados, em primeira mão, por veículos como The Speaker, Daily News, Illustrated London News, Eye Witness, New Witness e em seu próprio semanário de G.K.'s Weekly. Chesterton renovou sua fé cristã; também o namoro com sua futura esposa, Frances Blogg, com quem casou em 1901, ajudou-o a sair da crise espiritual.

Em 1900, apareceu GREYBEARDS AT PLAY, a primeira coleção dos poemas de Chesterton. ROBERT BROWNING (1903) e CHARLES DICKENS (1906), eram os literatos biografos. THE MAPOLEON OF NOTTING HILL (1904), foi a primeira novela de Chesterton, uma fantasia política, na qual Londres é vista como uma cidade de ocultos contos de fadas (mentiras) cintilantes, e no THE MAN WHO WAS THURSDAY (O Homem que era quinta-feira, 1908) Chesterton retrata a decadência do final do século. O protagonista, Syme, é um poeta que se tornou empregado da Scotland Yard, e que revela uma vasta conspiração contra a civilização. Os membros do grupo secreto anarquista são nomeados por dias da semana. Sunday (Domingo) é o de caráter mais misterioso, que diz que, desde "o começo do mundo, todos os homens caçavam-me como um lobo - reis e sábios, poetas e donos da lei, todas as igrejas e todos os filósofos. Mas eu nunca fui capturado." Uma adaptação para o teatro da história, pela Sra. Cecil Chesterton e Ralph Neale, foi produzida em 1926.

Em 1909 Chesterton mudou-se com sua esposa para Beaconsfield, uma vila 25 milhas ao oeste de Londres, e continuou a escrever, a fazer conferências e a viajar com bastante energia. Entre 1913 e 1914, Chesterton foi um contribuinte regular do Daily Herald. Em 1914, sofreu problemas físicos e nervosos. Depois da Primeira Grande Guerra, Chesterton tornou-se líder do movimento Distributist, e mais tarde o presidente do Distributist League, promovendo a idéia de que a propriedade privada deveria ser dividida em propriedades menores e então ser distribuída por toda a sociedade. Em seus escritos, Chesterton expressou também a sua desconfiança nos governos do mundo e no progresso evolucionário, sua visão era, freqüentemente, ruralista, antimodernista e vitoriana. Ele também foi um locutor de rádio muito popular, cativando em uma série de debates com George Bernard Shaw. Seu irmão mais novo, Cecil, morreu em 1918, e Chesterton editou para seu irmão a 'New Witness' (Nova Testemunha) e seu próprio semanário, o 'G.K.'s Weekly'.

Observou Chesterton, ao ver pela primeira vez as luzes brilhantes e cintilantes da Broadway: "Como seria bonita para alguém que não pudesse ler." (The Wordsworth Book of Literary Anecdotes by Robert Hendrickson, 1990)

Em 1922, Chesterton converteu-se do Anglicanismo para o Catolicismo Romano, e depois disso escreveu a diversos trabalhos orientados à teologia, incluindo as Vidas de Francisco de Assis e de Tomás de Aquino. Chesterton foi agraciado com graus honoríficos de Edimburgo, de Dublin e da universidade de Notre Dame. Em 1934, ele tornou-se Knight Commander with Star (Comandante dos Cavaleiros da Estrela), ordem de São Gregório, o grande.

Chesterton morreu em 14 de Junho de 1936, em sua residência, em Beaconsfield. Seu caixão, demasiado grande para ser carregado escadaria abaixo, teve que ser abaixado da janela à terra. Dorothy Collins, secretária de Chesterton, gerenciou seu acervo literário até sua morte, em 1988.

sexta-feira, junho 23, 2006

ARISTÓTELES OMORRIS NA COPA

Como nós, ídolos, sofremos

Por Aristóteles Omorris

Dortmund, País Basco - Cada vez mais me identifico com as celebridades que fazem a festa dos pasquins de todo o mundo. É chato ser famoso. Por ser conhecido mundialmente, sei o que sofrem superstars como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, o casal Angelina Jolie/Brad Pitt, Madonna, Bono Vox e aquele jovem rapaz, o Rolling Stones.

Assim como no resto do mundo, aqui na Alemanha não posso sair às ruas que sou logo assediado por toda sorte de seres. Nas proximidades dos estádios sempre aparece alguém me oferecendo ingressos. Mal sabem os néscios que não preciso de tais mimos, afinal, tenho credencial para cobrir a Copa para o blog do maldito FC.

Às vezes os fãs são agressivos, como o sérvio que se aproximou - certamente para me pedir autógrafo. Provavelmente o pobre coitado tinha algum problema mental, pois, encarando-me, limitava-se a grunhir algumas palavras ininteligíveis e a bater com dois dedos da mão direita em seu próprio punho esquerdo.

Como não costumo dar atenção a esse tipo de gente, empinei o nariz e segui adiante. O fã se tornou agressivo e veio atrás de mim. Possesso, tentou me agarrar ao mesmo tempo em que fitava o mostrador de meu relógio. Foi quando percebi que o eslávico maluco exalava um cheiro de um azedume insuportável. Antes que meu obcecado admirador colocasse suas podres mãos em minha augusta pessoa, um bondoso agente policial germânico imobilizou-o.

Aconselhei o jovem tresloucado a tomar banho. Mas ele, ainda transfigurado, disse algo que depois me traduziram como:

- Sérvio não toma banho. Faz limpeza étnica.

Coitado. Em sua insanidade nem sabia do que falava. Desde quando o vulcão Etna pode passar por faxinas?

Anteontem fui aclamado por uma multidão. Desde então ganhei o informal, mas pomposo título de schwudel. Para onde quer que eu vá, todos me chamam, com deferência, de schwudel. Confesso que fiquei comovido pela homenagem, mesmo que seja apenas mais uma em minha laureada vida.

Aconteceu depois que reagi de forma veemente e enérgica a um episódio desagradável. Andava pelo centro da feia Dortmund quando um rapazote esbarrou em mim derramando uma gota de refrigerante em meu Armani. De forma imponente, obriguei-o, usando um tom de voz mais alto, a me arranjar outra vestimenta de igual nível enquanto a minha estivesse em processo de lavagem.

Uma alemã que passava começou a me chamar de schwudel, no que foi logo sendo seguida por todos. Até hoje, quando passo, as pessoas já vão dizendo: “Lá vai o schwudel”. Creio que seja uma justa homenagem àqueles que exercem com vigor sua cidadania. Tenho orgulho de ser um exemplo para todos. Como é bom ser schwudel.

NOTA DO EDITOR DO BLOG: Ao consultar especialistas em alemão, fui informado que a palavra schwudel refere-se a pessoas que, digamos, fazem parte de uma minoria em termos de preferência sexual.

Paisagem apreciada por Aristóteles Omorris toda manhã, quando acordava em sua mansão

domingo, junho 18, 2006

TRECHO DE "O AMIGO DE PRAGA"

A manhã enchia de sol os poços, o dorso dos animais, as copas das árvores, pontilhando a fazenda de reflexos esparsos. O doutor Conrado chegou de bom humor e exalando tranqüilidade. Isto porque não sabia o que o esperava.

— Bom dia, Prudente. Quem é o paciente? Gostou da rima? Uma pessoa eu sei que não é: Dennis. Aquele rapaz parece ser imune a tudo.

Tem razão, não é ele. Vem comigo, Conrado.

Não vai me dizer que é a Matilde de novo — dizia enquanto subia a escada. — Disse pra ela não descuidar da press...

O médico ficou paralisado ao vislumbrar seu paciente sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama.

Quer que chame um médico para o senhor, doutor? — sorriu Dennis.

Enquanto fazia os exames, Conrado foi inteirado da história.

— Agora eu solicito que vocês se retirem, pois será necessário que o paciente tire a roupa e não seria ético se...
— Já entendemos, Conrado — atalhou Prudente.

Pouco depois a porta era reaberta. Ansiosos, avô e neto entraram rapidamente, como se quisessem notícias de um parente muito próximo.

— Olha, gente, o... Ers.., o Etevaldo não apresenta nenhum dano aparente. Sem hematomas, sem fraturas. Anatomicamente, sem olhar mais de perto, ele pode se passar por um humano. Mas apresenta aquelas características que notei no cadáver de seu companheiro: uma pele grossa, resistente; uma densidade a toda prova; a testa altíssima, um crânio inflado, que deve guardar um cérebro mais volumoso que a média humana.
— Como assim... denso? — indagou Prudente.
— Bom, ele é ultrapesado. Seus ossos, seus músculos, até sua pele... Tudo com um peso anormal. Para os nossos padrões, obviamente.
— Ele parece ter perdido a memória, doutor.
— Meu palpite, Dennis, é que, como costuma acontecer nos acidentes de trânsito, seu cérebro deve ter se chocado com a parede do crânio devido à repentina desaceleração. Como o restante de sua anatomia é similar à humana, seu cérebro deve apresentar semelhanças com o nosso. Assim sendo, as áreas responsáveis pela fala e pela memória devem ter sido atingidas.
— Ou talvez somente a da memória. O que ele pode ter esquecido é a língua que falava.
— Não sei... Na espécie humana...
— O que falta para ele ser considerado humano?
— A questão não seria essa: teria ele algo mais que o torna mais que humano? Como ia dizendo, entre nós é difícil que um traumatismo dessa natureza nos retire a capacidade lingüística. Geralmente não é apagada toda a memória, mas parte dela. Mas neste caso... Nem sei como agir. O primeiro passo seria uma chapa, um exame de ressonância magnética, uma tomografia. Ele pode ter um simples coágulo ou um dano permanente.
— Ele tem de fazer uma ressonância. Temos de dar um jeito de levá-lo para Brasília. É o centro mais próximo.
— Dennis, meu filho, como vamos fazer um negócio desses? Primeiro temos de passar pelos enxeridos; depois, procurar um hospital com enfermeiras e médicos especializados em extra-terrestres. Conhece algum?
— Doutor Conrado, o senhor deve ter amigos médicos em Brasília, não?
— Meu filho tem uma clínica toda equipada lá. Ele é neurologista.
— Ótimo, Ótimo. O senhor poderia prescrever um pedido de exame para o Etê? Ou melhor, para o jogador de vôlei tcheco Ernst Tchapek, que está em férias no Brasil?
— Eu poderia, mas...
— Ótimo. Então está resolvido. Diga a seu filho que o Etê sofreu um acidente de trânsito em Alto Paraíso, que ele estava de cinto, mas que o cérebro deve ter sofrido algum dano, sabe como é que é. Vamos dar um jeito de levá-lo escondido e...
— Dennis, Dennis...
— O que o senhor prefere fazer, vô? Deixar o Etê definhar por falta de socorro médico em tempo hábil?
— É, parece que não tem outro jeito.
— Não tem, não tem. Temos que arranjar roupas, roupas humanas para ele. Vamos mandar fazer, se preciso.
— Esse seu neto é hiperativo, Prudente. Uma hora queima o fusível. Quanto à alimentação do nosso amigo, recomendo uma dieta leve e moderada. Vamos deixar ele se acostumar com nossa comida. Mas devo avisar que meu filho certamente vai estranhar a compleição física e o cérebro do rapaz.
— É um risco que obrigatoriamente teremos de correr.


Quem quiser adquirir o livro O Amigo de Praga basta me contactar pelo e-mail franciscocabral@gmail.com. São R$ 15,00, mais as despesas de envio.

sexta-feira, junho 16, 2006

FRASES SOLTAS. POR HABEAS CORPUS

- Por que não colocam uma placa onde o vento faz a curva?

- De tão tímido sempre praticou sozinho esportes coletivos.

- Não sabia que era impossível, foi lá e morreu.

- Não sabia que era inflamável, foi lá fumando.

- Cego, pintava em braile.

quinta-feira, junho 15, 2006

COPA DO MUNDO: IMPRESSÕES SOBRE A PRIMEIRA FASE

Lá se foi a primeira rodada da fase inicial da Copa do Mundo e pelo menos de uma coisa o mundo inteiro está certo. O Brasil é uma fraude. Toda a badalação sobre a Seleção Brasileira não passava de uma crença vã, que acabou desmistificada pela anoréxica vitória sobre a Croácia.

Ah, como é volúvel a vox populi... Colocava suas próprias expectativas e/ou esperanças em algo baseada somente em uma falsa premissa, embebida de uma rodrigueana unanimidade.

Ninguém prestou atenção - ou não acreditou - nas palavras de Carlos Alberto Parreira, que, desde o início da preparação da Seleção, vem dizendo que o time só vai atingir 100% de sua capacidade a partir da segunda fase.

Pode-se questionar uma preparação que vise o auge a partir de uma etapa em cuja presença não se esteja garantido. Mas não foi por omissão dos manda-chuvas do selecionado campeão do mundo que não fomos avisados da realidade.

A fase de preparação priorizou o aspecto físico dos jogadores, a maioria extenuada ao final de mais uma desgastante temporada européia. Aconteceu o que se convencionou chamar nos CTs brasileiros de intertemporada. E, como sempre ocorre durante esse período - e pouco depois dele -, os atletas ainda estão pesados, não estão soltos, ainda estão a caminho da forma ideal para praticar seu melhor futebol.

É assim que a comissão técnica brasileira age desde 1994. Os atuais preparadores físicos da Seleção estão por lá desde o início dos anos 90. De lá para cá chegamos a três finais de Copa do Mundo (ganhamos duas), quatro de Copa América (ganhamos três) e três de Copa das Confederações (ganhamos duas), para ficarmos nas competições mais importantes e de características parecidas.

Basta fazer um esforço de memória ou buscar nos arquivos históricos que se perceberá que a regra é o time começar devagar, mas quase sempre vencendo, e ir crescendo ao longo do torneio. Passa-se um susto aqui e ali, mas a estratégia mostrou-se vitoriosa.

O que não significa que tenho certeza do hexa este ano. O ponto é que não há motivo nem para euforia tresloucada nem para depressão profunda. Não há nada de novo sob o Sol. Tudo acontece conforme o planejado. Talvez só a inexplicável apatia de Ronaldo esteja fora dos eixos.

Sobre as outras seleções, a primeira rodada apresentou uma Espanha fulminante. Esse filme já foi visto em festivais, ou melhor, em mundiais anteriores. Convém aguardar. Deve-se sempre desconfiar dos espanhóis.

A República Tcheca, a outra equipe que deixou boa impressão inicial, também precisa ser vista mais vezes antes que se diga que “pintou o favorito”. Quem sabe esses times que começaram bem não tenham feito uma preparação para atingir seu auge no início? Caso alguém tenha optado por essa alternativa, há fortes possibilidades de não ir longe na Copa, pois a fase de declínio físico é inevitável.

No mais, os favoritos de antes de 9 de junho continuam favoritos, mas com menção de deslouvor à França, que parece ter se acostumado a claudicar.

terça-feira, junho 13, 2006

TRECHO DO LIVRO "CESALPÍNIA"

Nei já suava frio, tremia até, quando seu amigo partiu com os dois en­gravatados para um lado ao mesmo tempo em que Berger e Moraes aceleravam para outro. "Prenderam Lucano? Então vão me prender também, pois já devem estar sabendo de tudo. Ou não?”

— Oh, meu Deus! — disse em voz alta. — O que está acontecendo?

Não podia acreditar que haviam descoberto que Lucano estava escrevendo sobre seu país proibido, afinal, seu método era perfeito: escrevia tanto os ensaios-isca como Terra Incognita de maneira que suas sentinelas não vissem jamais a tela do computador. Trabalhava com dois disquetes de cores idênti­cas. Copiava o arquivo contendo os ensaios, mas mantinha o outro disquete atrás do gabinete, fora do alcance das lentes. Sabia que periodicamente vas­culhavam sua máquina. Por isso deixava apenas os ensaios gravados no disco rígido. Textos secretos, somente em disquete.

Com discrição realizava a troca de discos. Encerrada a operação, aper­tava os dois disquetes na palma da mão e os enfiava no bolso da calça. A dupla de agentes de plantão, por causa do monitor e da mesa, via Lucano ape­nas do tórax para cima. Para não se enganar na hora de entregar seus textos a Peres, rasgava um pequeno pedaço do adesivo dos disquetes que continham os ensaios. Com a ponta dos dedos reconhecia qual deveria pegar. Por via das dúvidas, colocava sempre o disco com Terra em contato com sua perna.

“A menos que ele tenha entregado a Peres o disquete errado”. Esta hipótese fez com que Nei sentisse o maior calafrio de sua vida. Por algum tempo não quis receber ninguém. Depois, mesmo antecipando o resultado, ligou para o apartamento de Lucano. Nada. Em casa, com muita dificuldade desvenci­lhou-se das perguntas de Moira, que percebera facilmente seu estado de apre­ensão e angústia.

Respondia asperamente à mulher: agora adicionara o remorso a seu lamen­tável estado emocional. O fato de não poder contar a Moira a milésima parte da verdade somente piorava a situação. Uma madrugada em claro e uma garrafa de uísque depois, Nei resolveu ir até a casa de Lucano.

Mal o dia clareara o editor apertava freneticamente o botão da campai­nha. Chegando para o trabalho e usando as escadas, uma garota, que trabalha­va como empregada doméstica em outro andar, gritou:

— Ei, moço! Desde ontem à tarde ninguém entrou nesse andar.
— Ninguém? Mas...
— Então o senhor não sabe? Dos quatro apartamentos daqui só dois são ocupados: esse que o senhor está chamando alguém e esse aí do lado. Ninguém mora nos outros dois desde que vim trabalhar aqui. Acho que só a dona Acácia, a velhinha do oitavo andar, lembra de gente morando neles. E nesses dois aí só mora gente esquisita. Desculpa se eu tiver falando mal de algum amigo seu...
— Não, tudo bem — disse Nei, mais calmo. — Continua, continua, por favor.
— Pois então, aqui no 501 mora sozinho o cara mais esquisitão, o tal de Lucano. Não trata ninguém mal, mas fala pouco. Não puxa assunto com nin­guém, não revela nada da vida particular. Ajuda as pessoas, sabe? Ajuda car­regar pacotes, empurra e levanta cadeira de roda (o seu Tonico é aleijado), dá bom-dia e tudo, mas é esquisito. Ele...
— E os outros? Os daquele apartamento.
— Acho que é tudo bicha — Nei manteve seu olhar ávido e confuso. — É. Vivem quatro caras aí. Tão sempre juntos e em casaizi­nhos. Acho que tem dois casais de bichas. Dizem que muitas vezes eles dormem fora. Sabe como é a vida dessa gente, né? O porteiro, seu Manuel, diz que eles - as bichas, entende? - têm rolo com o Lucano. Que sempre que o Lucano sai, passa um pouco eles saem também. O Lucano chega, pode esperar que eles vêm atrás. Eu mesma já reparei esse negócio umas duas vezes. O senhor é amigo deles? Ai, meu Deus. O senhor deve tá com raiva de mim por eu chamar todo mundo de bicha, não é? Desculpa.
— Fique tranqüila. Eu não sou bicha e acho que o Lucano também não é. Ele é meu amigo, só isso. Quanto aos outros...

Nei despediu-se da garota e, desalentado, deixou o edifício. Enquanto descia imaginava que por mais que os serviços secretos e de segurança previnam-se, sempre haverá vizinhos curiosos.

— Sei não, mas esse cara... — balbuciou a jovem quando o elevador partiu.

...

Da editora, Lucano foi levado à sede da Polícia Federal no Rio. No carro tentou saber por que estava detido.

— Olha, cara — disse um dos policiais —, veio uma ordem de cima e este papel que a gente te mostrou. É tipo um mandado, entendeu? Nossa ordem é te colocar numa salinha lá na PF, só isso.
— É — confirmou o outro. — Uma salinha de visita, sem algema, sem jeito de cadeia, entendeu?
— É pra você ficar lá até o Peres, que faz não sei o que no governo, chegar pra te ver. No mais, a gente está boiando também.

No rádio a freqüência da polícia estava sintonizada. Atentos, os três ouviram que acabava de explodir outra bomba no Rio de Janeiro. Desta vez dois policiais federais haviam morrido. O artefato fora colocado próximo ao portão dezoito do estádio do Maracanã. Após proferir um palavrão, o policial que dirigia o carro disse:

— O Silva e o Renatão. Em pedaços. Ainda era de madrugada. Ligaram lá pra gente avisando que tinha uma bomba no Maracanã. Mandaram uma equipe para achar e desarmar a droga — soltou mais alguns impropérios. — O Silva e o Renatão eram os cobras do negócio, pô.
— Mas os responsáveis se identificaram? — perguntou Lucano.
— Não. Disseram umas bobagens que o pessoal lá anotou e...
— Epa, epa — interrompeu o agente que ia no banco do passageiro. — Não fala nada pra esse cara, não, Martins. Ele é suspeito, ele é suspeito. Por isso que mandaram a gente pegar o malandro.
— Mas não falaram por que era pra pegar ele, pô.
— Mas só pode ser por isso. Tu vai se dar mal, neguinho. Se foi tu e teus amiguinhos que colocaram aquela bomba e mataram nossos chapas... Vai se dar mal.

Agora com maior brutalidade, Lucano foi conduzido até uma sala de três por três metros. Dentro, um sofá de almofadas cobertas por negras capas de vinil, uma cadeira de assento plástico e pernas metálicas e mais nada. A porta, que tinha um visor, foi trancada.

Pouco depois Lucano ouviu o barulho da fechadura. Pensou que fosse Peres. Enfim, ficaria esclarecida toda a situação. Sem dúvida fora preso devido ao telefonema dos terroristas. Mas o que os havia levado a pensar nele como suspeito? Afinal, não o vigiavam noite e dia sem cessar? Era virtualmente impossível sua participação em qualquer grupo terrorista.

Não foi Peres quem entrou. Era um dos agentes que vieram com ele, o do banco do passageiro. Não estava só. Atrás dele vinha outro maior, de espesso bigode e físico de pugilista peso-pesado.

— Aí está o homem — disse o primeiro, apontando para Lucano.
— Terrorista filho da...

Lucano não ouviu o peso-pesado terminar de xingá-lo: um violento soco em sua têmpora esquerda deixou-o surdo e derrubou-o sobre o sofá. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, que pudesse falar qualquer coisa, o peso-pesado o puxou pelo colarinho e atingiu novamente sua cabeça. Então o segurou pelas costas para que o outro policial desferisse murros contra seu abdome.

Como adquirir o livro Cesalpínia:

Por enquanto, só por e-mail, em PDF, pela simbólica taxa de R$ 5,00. Meu e-mail é franciscocabral@gmail.com.

domingo, junho 11, 2006

ARISTÓTELES OMORRIS NA COPA

Xeque-mate nos maledicentes

Por Aristóteles Omorris

Frankfurt, Roma - Meus inimigos - certamente comandados pelo inescrupuloso Francisco Cabral - têm me acusado de preguiçoso, vagabundo, folgado e outros adjetivos ainda mais ofensivos e impróprios pelo simples fato de eu ainda não ter enviado nenhuma coluna da Alemanha, falando de futebol, desde que cheguei ao país dos moinhos holandeses e do queijo suíço.

Gente, eu acabei de chegar! Trinta e cinco dias não é tempo suficiente para uma completa adaptação ao fuso horário. E olha que eu vim para cá proveniente da longínqua França...

Mas hoje, para provar minha sensacional e rara capacidade e talento nato adquirido, mesmo ainda sofrendo do mal do jet lag, estou enviando este texto que vale por milhares dos que pululam por aí. Trata-se de uma coluna ambidestra, pois simultaneamente falarei soberbamente de futebol e brindarei meu seleto público com citações de alta cultura. Preparai-vos e babai-vos, ó insignificantes detratores capitaneados por FC e seu vil cerebelo!

Como tenho uma visão além do alcance, a exemplo da espada justiceira de Lion, já havia antevisto as vitórias de Alemanha, Equador, Inglaterra, Argentina, Holanda (sobre dois países: Sérvia e também Montenegro), México e Portugal, além do empate entre suécios e trinido-tobaguenses. Ou seja, nada de novidade para este escriba, que hoje pôde parafrasear importante personagem do cerebral Carangos e Motocas e dizer a todos os colegas jornalistas: “Eu te disse, eu te disse!”

Sobre o dia da abertura da Copa, talvez nada tenha a acrescentar do que foi visto na TV. Nasceu bonito o dia em Munique, cidade em que passei parte de minha cosmopolita infância. Eu costumava pular o muro de Berlim para roubar mangas. Nosso vizinho Berlim, homem grosso e ranzinza, saía furioso e nos afugentava de seu quintal. Ai, que saudade!

Estaria fazendo um céu de brigadeiro, não fosse a falta de chocolate granulado no mercado mundial de commodities. Mesmo assim, fiz o sacrifício de ir ver a cerimônia. Pude rever um rapazinho negro que costumava engraxar meus sapatos. Ele subiu a um tablado, montado no centro do campo, ao lado de uma mulher loura. Quando ele ergueu uma espécie de escultura percebi o porquê de sua presença no palco da festa. Foi chamado para dar uma polida no objeto, que, tenho certeza, deve fazer parte da decoração da casa da moça.

Aproveitando o clima esportivo, não poderia terminar sem destilar mais uma citação de alto nível cultural: “Medalha, medalha, medalha!”

sábado, junho 10, 2006

TRECHO DE "A CONFRARIA DOS HOMENS DE BEM"

NO TRECHO ABAIXO, CONFIRA A DESCRIÇÃO DE UM DOS "SERVIÇOS DE LIMPEZA" PROMOVIDOS PELA CONFRARIA:

"O pai foi um daqueles imigrantes italianos que chegaram ao Brasil tendo como propriedade apenas a roupa do corpo. Sua bagagem era invisível: sofrimento, generosidade, sabedoria e a paixão pelo futebol. “Não fui para os Estados Unidos perché lá non tem calcio”, costumava dizer o velho Vicenzo. Pelo menos esta última característica Carlo Antognoni herdou do pai, que o conduzia pelo braço para assistir aos jogos do antigo Palestra Itália, fossem eles realizados no Pacaembu ou em qualquer outro estádio. As décadas passaram, o Palestra tornou-se Palmeiras, mas a paixão de Carlo não arrefeceu. Naquela noite, como sempre fizera, juntou-se aos aficcionados de todas as classes sociais que dividiam as arquibancadas do estádio do Morumbi. Carlo enriquecera: era dono de um daqueles pequenos bancos sem agência, mas que fazem fortunas no mercado financeiro. Mesmo assim não migrara para os reservados lugares destinados aos mais bem aquinhoados. Justificava-se declarando que aquelas arquibancadas, aquela maioria de gente simples não permitiam que a memória de seu pai morresse. Era como voltar ao passado, como se o velho Vicenzo estivesse ali do lado.

Era noite de clássico. Palmeiras e Corinthians. Carlo Antognoni foi sozinho ao estádio. Seus filhos não gostavam de futebol. Onde já se viu uma coisa dessas? Afinal, de que eles gostavam? Para que pensar nisso naquele momento? Havia coisas mais importantes com que se preocupar: coisas como o jogo, que estava para começar. Espremido entre outros torcedores de seu time, Carlo, com a camisa verde e branca do Palmeiras, liberou seu arsenal de impropérios contra o árbitro, seus auxiliares e os adversários assim que a bola começou a rolar. A todo momento levantava-se e voltava a sentar-se. Tudo estava fadado a correr normalmente. Carlo prosseguiria em sua liturgia de torcedor anônimo até o final da partida e iria embora para casa: alegre, frustrado, nervoso ou inconformado, de acordo com o resultado do jogo. Mas nem tudo correu normalmente.

A todo instante vendedores de sorvete, amendoim, pipoca, cerveja passa­vam na frente do banqueiro. Este apreciava apenas o último item. Um desses comerciantes resolveu parar, tapando a visão de Carlo, que reclamou. O ra­paz, moreno, forte, pediu desculpas e abaixou-se com sua caixa de isopor. Vendia sorvetes. Ali ficou, em que pese sua presença atrapalhar o ir e vir de seus colegas e o conforto do público. Levantou-se somente quando quase metade do estádio também fez o mesmo: o Palmeiras marcara um gol. Evidente­mente Carlo foi um dos que se levantaram em júbilo. Agitava os braços e o­lhava para o céu, como se agradecesse a algo ou alguém a graça recebida. Desse modo não teve como notar que o vendedor de sorvete retirara um pequeno punhal de sua caixa afinal desprovida de sorvetes. Sorriso no rosto, grito de gol na garganta, mão esquerda nas costas do banqueiro, trazendo-o para junto de si como se quisesse partilhar sua euforia, o rapaz cravou a lâmina na barriga de Carlo, trazendo-lhe a cabeça para seu peito, com o objetivo de abafar qualquer som. Tudo muito rápido, impercebido. Colocado novamente o punhal na caixa, o falso vendedor fez com que Carlo, já sem forças para gri­tar de dor ou por socorro, se sentasse; e sumiu na multidão. O filho do sau­doso Vicenzo expirou com as mãos sobre o ferimento.

Passado o entusiasmo daquele momento tão esperado, as pessoas retorna­ram aos seus lugares. Pouco depois o espectador que se sentava do lado es­querdo do banqueiro explodiu de irritação. Que história era aquela daquele velho ficar se apoiando em seu ombro? “Desafasta, vovô!”, teria gritado o rapaz. O “vovô” foi empurrado e caiu sobre os ombros do espectador à direi­ta. Foi então que notaram que havia algo errado. Vertia sangue da região abdominal de Carlo, manchando sua camisa e sua calça. O líquido escorreu pelo concreto, indo formar uma poça aos pés de Antognoni. Ao verde e ao branco de sua camisa juntou-se um inesperado vermelho, numa póstuma e irôni­ca homenagem à Itália do velho Vicenzo".

Caso alguém - certamente vítima de insanidade temporária (ou definitiva) - tenha vontade de ler a obra completa, há diferentes meios de se atingir tal objetivo:

À direita há um link para o site da Papel & Virtual Editora, bem na página em que o livro está à venda. Caso queira receber por e-mail, em PDF, há uma taxinha simbólica de R$ 5,00. Eu mesmo mando o livro para seu endereço eletrônico.


Meu e-mail é franciscocabral@gmail.com

sexta-feira, junho 09, 2006

COPA DO MUNDO: DIRETO DA BOLA DE CRISTAL

Faltam poucas horas para o início da 18ª Copa do Mundo. E, diante de insistentes pedidos (que ninguém fez de fato, mas deve ter pensado), coloco minha cara a tapa e apresento a todo o planeta minhas previsões para o mundial da Alemanha.

PRIMEIRA FASE

GRUPO A: Aos trancos e barrancos a Alemanha vai terminar em primeiro, mas com um futebolzinho do tamanho do meu salário, coitada. Em segundo vai dar o Equador, não pelos méritos do país andino - que são escassos -, mas pelo, digamos, excesso de incompetência de Polônia e Costa Rica.

GRUPO B: A Inglaterra não terá muitas dificuldades para terminar na frente. A surpresa, pelo menos para os europeus, é que o envelhecido Paraguai vai superar a Suécia e ficará com a segunda vaga.

GRUPO C: A Argentina vai ficar na primeira posição desta chave, mesmo tendo de encarar partidas duríssimas. Assim, das duas uma: vai passar por essa prova de fogo e fazer uma grande Copa a partir das oitavas-de-final ou vai jogar as fases eliminatórias no bagaço, esgotada devido ao esforço inicial. Em segundo, por muito pouco, talvez no saldo de gols, chega a Holanda.

GRUPO D: Com alguma dificuldade a seleção portuguesa conseguirá se classificar em primeiro. Para a maioria, a outra vaga da chave é do México, mas não me surpreenderei se o Irã desbancar os mexicanos, que são mestres em amarelar nos momentos decisivos. Mas vai acabar dando México mesmo...

GRUPO E: A convulsão por que passa o futebol italiano tirou um certo favoritismo dos tricampeões mundiais neste grupo. Mas os italianos vão se classificar ao lado da República Tcheca. A ordem de chegada será definida no dia 22 de junho, quando a Itália e os tchecos vão se matar para não chegar em segundo e ter de enfrentar o Brasil nas oitavas. Vai sobrar para os eslavos.

GRUPO F: Com muita facilidade o Brasil vai papar a chave. O pega-pra-capar fica reservado para a luta pela segunda posição. Minha torcida é pelo Japão de Zico, mas Croácia e Austrália estão em condições de igualdade com os nipônicos. Não estou nem aí: vai dar Japão.

GRUPO G: A barbada está no campeão do grupo. Mesmo sem apresentar um bom futebol, a França abiscoitará a primeira colocação. Zidane não vai brilhar em mais que dois ou três lances, será quase sempre substituído na metade do segundo tempo, mas vai bastar para ajudar Les Bleus a avançar na Copa. No segundo lugar, surpresa: classificação para a Coréia do Sul.

GRUPO H: Espanha seguida da Ucrânia e não se fala mais nisso.

OITAVAS-DE-FINAL

A Alemanha vai vencer o Paraguai por um mísero gol de diferença.
A Inglaterra vai passear sobre a linha do Equador.
A Argentina vai mandar o México mais cedo pra casa pela semprésima vez.
Portugal x Holanda vai pros pênaltis. E o time do Felipão vencerá.
Infelizmente, a Itália vai despachar o Japão. Mas roubado!
O Brasil vai enfrentar alguma dificuldade no início, mas terá uma vitória tranqüila - controlando o jogo - sobre a República Tcheca.
Na prorrogação - e caindo aos pedaços - a França passará pela Ucrânia.
A Espanha vai se vingar da Coréia do Sul, que eliminara a Fúria com a ajuda do juiz em 2002.

QUARTAS-DE-FINAL

Alemanha x Argentina. Que jogão! Os donos da casa vão sambar. Ou, no caso, tangar.
A Itália vai se aproveitar das más condições físicas da França e terá a revanche de 1998.
Felipão contra os ingleses de novo, como em 2002 (Copa, com o Brasil) e 2004 (Eurocopa, com Portugal). Mas desta vez a Inglaterra é que vai despachar o time de Scolari.
Depois de abrir alguma vantagem, o Brasil vai levar uma pressãozinha da Espanha. Mas não correrá riscos.

SEMIFINAIS

Como em 1990, Argentina e Itália decidem vaga para a final. Jogo duríssimo. Empate no tempo normal. Nos pênaltis, mais uma vez os italianos tremerão. Hermanos en la decisión!
Já o Brasil pega uma superconfiante Inglaterra. A falta de poder de marcação do meio-campo inglês se revelará fatal para os planos dos súditos da rainha. O Brasil deve vencer por dois ou três gols de diferença.

FINAL

Uma inédita final de Copa do Mundo. A maior rivalidade do futebol mundial finalmente tem o palco que merece. Brasil e Argentina repetem o feito de 1930 e reeditam uma decisão de Copa totalmente sul-americana. No primeiro mundial deu Uruguai 4 a 2 sobre os argentinos. Em dia inspirado dos dois Ronaldos, de Adriano e Kaká, nossos brilhantes rivais não têm a menor chance. É chocolate, como na final da Copa das Confederações de 2005.

Brasil é hexa, com Ronaldo e Adriano empatados na artilharia do mundial (sete gols cada), novo recorde para o primeiro - maior artilheiro da história das copas, com 19 gols -, título de melhor jogador do mundial para Kaká, mas com honrosa menção às jogadas geniais de Ronaldinho Gaúcho. O capitão Cafu entra para o panteão dos deuses do ludopédio ao emplacar sua quarta final consecutiva, ganhar seu terceiro título e, como capitão, erguer, também de forma inédita, a taça em duas oportunidades.

O feito brasileiro se repetirá na África do Sul em 2010 - pois os europeus só vencem em seu próprio continente - e na Copa de 2014, que o Brasil vai sediar.

O quê? Quer saber quem vence a decisão do terceiro lugar? Não vou falar. Quem se importa com um jogo tão melancólico quanto desnecessário? Não vou desperdiçar meus poderes prevendo uma coisa tão chata.

quinta-feira, junho 08, 2006

A HISTÓRIA DE UM ESCRITOR. REJEITADO...

Sim, já cometi alguns livros. Tudo começou em 1994, se não me engano. Com 25 anos comecei a escrever meu primeiro... aham... livro. O Partido do Indivíduo. Não recomendo a ninguém. Se depender de mim, vai ficar inédito para sempre. Vá por mim. Não vale a pena.

A primeira versão, muito extensa, daria umas 600 páginas. Cortei para menos de 400 e mesmo assim achei que continuou enfadonho, pretensioso, insosso. Fiz uma terceira versão, com cerca de 200 páginas e outro nome: A Era Canto - ou como o Brasil deixou de ser o que era. Só o subtítulo já serve para afastar um fã pago. Não. Definitivamente essa história tem que permanecer escondida. Ela conta a trajetória de uma rapaz dotado de um carisma quase sobrenatural que acaba ingressando na vida política e chega até, muitos anos depois, à presidência da República. Paralelamente à história do sujeito, de sobrenome Canto (daí o título da terceira versão), o texto é recheado de citações filosóficas, políticas e de excertos de artigos de autores fictícios, discursos dos personagens e diálogos metidos a besta. Ou seja, uma imensa colcha de retalhos. Malcheirosa.

Depois escrevi Cesalpínia. Gostei mais do resultado final. A exemplo do primeiro livro, cheguei a enviar os originais a várias editoras do eixo Rio-São Paulo. Evidentemente, como acontece com 99,99% dos autores iniciantes, recebi - quando recebi - cartinhas bem-educadas lamentando a impossibilidade de publicação da obra devido ao 1) “nosso calendário de publicações já estar pronto para este ano”; 2) “tema não se encaixar em nenhuma das nossas linhas editoriais”; 3) “fato de não podermos arriscar com autores desconhecidos, pois o mercado editorial passa por uma série crise”.

Pelo menos algumas editoras devolviam os originais, aqueles trambolhões encadernados com espiral.

Cesalpínia conta duas histórias. Fala da desconhecida história de uma pequena nação literalmente escondida no Brasil e colonizada na mesma época que a gente. Só que a Cesalpínia (o nome vem da denominação científica do pau-brasil) foi habitada e construída por portugueses diferentes, por uma gente que transformou o lugar num paraíso em termos de qualidade de vida e desenvolvimento humano individual. Era uma terra de altíssimo FIB per capita. O que é FIB? É Felicidade Interna Bruta.

Por isso os portugueses dominantes e, depois, os já independentes brasileiros resolveram esconder o país do resto do mundo e dos outros habitantes de nossa maltratada pátria. Afinal, não ficaria bem para os poderosos que se começasse a fazer comparações. Não faria nenhum bem às oligarquias de sempre que o populacho descobrisse que outro mundo é possível, que existe uma forma diferente de tocar a vida, os negócios, o Estado...

Simultaneamente é contada a luta do representante da Cesalpínia no Brasil - uma espécie de embaixador secreto - para tentar tirar seu país do ostracismo, para acabar com a absurda situação. E como sofre o rapaz. Basicamente nas mãos do funcionário do governo brasileiro destacado para manter o status quo. No meio do caminho, descobre-se que há outras nações escondidas por aí. Ou tudo não passa de enganação ou delírio?

Enquanto ainda recebia negativas das editoras em relação a Cesalpínia, terminei de escrever A Confraria dos Homens de Bem. Algumas novas negativas depois, resolvi me render. Decidi pagar para ser publicado. Em 2001 descobri a Papel & Virtual Editora, que mediante um módico valor publica sua obra em duas modalidades: digital e impressa. A primeira custando a metade da segunda. Até hoje não recebi nenhum extrato da empresa - muito menos um depósito em minha conta -, mas pelo menos um livro sei que vendi. Uma das minhas irmãs comprou. Valeu, Nilma!

A Confraria é uma organização suprarreligiosa, suprapartidária, supraideológica - supratudo! - formada por médicos, delegados, engenheiros, padeiros, padres e membros de outras categorias (profissionais ou não) com a finalidade de acabar com a corrupção no Brasil. Seria um gesto até que louvável não fosse por um detalhe: eles optaram por eliminar, fazer sumir da face da Terra, os agentes da corrupção, fossem eles empresários, políticos ou qualquer outra pessoa.

Um jornalista ambicioso e de caráter um tanto quanto, digamos, difícil descobre tudo por acaso e, corrompido pelos confrades, aceita ficar de bico calado. Mas, ao corromper o repórter, eles não estarão agindo exatamente como aqueles que são por eles combatidos? Muito sofrimento à vista para o protagonista, o tal jornalista. Pra variar, muita filosofia, muito debate sobre a condição humana nos diálogos, com direito ao aproveitamento de alguns trechos de diálogos do renegado O Partido do Indivíduo. É, alguma coisa parece que se salvou daquele livro.

Em 1999, enquanto ainda escrevia A Confraria, fui compelido pela família a participar de um concurso de literatura infanto-juvenil da Agência de Cultura do governo do estado de Goiás. Aceitei o desafio.

Literatura infanto-juvenil... O que escrever, como escrever? Meu irmão deu a idéia: um disco voador cai numa fazenda e... A partir daí era comigo. Leitor de histórias em quadrinhos desde sempre, fã de filmes e séries de ficção científica, resolvi criar uma história que eu teria prazer em acompanhar. Assim surgiu O Amigo de Praga, que é, sim, uma obra infanto-juvenil, mas também adulta, senil, só juvenil, só infantil, “adolescentil”... Tentei usar uma linguagem que fosse palatável a todos e que não menosprezasse a inteligência de ninguém.

Talvez tenha funcionado, pois em 2000 recebi um telefonema avisando que eu tinha ficado em primeiro lugar no júri formado por professores universitários e por um escritor. Como prêmio, mil cópias da obra foram publicadas em ótima edição e excelente acabamento. Fiquei com 600 exemplares e os outros 400 foram distribuídos para bibliotecas de escolas públicas do estado.

Por enquanto, esta é minha história literária. Desde 2000, quando retornei ao jornalismo, não escrevi mais nenhum livro, embora idéias continuem a pulular aqui e ali pelo meu cérebro doentio. O que falta é organizar melhor minha rotina para voltar a cometer mais desses crimes de lesa-literatura.

Nos próximos posts colocarei no ar trechos dos meus livros, pois é impraticável postar os textos inteiros. Cara-de-pauzismo ou muita coragem de tornar público o que talvez deva ficar enterrado sob quilômetros cúbicos de terra?

quarta-feira, junho 07, 2006

LITERATURA: NÃO-DICA DO DIA

Propus-me, semanalmente, a postar por aqui uma dica de livro. O primeiro foi Os Demônios, de Dostoievski. Enquanto não chega o dia de dar a segunda dica de boa leitura, faço hoje o oposto, ou seja, dou uma não-dica: falo de livros que eu não leria de jeito nenhum e não recomendaria nem ao meu pior inimigo (o Aristóteles Omorris?).

Então vamos lá: não leiam O Código Da Vinci, Paulo Coelho, Harry Potter... Melhor parar por aqui senão vão se esgotar as não-dicas em uma só postagem.

terça-feira, junho 06, 2006

MÁXIMAS ANTES DE DORMIR

- Pelas costas, ninguém é diplomata.

- A morte é um descanso do qual não se desfruta.

- Todos os tiranos estão mortos. Especialmente Napoleão.

- A religião é uma filosofia que se recusou a evoluir.

- Esqueceram de dar a última refeição ao condenado à morte. Ele morreu de fome.

domingo, junho 04, 2006

HUMOR: ARISTÓTELES OMORRIS

As agruras de um enviado

Por Aristóteles Omorris

De Frankfurt

É com muito rancor e ódio no coração que - por ocasião da cobertura especial e bloguesca da Copa do Mundo - volto a trabalhar com o ser desprezível e miserável chamado Francisco Cabral. Esta é a segunda e - tomara Deus - última vez que nossos caminhos se cruzam.

A primeira aconteceu há mais de seis anos, quando a horrenda criatura retirou-me de meu merecido e nababesco ostracismo nas ilhas gregas da Baviera francesa para que eu passasse a fazer parte dos quadros do jornal Folha do Sudoeste, do qual FC era - e desgraçadamente ainda o é - editor.

De muito bom grado aceitei o convite, especialmente pelo passado em comum com os proprietários de tão prestigiosa instituição jornalística. (Nota do titular do blog: Aristóteles Omorris limpou algumas vezes as fossas da casas dos donos do jornal)

Mas se eu soubesse o tipo de tratamento que viria a ter nas mãos de tão virulento jornalista, jamais teria aceitado voltar às lides comezinhas do trabalhar-para-viver, mesmo tendo sido outroramente freqüentador das residências dos dignos proprietários do jornal editado pelo supracitado energúmeno.

Logo na primeira vez que lhe entreguei meu texto quase-semanal, FC - visivelmente vermelho-arroxeado de inveja - disse que precisaria operar algumas alterações em minha coluna. Sob a falsa alegação de que nada do que estava escrito podia ser entendido, solicitou-me que explicasse o que eu queria dizer com cada frase, cada palavra, cada vírgula.

A estranha criatura chegou a implicar com a seguinte - e inspirada - frase: “Hoje está tão quente que tenho vontade de emergir ou mergulhar na água”. Colérico, histérico, apoplético e espumante, o editor disse calmamente: “Emergir e mergulhar significam a mesma coisa”. Para completar o ritual de humilhação, indagou-me, triunfante: “Você já ouviu falar de sinônimo? Acho que nem adianta lhe perguntar de antônimo”.

Ora, ora, ora! Isso é pergunta que se faça a um ser superior como eu? Somente alguém inteiramente ignorante e alienado não teria conhecimento de minha sublime existência. Se me conhecesse não teria se dirigido a mim nesses termos. O apedeuta simplesmente não sabia que eu conhecera pessoalmente não apenas Sinônimo e Antônimo, mas também o outro componente do trio Ônimo, o grande Jerônimo. Fui até padrinho de casamento de um deles!

Que o Diabo lhe carregue, FC! Esta coluna de estréia em seu famigerado blog era para eu falar das minhas primeiras impressões sobre a Alemanha, para onde vim enquanto enviado especial para cobrir a Copa do Mundo. Mas eu precisava desabafar, mostrar a todo o mundo o tipo de pessoa com quem estou trabalhando.

Nem sei por que voltei a escrever meus iluminados textos para ele. Talvez um depósito de dois milhões de dólares em minha conta tenha ajudado, sei lá...

sábado, junho 03, 2006

BRASILEIRÃO: DIVISÃO PRIMEIRA, FUTEBOL DE TERCEIRA

Estão vendendo gato por lebre. O que é oficialmente chamado de Campeonato Brasileiro da Série A não passa de uma disputa equivalente ao nível de terceira divisão nacional. Esta tese pode ser comprovada pelos números da própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Segundo o site da CBF (www.cbfnews.com.br), mais de 2 mil jogadores brasileiros estão atuando no exterior, espalhados por todos os continentes. Considerando-se que muitos desses são aventureiros ou medíocres inocentes levados por empresários inescrupulosos, admitamos que pelo menos uns mil tenham sido levados para fora do país devido a sua capacidade técnica.

Pois bem, esses mil ótimos e bons atletas poderiam estar abastecendo todos os 40 clubes que compõem as séries A e B do Brasileirão – 20 times em cada divisão, no modelo atual –, levando-se em conta que cada equipe conte com um elenco de vinte e poucos profissionais.

Logo, se nossos principais atletas, aqueles que estariam jogando pelas duas principais divisões do futebol tupiniquim, estão longe da terra natal, o que nós estamos acompanhando, o campeonato que mostra Cruzeiro, Santos, São Paulo, Fluminense, Inter e Goiás em feroz disputa pelo título, verdadeiramente não passa de uma terceira divisão brasileira. E o Atlético Mineiro e o Coritiba? Estão na quarta divisão de fato.

Que torneio teríamos se nossos clubes contassem com as maiores estrelas verde-amarelas em seus elencos? Quem seria favorito num campeonato em que o Flamengo tivesse Ronaldo, Juan, Cafu, Adriano e Gilberto Silva? Em que o Corinthians jogasse com Dida, Lúcio, Zé Roberto e Ronaldinho Gaúcho? Em que o Vasco escalasse Roberto Carlos, Robinho, Rivaldo e Fred? Em que o São Paulo alinhasse com Edmilson, Juninho Pernambucano, Emerson e Kaká? Em que o Cruzeiro recrutasse Luís Fabiano, Júlio Baptista, Fábio Luciano e Ricardo Oliveira? Em que o Grêmio ostentasse França, Edu, Silvinho e Cicinho?

Se não fôssemos uma economia esportiva exportadora de craques, teríamos o melhor campeonato do mundo, um espetáculo da proporção de uma NBA (a liga profissional do basquete norte-americano). Mas a atual situação vai perdurar enquanto o Brasil for um “país em desenvolvimento” – eufemismo criado para substituir o adjetivo “pobre”.

Assim como outros profissionais, nossos jogadores vão para onde houver maiores oportunidades de ganho financeiro. Europa, Coréia do Sul e Japão, com renda per capita em alguns casos até 10 vezes mais alta que a brasileira, ainda vão continuar por muito tempo detendo o melhor de nosso pé-de-obra, enquanto nós – pobretões do terceiro mundo, com enorme dívida externa e gente passando fome – continuaremos por aqui fazendo de conta que temos um campeonato de primeira.

MÁXIMAS QUE NÃO SÃO O MÁXIMO

De vez em quando vêm umas coisas à cabeça. Se ninguém chiar, vou continuar a desovar por aqui frases como estas:

- Se Deus existisse, não aconteceriam tantos acidentes com ônibus e caminhões de romeiros.

- Para ser um bom ateu, é preciso conhecer Deus na intimidade.

- Quer ser ateu? Então conheça a fundo as religiões.

- A ignorância é parteira da covardia.

- O bem é um mal necessário.

- O juro é o preço que pagamos por não termos dinheiro.

- Enfim, um velho à moda antiga.

quinta-feira, junho 01, 2006

LITERATURA: EDITORA 34 DEVE SER CULTUADA PELOS LEITORES DE BOM GOSTO

Fãs de Dostoievski - e da boa literatura em geral - há décadas vinham tendo dificuldades para encontrar o livro Os Demônios em português. Há alguns anos, a editora 34 lançou a coleção Leste, com traduções diretas do original de obras de autores eslavos. Assim, os leitores brasileiros puderam, enfim, conhecer a engenhosa literatura do tcheco Karel Tchápek, que, com suas Histórias Apócrifas, cunhou o termo robô.

Várias obras-primas depois, a editora ressuscitou Os Demônios, repetindo o ótimo trabalho feito com a republicação de Crime e Castigo, a obra mais conhecida de Dostoievski, ao lado de Os Irmãos Karamazov.

Vale a pena saber mais sobre o livro menos conhecido do grande escritor russo. Confira abaixo o texto publicado na Wikipédia.


"As obras dos grandes escritores russos começaram a receber um cuidado especial. Para quem gosta de Fiódor Dostoievski (1821-1881), uma fonte segura de leitura são as novas edições da editora 34, que estão sendo traduzidas direto dos originais russos. A grande maioria das versões que tínhamos no Brasil eram feitas das versões francesas que, tiram muito da forma crua e direta da escrita de Dostoievski e também dos demais escritores. Isso é um grande problema dos livros que passaram por versões francesas, eles sempre davam uma 'romanceada' no que eles não achavam poeticamente perfeito.
Além dessa alteração na fonte, algumas versões brasileiras também foram alteradas para manter uma ordem poética. Isso acontece muito com traduções feitas por escritores ou poetas brasileiros. Mas dessa vez, a tradução de toda a obra de Dostoievski pelo menos, ficou por conta de Paulo Bezerra, que estudou a Literatura Russa em Moscou e se especializou em traduções das obras russas.
A obra em si é uma peça controversa. Muitos pensam que Os Demônios é uma obra panfletária, um protesto do escritor feito em decorrência de um acontecimento que ele ficou sabendo através da imprensa. Um jovem da época, fora assassinado por um dos grupos revolucionários da época, Netchaiev é uma figura cuja importância transcende esse crime: foi autor, juntamente com Mikhail Bakhunin, do Catecismo do Revolucionário, espécie de guia-mestre do terrorismo internacional, inspiração confessa de Carlos, o Chacal e Che Guevara. Mas a questão toda não é o simples assassinato, do grupo niilista de 1869 ter matado esse membro do próprio grupo.
Uma obra que é considerada por alguns uma obra menor, exatamente pelo seu caráter panfletário, mas ao ler, o mesmo tema jornalesco como dizem alguns, toma uma visão muito mais densa do que a simples revolta de um homem perante uma morte banal. O que move as pessoas à tomarem atitudes erradas e que as levam à continuar na trilha do erro indefinidamente? Aqui vemos o claro exemplo da prepotência de um dos integrantes que, à partir de suas convicções toma diversas atitudes, aflorando o demônio interior, indo numa estrada que só vai levá-lo à mais mortes e atitudes erradas, em prol de sustentar sua teoria, que já se demonstra errada.
Traduzido pela primeira vez como Os Possessos no Brasil, agora como Os Demônios, podemos traçar essa linha de pensamento, da pessoa se tornar o Demônio e dominar os demais do grupo, possuindo-os. A perspectiva muda totalmente, vemos que o livro não se trata de todos os personagens serem submissos, e sim um que não vê a maldade nos seus atos e consegue levar alguns pela mesma convicção.
O livro começa de maneira confusa, sinceramente dá até vontade de parar, mas isso é um mero engano, logo depois uma rede de personagens começa a entrar em cena, e compor o cenário da obra que vai, através de algumas histórias paralelas, fundir num final espetacular e ligar os vários estratos da sociedade: aristocracia, burguesia e um pobre professor naturalista.
A volta do filho de Varvara, Nikolai, é o ponto de início de uma trama louca. Até antes, vemos Varvara, uma aristocrata um tanto quanto burra, e o professor universitário Stiepan, que através de uma relação de sustento financeiro se envolve com Varvara. Nikolai é um rapaz um tanto quanto inconseqüente, que voltou do estrangeiro e seduz as mulheres nos salões e possui atitudes estranhas com os homens. Sua primeira ação em uma das festas da sua mãe foi morder a orelha do governador e puxar num outro momento um homem pelo nariz e não se desculpar. Ele mesmo dizia: “Sempre posso desejar fazer o bem e sinto prazer com isso; ao mesmo tempo, desejo o mal e também sinto prazer. Mas tanto um quanto o outro continuam mesquinhos demais.” Essa atitude causa estranhamento em uns mas atrai a atenção de Piotr, filho de Stiepan, personagem principal de toda a tragédia. Após vários encontros,ele e Nikolai integram um grupo revolucionário niilista, com várias reuniões secretas e discussões de temas e atuações. Pior sempre dizia que existia uma rede de grupos que entrariam em ação no momento exato, para que o movimento fosse fulminante. Mas aparenta que essa rede terrorista nunca existiu, mas é algo que Piotr sustenta e um dos pontos de sua personalidade que se mostra. A intransigência.
Um dos teóricos mor do movimento, Chigalióv tem como proposta: 'Como solução final do problema, dividir os homens em duas partes desiguais. Um décimo ganha liberdade de indivíduo e o direito ilimitado sobre os outros nove décimos. Estes devem perder a personalidade e transformar-se numa espécie de manada e, numa submissão ilimitada, atingir uma série de transformações da inocência primitiva'.
A intransigência do grupo, e a nivelação de todos os seres humanos, é uma das propostas radicais do grupo, Piotr propõe que a solução é o assassinato para se chegar ao nível da igualdade. Desce o nível da educação. 'Os talentos superiores (...) serão expulsos e executados. A um Cícero corta-se a língua, a um Copérnico furam-se os olhos, a um Shakespeare mata-se a pedradas'. E também acrescenta: 'O tédio é uma sensação aristocrática; no chigaliovismo não haverá desejos. Desejo e sofrimento para nós, para os escravos, o chigaliovismo'.
No meio da trama, aparecem dois personagens que serão marcantes nas tomadas de decisão do resto do livro. Kirilov e Chátov. Kirilov não acredita em Deus e sim na divindade do homem, pensa que no mundo só há sofrimento e vê no suicídio a forma de se tornar Deus. Desde o momento que ele domina totalmente o seu destino e não deixa nas mãos de um ser que ele não acredita. Chátov por sua vez é religioso, e vê a Rússia como a salvadora de toda a corrupção do ocidente e questiona sempre Kirilov sobre suas convicções. Mesmo ele sempre procurando Deus e não encontrando, ele continua na sua fé.
O livro é uma sucessão de atitudes, tomadas segundo as posturas de cada um dos personagens. Piotr é um ser mecânico, sem autonomia e faz tudo pela causa.
Dostoievski trás com essa obra a questão do terrorismo antes mesmo dele participar da vida cotidiana de sua época. A questão de uma 'lógica' nas atitudes desses grupos e como eles propõe, de maneira radical, suas idéias. É um livro completamente político, mas que não perde as características das suas demais obras clássicas, como O Idiota, Crime e Castigo e Irmãos Karamazov. O sombrio de cada personagem continua ali, e outra característica interessante no livro é a postura de Dostoievski de, alfinetar personalidades de sua época através de alguns personagens de Os Demônios".

FUTEBOL: O ESQUADRÃO DO TERROR

Alguns posts abaixo, escalei minha Seleção ideal, com la créme de la créme do futebol pátrio. Agora faço exatamente o oposto e desovo um time muito perigoso. Perigoso matar todo mundo do coração. Confira por quê:

Clemer (Inter); Coelho (Corinthians), Fernando (Flamengo), Betão (Corinthians) e Fábio Santos (São Paulo); Cocito (ex-Atlético-PR), Cristian (Palmeiras) e Léo Lima (Santos); Bobô (ex-Corinthians), Obina (Flamengo) e Geílson (Santos). Técnico: Sebastião Lazaroni.

Aceitam-se sugestões. Quem você incluiria no time usuário de óleo de peroba nas canelas?

CINEMA: BELEZA NO CAOS

Uma dica de filme, simplesmente o melhor de todos os tempos em minha modesta e insignificante opinião. Apocalypse Now está na 38ª posição no ranking dos melhores filmes de todos os tempos do site norte-americano IMDb (The Internet Movies Database). A página recolhe notas de internautas de todo o mundo e publica as médias.

Outros dois filmes de Francis Ford Coppola, o diretor de Apocalypse, estão em primeiro (O Poderoso Chefão) e em terceiro lugar (O Poderoso Chefão 2). Mas Apocalypse é superior, não só por ter se inspirado no clássico No Coração das Trevas, do escritor anglo-polaco Joseph Conrad. O filme também é magistral nos quesitos fotografia, escolha de elenco, atuação dos atores, trilha sonora, diálogos e ritmo.

Um filme de guerra diferente. Ele mostra que a maior de todas as batalhas está dentro de nós.




FICHA TÉCNICA

Título Original: Apocalypse Now
Gênero: Guerra
Tempo de Duração: 148 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1979
Estúdio: Zoetrope Studios
Distribuição: United Artists
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola eJohn Milius, baseado em romance de Joseph Conrad
Produção: Francis Ford Coppola
Música: Carmine Coppola, Francis Ford Coppola e Mickey Hart
Direção de Fotografia: Vittorio Storaro
Desenho de Produção: Dean Tavoularis
Direção de Arte: Angelo P. Graham
Figurino: Charles E. James
Edição: Lisa Fruchtman, Gerald B. Greenberg, Richard Marks, Walter Murch e Randy Thom


Elenco:
Marlon Brando (Coronel Walter E. Kurtz)
Robert Duvall (Tenente-coronel Kilgore)
Martin Sheen (Capitão Benjamin L. Willard)
Frederic Forrest (Chefe)
Albert Hall (Chefe Phillips)
Sam Bottoms (Lance Johnson)
Laurence Fishburne (Sr. Clean)
Dennis Hopper (Fotógrafo-jornalista)
G.D. Spradlin (General Corman)
Harrison Ford (Coronel Lucas)
Jerry Ziesmer (Civil)
Scott Glen (Colby)
Francis Ford Coppola (Diretor de TV)


Sinopse:
Capitão (Martin Sheen) tem a missão de encontrar e matar coronel (Marlon Brando), que aparentemente enlouqueceu e se refugiou nas selvas do Camboja, onde comanda um exército de fanáticos.

FUTEBOL: QUADRADO É O PARREIRA

O chamado Quadrado Mágico para iniciar a Copa do Mundo é formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano. Sua adoção representa uma verdadeira revolução, pois o técnico Carlos Alberto Parreira sempre foi conhecido por seu, digamos, excesso de cautela e conservadorismo. Com pequenas variações em sua composição, o Quadrado vem sendo utilizado há mais de um ano. Com sucesso.

Mas não tenham dúvida que, ao primeiro sinal de perigo, Parreira vai ressuscitar o Triângulo Trágico, ou seja, vai voltar a jogar com três volantes e tirar um dos componentes do quarteto ofensivo.

O que pode configurar um sinal de perigo, na cabeça do treinador canarinho? Talvez um empate com a Croácia no primeiro jogo (ou mesmo uma vitória por 3 a 2 ou 4 a 3), perda de pontos para Austrália ou Japão, defesa muito exposta ou contusão de um dos "mágicos".

Na verdade Parreira parece estar torcendo pelo surgimento de um pretexto para tornar o time mais defensivo. Mas o Barcelona, que este ano faturou o Campeonato Espanhol e a Liga dos Campeões da Europa, provou que um time, para ser equilibrado e seguro, não precisa congestionar o meio-campo com volantes.

O time de Frank Rijkaard joga no velho 4-3-3 e, em muitas partidas, usou apenas um volante e cinco jogadores de vocação ofensiva. Isso mesmo: um quinteto, ainda que não-mágico. Mas eficiente. E esse volante único não era um brucutu: tratava-se do habilidoso e refinado Xavi.

E o time ficou mais vulnerável atrás? Que nada! O Barça teve o ataque mais positivo e a defesa menos vazada do Espanhol, mesmo tendo na defensiva um goleiro inseguro (Valdez) e um zagueiro grosso e estabanado (Puyol).

Se não fosse tão orgulhoso e cabeça-dura, Parreira poderia simplesmente copiar o esquema de Rijkaard e escalar a Seleção num 4-3-3 em que, como no time da Catalunha, todos ajudassem na marcação.

E, já que estou por aqui, deixo minha Seleção ideal para um 4-3-3 à Barcelona: Rogério Ceni; Cicinho, Alex (PSV), Luisão e Roberto Carlos; Juninho Pernambucano, Kaká e Alex (Fenerbahçe - assim mesmo, com cedilha); Adriano, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Nenhum brucutu, nenhum grosso. Afinal, para marcar é preciso cercar, apertar. Isso qualquer craque pode fazer. A marcação serve para induzir o adversário ao erro. Esse negócio de matar a jogada com falta só dá chance ao rival de colocar em prática seus esquemas de bola parada.

Robinho seria meu 12º jogador, sempre revezando com esse pessoal da frente. Acho que valeria a pena pelo menos testar um time desses. No mínimo, ia ser bem divertido vê-lo em campo.