quarta-feira, dezembro 31, 2008

HORA DE REFORMA... ORTOGRÁFICA

A partir de amanhã, dia 1º de janeiro de 2009, este blog, extremamente a contragosto, passa a adotar a grafia que resultou de mais uma reforma ortográfica no velho e remendando português.

Mas as postagens antigas não serão "corrigidas", mesmo porque elas representam o retrato de uma época. Serão como relíquias arqueológicas, do tempo de uma língua portuguesa diferente, do tempo em que, diferentemente do que está chegando, ainda se usavam acentos diferenciais.

Já a partir de amanhã poderemos cometer pérolas do tipo:

- O pinguim, dotado de infraestrutura moderna, possuidor de um micro-ondas, mesmo com a asa na tipoia, aqueceu uma suculenta linguica. A assembleia, de pelos arrepiados, delirou.

- Não para, para não dizer que alguém sempre para para que os idosos passem.

- Coitada da jiboia... Além de não ter veneno, ainda lhe tiraram o acento.

terça-feira, dezembro 23, 2008

TRECHO DE "O PARTIDO DO INDIVÍDUO", LIVRO QUE JAMAIS SERÁ PUBLICADO

— Deputado, eu sou enviada da Berliner e o governo do meu país vê com preocupação sua política para os índios, cogitando até retirar seu apoio financeiro a projetos ambientais. Dizem ecologistas que o senhor pretende embranquecer os índios. É verdade?

— Não. E o governo de seu país pode ficar tranqüilo: eu amo a mãe na­tureza de uma forma, diria, edipiana. E os índios não são nossos inimigos: são habitantes deste país e devem ter os mesmos direitos e possibilidades dos outros. Por que não permitir-lhes mudar? Antes da existência do primeiro ecologista xiita, as culturas mesclavam-se sem culpa, os povos evoluíam pelo contato entre eles. O fato de nossos índios continuarem, aos olhos ociden­tais, primitivos deve-se unicamente ao congelamento do estreito de Behring. Se tivessem continuado na °sia, ou em algumas ilhas do Pacífico, teriam usu­fruído da mesma evolução por que passaram os chineses, os japoneses, entre outros. Evolução que veio do uso da roda, da tração animal e do contato com outros povos asiáticos e até europeus. Se os ecoxiitas existissem naquela época, não deixariam que os chineses passassem alguns de seus conhecimentos aos japoneses, por exemplo, congelando estes em seu atraso, como fazem com os índios atualmente. Já pensou o Japão uma imensa reserva indígena? Nossos índios são do mesmo ramo, do mesmo grupo étnico.

— Mas não há nenhuma intenção deliberada de retirar os povos da flo­resta?

— Não. Há a intenção de dar liberdade para quem queira entrar ou sair da floresta. Se dependêssemos dos ecoxiitas não estaríamos em constante evo­lução tecnológica, científica, pois, segundo sua lógica, progresso significa aniquilação. Ora, nós ocidentais já fomos escravagistas, já fizemos sacrifícios humanos, já fomos completos ignorantes no tratamento de doenças. Por que não dar também ao índio a chance de ter acesso ao que há de bom em nossa civilização? Cristãos, judeus e mulçumanos não desfrutam igualmente dos apa­relhos de ressonância magnética? Sendo este exame uma invenção ocidental, um japonês, para preservar sua identidade étnica, sua cultura, se recusaria a utilizá-lo? Pelo contrário, ele o usa, e o aperfeiçoa. E melhor: partilha esse aperfeiçoamento com o ocidente. Digo que se o estreito de Behring não tivesse derretido, os índios americanos teriam constituído um gigantesco Japão, com trocas de culturas pelo Pacífico e pelo Atlântico. Vamos fazer mais intercâmbios com os índios. Só isso. Se o governo de seu país não qui­ser repassar mais verbas, problema dele. No programa do PLI não está previs­ta a captação de recursos externos para aumentar a proteção e fiscalização sobre o meio ambiente. Esperamos fazer tudo com o que advier das reformas que pretendemos executar.

— Laszlo, na gritaria dos países ricos contra investimentos e explora­ção comercial da Amazônia não estaria escondido o desejo de fazer com que os países pobres permaneçam sempre pobres? Para que continuem sendo explorados por eles?

— Esse foi um dos grandes equívocos da esquerda. Não acredito que os países desenvolvidos queiram evitar o desenvolvimento dos outros. Estariam trabalhando contra si mesmos, pois quanto mais países ricos, mais mercados para eles, mais pessoas no mundo com poder aquisitivo para adquirir seus produtos. O que causa esse equívoco é o discurso dos líderes dos países de­senvolvidos, que nos encontros e conferências internacionais privilegiam o aspecto econômico, comercial, pois, teoricamente, já atingiram um nível sa­tisfatório de justiça social. E este é justamente o tema preferido dos mais pobres, sempre de pires na mão, esperando uma ajuda para acabar com a miséria. Essa divergência só aumenta o abismo social dos subdesenvolvidos. Creio que os ricos ajam assim involuntariamente, inconscientemente; mas com certe­za o fazem egoisticamente. Mas grande parte do problema está na falta de vontade política dos governantes e poderosos dos países pobres em resolver por si mesmos suas próprias mazelas.

— Deputado, eu sou artista também e viajei muito pelo exterior. E eu ouvia muito as pessoas dizer que nós não temos uma identidade, uma cultura própria. Na sua opinião, qual a nossa identidade?

— Tenho horror a identidade. Significa uma multidão de pessoas idênti­cas. Só reconheço a identidade individual. Felizmente não temos uma única identidade. Temos mais de 150 milhões delas. Felizmente não temos milhares de anos de uma melancólica e solitária tradição a nos manipular como mario­netes. Um indivíduo mestiço possui dentro de si mais cultura que toda uma nação homogênea. Não tivemos receio de nos mestiçar. O racismo que paira so­bre nós é resquício da visão mesquinha e viciosa de nossa herança européia, cujos traços ainda são dominantes em nossa sociedade, no novo mundo. Daqui um pouco nos descontaminamos. Somando a idade das culturas que este território abriga, nossa bagagem cultural, nosso estoque de identidade é imensamen­te superior aos de nossos detratores, meu amigo. Diga isso quando você vol­tar lá. Pode falar que foi um amigo seu que disse — o ambiente descontraiu-se.

— Nossa identidade é não ter identidade, portanto?

— É não ter uma identidade. É ter várias culturas, vários geists, no sentido hegeliano do termo (veja como é bom poder pegar um pedaço da cultura alemã — por que negar esse prazer aos índios?), palavra que também pode-se traduzir por cultura, apesar de geist significar espírito. Mas é cultura no triplo sentido de educação, concepção de si e do mundo e saber. A cultura é constantemente refundida. Como as três cores primárias. No início da civili­zação havia uma cultura aqui, outra acolá. Desde então elas vêm mesclando-se. Portanto não devemos nos abalar com o que alguns gostam de chamar de “imperialismo cultural”. O que acontece hoje é o que vem acontecendo desde os primórdios da civilização. Gregos e egípcios não trocaram tantos elemen­tos culturais? Não usaram deuses uns dos outros? A diferença é que hoje a troca ocorre com muito mais rapidez. As pessoas se assustam com essa veloci­dade e reagem antes de assimilar o golpe. Caminhamos para uma cultura ainda mais global. Como nossa pátria será todo o planeta, nada mais justo que con­siderar os ritos polinésios como parte de minha herança cultural. Os habi­tantes das ilhas do Pacífico são tão humanos quanto eu ou você. Não me preo­cupa se a cultura da minha cidade, do meu país, venha a fundir-se completa­mente com outra, ou outras. O que importa é que eu tenha o direito de esco­lher o que é melhor para mim. O que importa é o indivíduo, o que ele é ou queira ser. Para que importar-se com a manutenção de culturas, tradições em suas formas puras? Elas não se importam conosco, são abstrações, atavios, confeitos, cosméticos. O que importa são as pessoas, são elas que criam cul­turas. O que importa é o indivíduo, cada um de nós um universo cultural di­ferente.

domingo, novembro 23, 2008

O POVO CONTINUA NÃO GANHANDO UMA...

Reproduzo artigo que escrevi para a FOLHA DO SUDOESTE em 2005. O texto continua atual, pois a ameaça da reforma política permanece à espreita.


Mais uma derrota do povo

Na semana passada, aproveitando-se dos trovões provocados pela tempestade Jefferson, com seus Correios e mensalões a provocar estragos e a atrair todas as atenções, os poderes executivo e legislativo fizeram aprovar, na surdina, no já importante âmbito da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados um texto que estava merecidamente esquecido e parcialmente sepultado havia uns 10 anos. Trata-se da famigeradíssima reforma política, mais um golpe sobre o cidadão brasileiro, mais uma diminuição dos já parcos poderes do eleitor nacional. Raro caso de união entre situação e oposição (algo que acontece quando se trata do mal comum).

Entre as principais mudanças previstas no projeto relatado pelo deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) estão o financiamento público de campanhas, o fim das coligações nas eleições proporcionais, além da escolha de deputados federais, estaduais e vereadores em listas fechadas.

Não bastassem o mensalão e os Correios, a Seleção e o Robinho, para desviar do assunto principal, ao falar da reforma política a mídia tem dado maior atenção ao financiamento público de campanhas. Mas aqui a ênfase será devidamente empregada no mais novo achaque da classe política sobre o povo brasileiro: o voto em listas fechadas, que roubará do eleitor o que lhe era aparentemente sagrado, ou seja, o direito de votar em quem lhe desse vontade.

Se o projeto for aprovado em plenário, já a partir de 2006 teremos de nos contentar em votar somente nos partidos, que apresentarão previamente uma lista de candidatos. Os primeiros das listas serão eleitos. Quanto mais votos determinada sigla obtiver, tanto mais parlamentares fará. E quem determinará a ordem das listas e os nomes que as comporão? Os líderes dos partidos. Gente como Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto, José Dirceu, Severino Cavalcanti, Anthony Garotinho, Fernando Henrique Cardoso e outros do mesmo ou pior naipe. Eles vão escolher por nós a partir das próximas eleições.

Semanticamente falando, partido é uma “organização cujos membros programam e realizam uma ação comum com fins políticos e sociais; facção; associação de pessoas unidas pelos mesmos interesses, ideais, objetivos; liga”. Mas, pelo que temos observado ao longo dos últimos, digamos, 500 anos, esse tipo de agremiação junta - com poucas e respeitáveis exceções - pessoas que só levam em conta aquela parte que fala dos “mesmos interesses”.

Com a reforma política que aí está, também fica enterrada a mais de sete palmos de terra a possibilidade da instituição no Brasil da candidatura independente, que existe nos Estados Unidos e outros países. Nada mais democrático do que uma pessoa ter idéias próprias e se lançar candidata sem ter nenhum vínculo partidário - por não ter encontrado um partido que coadune com sua visão ou por princípios outros.

Há quem defen­da os partidos com sinceridade, acreditando, mesmo que atavicamente, que o poder possa ser exercido não por um indivíduo, mas por uma agremiação tempo­rariamente hegemônica. E, caso esse partido não conte com a aprovação popu­lar, outro subirá ao poder na eleição seguinte. É o que acontece em democracias mais antigas e sólidas. Não se está pregando aqui a extinção dos partidos. Acredito, sim, que as pes­soas têm o direito de pensar de modo diferente; e que um indivíduo ou um grupo pode governar sem compor com corporações inteiras; que se podem colocar em julgamento suas idéias, independentemente de acordos prévios e, muitas vezes, escusos: e que se aprove ou não tais idéias; e que se siga governan­do, qualquer que seja o resultado.

No entanto, há quem defenda os partidos justamente para que certa situação vantajosa para si e para os seus mante­nha-se indefinidamente. O sistema que privilegia os partidos é bom para certas pessoas: os líderes, por exemplo, podem decidir entre eles mudanças em tal projeto, ou aprovar ou não tal proposta. Tudo isso à revelia de centenas de individuali­dades, que representam outros milhões de individualidades.

Um antigo e hoje obscuro pensador, Robert Michels, no início do século passado comparava os partidos políticos às instituições militares. Os dirigentes políticos, mesmo eleitos por seus pa­res, tendem a impor à base, sem debate, seus pontos de vista, exigir uma obediência cega de seus mandados, dizia ele.

Eu acrescentaria que a sobrevivência dos partidos nos dias de hoje é resquício do primitivo sentimento de gangue que se verifica em muitos animais. O mesmo sentimento que move as guerras tribais que ainda se encontram em deflagração pelo mundo. Nossos partidos são formados por pessoas que se unem para melhor contrariar os interesses da população dentro de uma base legal, manifesta, ou clandestinamente, à socapa. A união com seus semelhantes lhes dá a sensação de superioridade — e impunidade — so­bre os indivíduos. Essa intensa compra de filiações que costuma acontecer por aqui nada mais é do que a busca por aumento de contingente: como as gan­gues de rua, em cujas brigas a turma vencedora quase sempre é a mais numero­sa. O covarde, quando em grupo, torna-se um super-homem.

Em 1993 houve um plebiscito pelo qual o povo escolheu a forma de governo do Brasil. Como se tratava de uma eleição, houve campanhas no rádio e na TV pela república presidencialista, pela república parlamentarista e pela monarquia (obviamente parlamentarista). Antes do início da campanha oficial, as pesquisas apontavam o favoritismo da república parlamentarista. Mas quando começou o horário gratuito ocorreu uma virada avassaladora e o presidencialismo alcançou uma fácil vitória.

E por que aconteceu essa virada? Simples: os defensores do presidencialismo adotaram o simplista e enganador discurso de que o povo, com o parlamentarismo, deixaria de escolher seu líder máximo. Talvez incauto, quem sabe inculto, o povo engoliu a lorota.

Mas agora, como a reforma política será decidida exclusivamente por parlamentares, todos filiados a partidos, todos receosos do julgamento popular, não haverá campanhas de rádio e TV, a sociedade será mera expectadora e nem os mais sólidos argumentos farão com que mantenhamos o direito de escolher nossos representantes.

segunda-feira, novembro 10, 2008

TRECHO COMPLETAMENTE ALEATÓRIO E FORA DE CONTEXTO DO LIVRO "A CONFRARIA DOS HOMENS DE BEM"

Logo agora que estava em via de psicopatização. Não, o garoto estava bem e logo entraria em contato. Se não o encontrasse na revista, tinha instruções para procurar Abel em ca­sa. Ou em qualquer outro lugar a qualquer momento. Seu celular estaria sem­pre ligado. Certamente Saito estava esperando pelo aparecimento do informan­te. Era preciso paciência nessas situações.
Já no estacionamento Abel realizou o ritual que já se tornava um hábi­to. Discretamente tentava detectar atitudes e veículos suspeitos pelas ime­diações. Viu apenas o pipoqueiro e o vendedor de algodão doce, na verdade agentes de segurança disfarçados contratados por Sforza. Foi-lhes dito que o editor da Proeza vinha sofrendo ameaças e que precisava de uma vigilante proteção. Do outro lado do estacionamento um Tempra branco esperava que Abel saísse para que logo em seguida o escoltasse, procedimento do qual ele já estava a par. Podia partir tranqüilo e colocar-se à espera do deputado, um tipo de ídolo dos confrades, ou então o eleito entre eles para alcançar por outros meios aquilo que eles conseguiam pela remoção de “entraves que impedi­am que a sociedade alcançasse a harmonia e o bem-estar em sua plenitude”.
Pensavam que ele precisava ouvir as palavras de Rosa para finalmente abraçar a causa dos homens de bem. Será que eles não percebiam que ele já pouco se importava se eles matavam suas vítimas por enforcamento ou inani­ção? Que ele já aceitara o que lhe acontecera como natural e inevitável? Os últimos meses ensinaram-lhe a ser mais pragmático. Um tanto quanto cínico ele já era. Agora ele dizia a si mesmo que não adiantava continuar a sentir remorsos ou culpa. O que ele poderia fazer? O sangue não deixaria de impreg­nar suas mãos em hipótese alguma. Se denunciasse a Confraria, poderia ganhar proteção da polícia enquanto assistia às investigações sobre as atividades dos confrades. Proteção? Eles prometeram que não lhe infligiriam nenhum dano físico. Enfim, conseguiriam provar alguma coisa contra eles, contra conspi­radores tão eficientes e meticulosos? Se eles fossem presos, se a Confraria fosse desmantelada, os estranhos e fatais incidentes cessariam, mas os atos inescrupulosos daqueles ligados à administração e à representação públicas continuariam a causar sérios problemas aos menos favorecidos. Eles sujaram suas mãos para sempre ao travarem com ele o primeiro contato.
Melhor permanecer do lado mais justo. Ou menos injusto. Tanto melhor que conseguiu um bom emprego, um salário invejável e a vida que teria pedido a Deus se acreditasse em um. Que importava se estava convencido ou não da justeza dos atos da Confraria? Não estava minimamente disposto a abrir mão do que conquistara; não apearia do cavalo da fortuna. Conversaria normalmen­te com o deputado. Mas nada do que lhe fosse dito alteraria seu pensamento. Estava sinceramente curioso a respeito das idéias daquele homem. E do próprio homem. Queria saber detalhes de seu projeto. Sentia-se privilegiado por vislumbrar o embrião de uma candidatura à presidência da República. Um con­frade-presidente. Idéia impensável, de difícil digestão.

Aleksei preferiu não mencionar ao seu editor o que tinha em mente. Mais prudente seria esperar. Queria conversar antes com Abel; e também deixar que a polícia brasiliense apurasse alguma coisa. Por enquanto, nada de fugir do trivial que o cotidiano lhe oferecia fartamente. O caçula da família Vale dava os retoques finais em sua matéria sobre o dia-a-dia de alguns mendigos da cidade de São Paulo, seus hábitos, seus pensamentos, suas hipóteses sobre o sentido da vida. Descobriu um sem-teto que fora engenheiro, realizador de várias obras de vulto no passado, construtor de viadutos e pontes para anti­gas gestões da prefeitura, e que agora tinha como residência o vão de uma de uma das construções que assinara.

Seus dedos deslizavam pelo teclado não tão rápido como de costume por­que estava fixa em sua mente a imagem com a qual fora agraciado na noite anterior. Depois de deixar o jornal e voltar para casa esperava, ao abrir a porta, encont

sexta-feira, outubro 31, 2008

CLIQUE NA IMAGEM ABAIXO PARA LER O NOVO COMENTÁRIO BILÍNGÜE PRODUZIDO PELA AGÊNCIA P&P


Agência P&P 2008 - Uma divisão do desconglomerado Pratão & Pipócrates na Rede (de dormir)

quarta-feira, outubro 22, 2008

ARISTÓTELES OMORRIS E O ÁPICE DO DELÍRIO

A insustentável grandeza do (meu) ser

Aristóteles Omorris

Louis, Vuitton –
Curioso a respeito do como-ser-pobre, resolvi fazer uma experiência científica, que, claro, envolveu toda a minha magnânima humildade. Abri mão de usar minha fortuna e passei a viver em uma morada para pessoas de baixo rendimento. A experiência já dura algumas décadas, mais precisamente desde minha mais tenra e rica infância.

O empiricismo, o mergulho na coisa-em-si sempre foi algo muito forte em mim. Minha entrega ao trabalho é de tal ordem que muita gente pensa com toda a força de todos os seus dois neurônios que eu sou realmente um pobre. Somente aqueles com capacidade superior, que conseguem enxergar além da superfície e têm a capacidade de decifrar a linguagem corporal conseguem detectar a magnitude do meu ser. Sinto informar que ainda não encontrei alguém com tal habilidade. Em verdade, encontro diariamente. Quando fito o espelho.

É imperativo e categórico que vivenciemos todas as situações as quais forem possíveis para que possamos atingir a plenitude da sabedoria, para que um dia sejamos nirvanicamente capazes de ter uma compreensão holística do vir-a-ser, do ex-devir, do existir, enfim, de toda a fenomenologia que abrange o universo em que as coisas são.

Posicionado alguns (muitos, dizem inúmeras pessoas) degraus acima da intelligentsia que supostamente comanda o planeta, precisei rebaixar-me aos extratos mais repugnantes da sociedade. Embora ainda estejam incompletos meus estudos, posso adiantar que eles já representam a maior das vitórias da epistemologia em todos os tempos.

Às vezes volumosas, dignas e honrosas lágrimas resolvem empreender visitas aos meus belos olhos. Ocorrências do gênero vêm à baila sempre que volta à tona no mar de minha consciência o heracliano sacrifício pessoal que venho fazendo durante toda a minha vida desperta. Poderia eu dar de ombros às misérias, mazelas e opróbrios do mundo e afogar-me em espumantes de França, empanturrar-me de beluga, sufocar-me de cubanos, trocar de jato (com suíte presidencial, hidromassagem, torneiras, puxadores e outros artefatos, todos em ouro) todo ano... Enfim, entregar-me a uma dolce vita eterna – ainda que merecida. Mas não, au contraire.

Aqui estou, em benefício da humanidade, vivendo entre as mais reles criaturas, suportando sinas malsãs – como escrever para este escatológico blog e suportar figuras ridículas e invejosas como Pratão e Pipócrates – e tudo isso para quê? Para ser incompreendido e tachado de um mero e asqueroso POBRE!

Oh, ciência pura e verdadeira, quantas vilanias já foram cometidas contra teu nome? Mas não cantem vitória antes do tempo, ignóbeis forças do mal e da ignorância. Vou continuar vivendo em meu paupérrimo casebre, com o bom e fiel Lorde Byron (um símio que, apesar das inverdades lançadas ad nauseam por aí, não é meu ghost writer) e desenvolvendo minhas pesquisas, sempre pensando, de forma ferozmente altruística, no progresso de toda a humanidade. Termo que não tenho certeza se abarca o titular deste blog e os já citados energúmenos.

Aristóteles Omorris é colunista de meio período e canalha em tempo integral

quinta-feira, outubro 09, 2008

MOMENTO DE DELÍRIO NO FILME "ZEITGEIST"

Criaram o 9/11 através de outra mentira. Através do 9/11, estamos travando uma
guerra do terror e de repente já estamos no Iraque, que foi outra mentira, e agora vão para o Irã. Uma coisa leva à outra, que leva à outra e assim por diante...

E eu perguntei-lhe: "Mas porque querem fazer isto? Para que fazer isso tudo? Vocês já têm todo o dinheiro do mundo, têm todo o poder, vocês estão só espalhando sofrimento. Isso não é algo bom".

E ele disse: "Por que se importa com as pessoas? Cuide de si próprio e tome conta da sua
família".

E eu lhe disse: "E qual é o objetivo final disso?"

Ele respondeu: "O principal é chipar todas as pessoas do mundo com um RFID. E ter todo dinheiro transacionado através do chip e fazer tudo através desses chips. E se alguém quiser protestar sobre alguma coisa ou violar os nossos interesses, apenas os desligamos".

Isso mesmo: microchip.

Em 2005, o congresso norte-americano, sob pretexto do controle da imigração e da tão chamada guerra ao terrorismo, passou o “Real ID act”, e, a partir de maio de 2008, passaria a ser exigido um Cartão de Identificação Federal, que inclui um código de barras escaneável
com a sua informação pessoal.

Contudo, esse código de barras é apenas um passo intermédiario, antes do chip ser equipado com o Módulo Localizador RFID, que usa freqüências que localizam indivíduos em qualquer lugar do planeta.

Se estiver soando ficção demais, lembre-se que o chip de localização RFID já existe em todos
os passaportes americanos e europeus.

O passo final é o implante, que muitas pessoas já vêem como indispensável e estão dispostas a
aceitá-lo sob os mais diversos pretextos.

Temos na Florida uma família de pioneiros nesse admirável mundo novo. Eles voluntariaram-se para serem os primeiros a ter o microchip de indentificação implantado nos seus corpos.

Palavras das mãe: "Depois do 9/11 comecei a ficar preocupada com a segurança da minha família. Não me importo de ter um implante permanente no braço que me identifique".

No final, todos se resumirão a uma rede de controle monitorizada, em que cada ação que você fizer será documentada e, se sair da linha, basta desligar o chip, quando todos os aspectos da sociedade já se resumirão a interações entre chips.

Esta é a imagem que está desenhada para o futuro se você abrir os olhos e perceber. Uma economia centralizada onde todos os movimentos e transações de todos serão seguidos e registrados. Todos os direitos serão retirados.

E o mais incrível de tudo: estes elementos totalitários não serão forçados. O povo irá desejá-los.

Para a manipulação da sociedade através de uma geração de medo e divisão completamente desencaixada do sentido humano de poder e realidade - um processo que tem sido desenvolvido
por séculos, se não milênios -, religião, patriotismo, raça, saúde, classe e todas as outras formas de identificação separatista têm servido para criar uma população controlada, totalmente maleável nas mãos de alguns.

Dividir para conquistar é a epígrafe. E enquanto as pessoas continuarem se vendo como separadas de todo o resto, se entregarão para serem completamente escravizadas.

Os homens por trás da cortina sabem. E também sabem que se as pessoas descobrirem a sua
verdadeira relação com a natureza e a verdadeira dimensão e poder do seu EU, o Zeitgeist que está sendo preparado desmoronará como um castelo de cartas.

Todo o sistema em que vivemos leva-nos a acreditar que somos impotentes, fracos, que nossa sociedade é horrível e má, fraudulenta, repleta de crime e por aí vai.

ISSO É TUDO UMA MENTIRA!

Nós somos poderosos, lindos e extraordinários. Não há razão para não percebermos quem
somos na realidade e para onde vamos. Não há nenhum razão para qualquer indivíduo não ser realmente forte.

Nós somos seres extraordinários.

terça-feira, outubro 07, 2008

COMENTÁRIOS ABALIZADOS PRODUZIDOS PELA AGÊNCIA P&P (SIM, DO PRATÃO E DO PIPÓCRATES) TRADUZIDOS PARA O INGLÊS PELO TRADUTOR DO GOOGLE




Eis o primeiro comentário divulgado pela recém-criada agência P&P. Todos os textos serão traduzidos para o inglês porque a pretensão dos sócios-fundadores da empresa é universalizar, disseminar seus conhecimentos, suas idéias, suas sandices. Como nada sabem do idioma de Shakespeare e Bush, utilizam-se dos serviços do tradutor do Google. Confira o primeiro - e já seminal - trabalho da supracitada e já conceituada agência. Clique no quadro para ampliá-lo.


quarta-feira, outubro 01, 2008

PRATÃO, PIPÓCRATES E AS ELEIÇÕES

- Que cara é essa, Pratão?
- Como “que cara”? É minha cara de sempre. A mesma merda de sempre.
- Eu te conheço, porra! Quêqui aconteceu?
- Ah, Pipócrates... Meu filho... Ele...
- Quêqui tem ele? Tá doente?
- Pior... Ontem ele disse que ia sair pra jogar bola com uns amigos.
- Qual o problema nisso?
- O problema é que eu fiquei sabendo que ele foi é na Parada Gay!
- Puxa vid... Mas talvez ele seja apenas simpatizante... Tem muita gente que vai só pra ver a festa e...
- Simpatizante o caralho! Desde quando simpatizantes no dia seguinte recebem flores com cartões escritos “Com amor, Carlão”?
- Bem... É... Vamos mudar de assunto, vamos mudar de assunto... E as eleições? Tá chegando o dia. Quêqui tu tá achando das campanhas?
- A bosta de sempre.
- É... Nisso tenho que concordar. É um saco essa merda de campanha eleitoral. O pior é que a droga é ministrada de dois em dois anos. Mas tem um projeto aí pra unificar as eleições todas. Daí vamos ter campanha só de quatro em quatro anos. Vai minimizar o problema.
- Se for aprovado, vai ser pior pro povo.
- Porra, Pratão! Tu mesmo acabou de falar que campanha é uma bosta!
- E é! Mas é um mal necessário. Se tivesse eleição TODO ano, seria muito melhor pra sociedade, apesar do baixo nível dos políticos e dos programas eleitorais.
- Ah, vai tomar no cu! Eleição todo ano? Aí eu me suicidava.
- O que seria um baita favor ao mundo.
- Ah, vai te f...
- Tu não viu os estudos que os viados dos cientistas publicaram?
- Que estudos?
- Foi comprovado que os donos do poder trabalham mais em anos eleitorais.
- Claro, eles querem ser reeleitos ou eleger seus cupinchas.
- Mas não deixam de beneficiar o povo. A sede pelo poder faz com que eles pensem mais em agradar os eleitores. Ponto pra nós, porra!
- Só que, quanto mais eleição, mais despesa pros cofres públicos.
- Despesas com a realização das eleições? Bah! São ínfimas perto das obras e outras porras que os políticos fazem pra sociedade. Uma ponte e um conjunto habitacional pagam as eleições municipais em todo o país. Então imagine pontes sem fim e casas a rodo espalhadas pelo Brasil afora! Pô!?
- Mas a gastança pública pode aumentar as dívidas de União, estados e municípios, babaca.
- Pra que existe a merda da Lei de Responsabilidade Fiscal? É só fazer cumprir essa joça. Tem que funcionar esse troço de três poderes, viado!
- Mas essa merda de campanha é um saco. Principalmente o tal do horário gratuito na televisão. Fica atrapalhando meus programas. Tu sabe que eu gosto dos canais educativos, os programas-cabeça...
- Pra cima de mim, pederasta? Tu só vê novela, canalha! E de todos os canais! Eu tô sabendo, frutinha... Enquanto tá vendo novela num canal, põe pra gravar a do outro. Coisa de boiola-quase-transexual...
- Vai pro inferno, cornão!
- Pra poder ver suas novelas no horário de sempre, tu tá disposto a sacrificar o bem-estar dos mais necessitados, né mesmo? Tendo eleição todo ano, o povo mais sofrido vai ter mais saúde, educação, segurança, saneamento básico, moradia e outras porras. Mas tu quer que todo mundo fique à míngua porque a merda do horário eleitoral atrapalha suas novelinhas, pois tu morre de curiosidade pra saber quem fica com quem. Ora, vai tomar no meio do cu!
- Vai tu, animal!
- Posso até ir, mas não sem antes dar umas porradas no Totó, só pra descarregar a raiva.
- Aí tudo bem. Bater no Totó é uma obrigação cívica que deveria ser ensinada nas escolas.

Pratão e Pipócrates, filósofos de rua, discordam em tudo, menos no sadio ódio visceral a Aristóteles Omorris (Totó, para os não-íntimos)

quarta-feira, setembro 17, 2008

POESIA + SURREALISMO = bom, deixa pra lá...


Falta de amnésia



Tal qual aqueles mamutes ensandecidos
Que só se acalmavam ao som do Hino à República
Os opositores perderam a fé em um mundo melhor
A situação estava derrotada
E nada poderia ser feito para que a situação fosse revertida
Ambos os lados choravam a vitória
Para o barão tudo era novidade
No entanto, não vira as armas assinaladas
Nem mesmo a princesa levantou-se de seu leito
Hoje é tudo que lhes restou
Das veredas do neoliberalismo
Surgiu aquele que salvaria
Aqueles que já estavam salvos
Para além do fim da história
Neandertais sempre atentos
Vislumbram um auspicioso porvir
O garoto do quadro de Vermeer
Que nada tinha a ver com a história
Muito menos com esta
No final todos perderam
Inclusive o lanche do fim da tarde
De nada adiantaram séculos de progresso
Nem mesmo o advento do Hino à República
Que só servia para acalmar os mamutes ensandecidos

segunda-feira, setembro 08, 2008

TRECHINHO ATÉ QUE INTERESSANTE DO TEXTO DO FILME "ZEITGEIST"

Retirado do script do filme Zeitgeist:

A maior conversa fiada de todos os tempos - você tem que tremer um pouco e concordar -, a campeã de todos os tempos no que diz respeito a falsas promessas e exageros é a religião.

Pensem um pouco.

A religião definitivamente convenceu as pessoas de que há um homem invisível que mora no céu, que vigia tudo o que você faz, todos os minutos do seu dia - e o homem invisível tem uma lista especial de dez coisas que ele não quer que você faça e, se você fizer quaisquer destas dez coisas, ele tem um lugar especial, cheio de fogo, fumaça, queimaduras, torturas e sofrimento, para o qual vai te mandar para viver, sofrer, arder, sufocar, gritar e chorar para todo o sempre até ao fim da eternidade!

Mas ele te ama!

Ele te ama... e precisa de dinheiro!

Ele sempre precisa de dinheiro! Ele é todo-poderoso, sabe tudo e tem tudo, mas de alguma forma... precisa de dinheiro! A religião lida com bilhões de doláres, as igrejas não pagam impostos e precisam sempre de um pouco mais.

segunda-feira, setembro 01, 2008

DICAS DE FILMES

Primeiro, uma preciosidade da inteligência humana, ou seja, o resultado do bom uso do cérebro, disponível no link http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024.


E, "ao vivo", aqui mesmo em Jataí, teremos a exibição dos filmes do Fica (Festival de Cinema Ambiental), realizado todo ano na cidade de Goiás. As sessões começam às 14 horas, no próximo sábado, dia 6 de setembro, no Salão Nobre do Instituto Samuel Graham (ISG). A promoção é do pessoal do Campus Avançado da UFG. Tudo de graça.

quinta-feira, agosto 28, 2008

UM POEMA, DUAS CONSTATAÇÕES E UM PEQUENO ARTIGO. TUDO CONTRA DEUS, RELIGIÃO E OUTRAS SUPERSTIÇÕES, EVIDENTEMENTE



Deus-milingüindo

Deus não ajuda
quem cedo madruga.
Nem quem acorda tarde.
Nem quem nunca dorme.
Nem quem vive dormindo.

Deus não faz
nem acontece.
Deus não dá
nem dará.

Deus nada provê.
Deus é de nada.
Deus é nada.

Nada.
Nad

Na

N

n

.



•••••

Para alguém que não existe, Deus já causou muito problema neste mundo.


Se Deus existisse, o mundo já teria acabado.
•••••



A irresistível atração do lodo primordial

Os instintos compõem a natureza dos seres vivos desde a formação do ancestral comum de todos nós, humanos, porcos, galinhas, ratos, baratas e companhia quase ilimitada. Ou seja, quando a gente confortavelmente ainda residia naquele lodo primordial, lá estava o implante básico do instinto de sobrevivência, que existe para que sejam “praticados” os outros instintos, sempre com o objetivo, a idéia fixa de colocar na roda o que manda o instinto de perpetuação da espécie.

Bilhões de anos se passaram – período em que sobrou tempo para que os dinossauros aparecessem, imperassem e depois fossem varridos da face da Terra – e a evolução aprontou um monte. Tanto fez que há pouco tempo, cosmicamente falando, surgiu o tal do ser humano, supostamente o supra-sumo da inteligência, o bambambam das capacidades cognitivas e aquele que dominaria todas as outras espécies sem precisar recorrer à força bruta. E também colocando a força bruta a serviço da inteligência.

É, o homem botou a concorrência no chinelo, mas surgiu um “pobreminha”. A tal da consciência. A consciência de si, do universo e a certeza da morte. “Que merda esse negócio de morrer e deixar de existir!”, deve ter bradado, retumbantemente, o primeiro ser inteligente. “Qual o sentido de – pop! – num momento a gente passar a existir e no momento seguinte – pop! – não existirmos mais?”


Então, para confortar a si mesmo, o homem começou a inventar um monte de histórias, hipóteses, suposições, mentiras, modas... Bem, foi assim que surgiu Deus. “Pô, é isso!”, voltou a bradar o bom e velho ser inteligente, talvez não o mesmo, mas o bisneto ou tataraneto do primeiro. “Um ser superior, uma entidade, um troço qualquer criou tudo, o Sol, a Lua, as estrelas, nosso mundo e nós mesmos! É isso! E tem mais, gente boa das cavernas: nossa existência tem sentido sim! Fomos criados com uma missão. A gente tem um negócio que chama alma ou espírito, algo assim, que existe antes da gente ter um corpo e que vai continuar existindo quando este nosso corpo morrer”.

Surgiram-se assim, de uma “tacapada” (eles usavam tacape naquela época. Os tacos ainda não haviam sido criados) só, Deus e a mãe de todas as religiões atuais.

O apego a crenças e superstições não passa de um apego ao bom e primordial lodo. Quando o homem começou a pensar e a se horrorizar diante da não-existência, do abismo eterno, do nada, o idoso e básico instinto de sobrevivência entrou na parada. “Opa, deixa eu agir, senão vai começar uma onda avassaladora de suicídios nessa joça”, pensou Mr. Survival Instinct (ele é todo metido, desculpem-no).

Só não sabia o instinto a confusão que ele iria causar, pois o homem inventou Deus, religião e todas as outras balelas adjacentes. Em decorrência vieram as guerras religiosas, os preconceitos, as perseguições, os radicais, fundamentalistas chatos de galochíssima, a intolerância e, para culminar, o maldito barulho produzido pelas igrejas.

Talvez o pior dano tenha sido a criação da consciência postiça. Sim, pois as pessoas, com o advento da fé, sentiram-se desobrigadas de manter um comportamento ético. Afinal, proprietário de uma consciência externa, uma consciência fora-do-ser, o ser humano sente-se autorizado a enganar o próximo para, depois, pedir o perdão na igreja ou numa simples e rápida prece noturna. Ficha limpa, agora é partir para “pecar” mais.

As pessoas não fazem o certo porque é certo, mas por medo do inferno ou algo parecido no “além”. A religião, admitamos, pode servir de freio para muita gente, pode ter evitado muitos atos deploráveis, mas a humanidade paga um preço muito alto por esse implante da natureza. A superstição atrasou o desenvolvimento da nossa espécie. O pensar-por-si-mesmo, a consciência própria, a ética pela ética e a convivência harmoniosa poderiam ser produtos presentes nas prateleiras da mentalidade humana há muito tempo. Isso, claro, se os suicídios não inviabilizassem nossa sobrevivência como espécie.

terça-feira, agosto 19, 2008

UM CONTO (QUE NÃO É DE NATAL)



O homem que foi tirar satisfações com Papai Noel

Um papel amassado na mão e uma cara de profunda contrariedade na cabeça, o homem subiu a pouco íngreme colina no topo da qual morava, em uma casinha simples, tijolos aparentes, cachorro vira-lata porte médio deitado na frente, o velho das longas barbas brancas que a criançada do bairro só chamava de Papai Noel.

Ele nunca dera presente algum a alguém (pelo menos ninguém presenciara ato do tipo), mas o simples fato de ostentar longos pelos faciais desprovidos de cor bastava para que lhe houvessem impingido a óbvia alcunha.

Teria, segundo os adultos locais, entre 65 e 80 anos, morava ali desde sempre e nunca fizera nada na vida. Os mais antigos diziam que ele estava ali havia 40 anos e lhe atribuíam diversas profissões e os mais disparatados passados.

Para alguns, fora um milionário que se cansara da vida, doara todos os bens aos pobres e resolveu viver como um deles. Para outros, havia sido depenado pela ex-mulher e se tornado um pobretão recluso. Outras versões davam conta de que ele era um político derrotado, jogador de futebol fracassado ou simplesmente um maluco por vocação, um esquisito profissional ou algo do gênero das misantropias que pululam por aí.

Na verdade o que importa é que era por Papai Noel que ele era conhecido e chamado, não só pelas crianças, mas também pelos adultos, que não sabiam seu verdadeiro nome. Nas raras vezes em que saía de casa a criançada logo o cercava, gritava seu apelido, às vezes puxava-lhe a barba. Ele não era simpático a elas, mas tampouco lhes era hostil. Sem sorrisos, sem afagos, mas também sem admoestações e sem agressões físicas. Se o “verdadeiro” Papai Noel é chamado de “bom velhinho”, o eremita do bairro era um velhinho neutro.

Papel amassado na mão, cara fechada, o homem bateu na porta com certa impaciência. Uns 30 segundos depois o neutro velhinho o atendeu com uma expressão neutra.

- Foi o senhor que escreveu isso? – o homem foi logo perguntando, abrindo o papel e mostrando-o para o dono da casa.

- Humm... Parece minha letra – respondeu neutramente o velho. Seu tom de voz não era o de alguém que estivesse tirando o corpo fora. Ele não só não se lembrava, mas também aparentava não se lembrar de que havia escrito aquela carta.

- Pois foi o senhor sim! – A calma e a sinceridade do velho pareciam ter exasperado ainda mais o homem.

- É. Deve ter sido – a voz do velho era baixa, tranqüila. - Por favor, entre.

O homem entrou e aceitou a oferta para se sentar no pequeno, acanhado e principalmente antigo sofá que, digamos, ornamentava a sala (um dos quatro cômodos da casa). O homem ficou surpreso com a limpeza e organização do local. Segundo o clichê, a poeira, o lixo e os insetos deveriam ser os monarcas do ambiente. Mas não. Havia muitos livros e uma mesa sobre a qual repousavam lápis, borracha, régua e papel. Fosse o que fosse em que o velho estava trabalhando, ele escondeu para que a visita não visse.

- Bom, o que eu posso fazer por você? – perguntou o Papai Noel do bairro, sem sorrir, mas extremamente cortês.

- Eu tenho um filho de 6 anos – começou o homem, já bem mais calmo, talvez fascinado pelas maneiras do velho ou encantado com a modesta-mas-aconchegante casa ou pela soma de motivos. – E foi para ele que o senhor enviou esta carta.

- Ah... – um leve sorriso esboçou-se por trás daquela barba toda. O homem não pôde percebê-lo, é claro. – Deve ser do garoto que me pediu uma coisa bem bonita... Sabe como é, como todos me chamam de Papai Noel, ele, em sua inocência, me escreveu uma cartinha, coitado...

- Ele escreveu assim na carta dele: “Uma coisa bem bonita”?

- Foi desse jeitinho. Ele disse que não ia pedir um carrinho, um jogo, uma bola, nada. Eu que tinha que escolher. Escolher uma coisa bem bonita.

- E o senhor mandou isso? – o homem agitou a carta. Havia censura em sua voz, mas exasperação, não mais.

- Sim, se for a mesma carta que escrevi. O presente era o que estava escrito. Bem, o conteúdo nem me lembro.

- Pois eu vou refrescar sua memória! – O homem começou a exaltar-se novamente. – Vou ler para o senhor.

Estavam sentados um de frente para o outro. O mais jovem continuava no sofá e o mais velho já se acomodara na única cadeira da casa. O homem então afastou um pouco o papel de seus olhos e começou a ler, de forma clara e fluente:

“Olá, pequenino!

Uma coisa bem bonita em termos materiais eu não posso lhe dar, pois sou um Papai Noel pobre de um país pobre. Mesmo os duendes são raros neste país. Lá no Hemisfério Norte é permitido o trabalho escravo, desde que o serviço seja executado por duendes. Portanto, a concorrência é desleal e o máximo que posso fazer é lhe dar uns conselhos. E espero que você os considere uma coisa bem bonita.


Você é muito novo, mas já deve estar começando a receber mesada do papai. Não gaste. Economize, pois você tem de graça tudo que precisa para viver bem. É você que paga sua escola, suas roupas, seu videogame, sua comida?

Brinque bastante e estude direitinho, mas sem sacrifícios: só o suficiente para passar no vestibular no curso que for de sua escolha. SUA escolha, não a de seus pais ou de qualquer outra pessoa. Faça o que der na telha até entrar na faculdade, mas continue economizando.

Aos 15 anos retire seu dinheiro da poupança e compre ações. Mas só ações de empresas fortes e sólidas, hein? Todo dinheiro que sobrar vai colocando lá. Se for estudar fora da cidade, tente gastar o mínimo possível para continuar economizando. Melhor continuar morando com os pais e recebendo uma mesada até conquistar o primeiro emprego.

Não caia na besteira de namorar firme. Cabeças jovens são volúveis e propensas a agir sem pensar. Daí pra cair num casamento é um pulo. Não engravide ninguém. Isso vai arruinar sua vida em diversos aspectos. O casamento e o “amor” são armadilhas montadas pela natureza para que aconteça a única coisa pela qual ela trabalha: a perpetuação da espécie. Em suma, seja racional e não aja como um peixe, um sapo ou uma barata.

Ainda na faculdade ou recém-formado, aceite qualquer coisa que lhe oferecerem. O salário pode ser ruim, a condições de trabalho, não ideais, mas a experiência será valiosíssima. Especialmente se crescer o valor economizado mensalmente por vossa arguta pessoa.

E não se esqueça de continuar comprando ações. A essa altura da vida, você terá volume suficiente para efetuar a venda de opções cobertas, operação de proteção de sua carteira de ações que é a mais segura que existe. Isso vai potencializar seus rendimentos. Mas não mexa nos seus lucros para comprar coisas. Compre mais ações com o que conseguir tirar da venda coberta de opções.

Seja frugal. Contente-se viver sem luxos, sem exageros, sem extravagâncias. Gaste com o básico. Pra que ter mais que um teto, um colchão, comida e algumas peças de roupa? Livros? Vá à biblioteca. Filmes? Vá ao cinema. Internet? Faculdade ou lan-house. Telefone? Não use, não tenha. Roupas de grife? Pra quê, se as marcas vagabundas escondem nossa nudez tão bem quanto as caras? Televisão? Só de sinal aberto e olhe lá (que proveito tirar da programação das emissoras?).

Não compre carro: é caro e só dá mais despesas. Existem ônibus para o dia-a-dia e táxi para ocasiões especiais. Não compre imóveis, pois a valorização é mais difícil e a manutenção, custosa. Não ostente. Ostentação é típico de seres inferiores. É um resquício irracional, animalesco que a natureza nos deixou para ajudar na perpetuação da espécie.

Continue contendo seus instintos mais básicos para não se casar. Só o faça quando tiver uma vida financeira saudável e puder responder positivamente a algumas perguntas: por que casar? Quero formar minha própria família? Se sim, case-se. Quero deixar descendentes? Se sim, case-se.

Mas pense bem antes de tomar esse passo. Que direito nós temos de colocar no mundo mais seres humanos, se eles, quando começarem a pensar, também vão sofrer ao perceber a inutilidade de tudo? Se eles também terão vindo ao mundo apenas tomar consciência de que vão virar pó, desaparecer, ser varridos da existência? Se, para fugir à verdade essencial, terão de recorrer a falsas crenças e talvez a drogas, álcool e outras válvulas de escape?

Se você não pretende trazer mais gente para compartilhar nossa infelicidade, não se case, pois um casal sem filhos não passa de um simulacro, de uma homenagem às convenções criadas pela sociedade desde os primórdios de nossa espécie.

Por volta dos 30 anos, tendo passado por um ou por mais empregos, e já com muito dinheiro economizado e multiplicado pela inevitável evolução do mercado de ações, pare para pensar sobre o que fazer do resto da sua vida. Nessa idade você terá experiência e grana suficientes para saber o que lhe faz bem, o que você gosta de fazer. Então faça.

Continue a trabalhar, mas só no que você gosta. Ou pare de trabalhar e vá só se divertir. Ou vá ajudar os outros a suportar as amarguras do mundo. Ou faça tudo isso junto. Ou não faça nada. A vida é sua e você é quem decide o que fazer com as rédeas que, graças a um esforço disciplinado, tenaz e bem-sucedido, você colocou em seu destino.

Bom, pequenino, acho que só consegui pensar nisso no momento. Talvez eu tivesse coisas mais bonitas pra te oferecer, mas este Papai Noel aqui está meio cansado, pois nunca juntou grana suficiente pra comprar umas renas e um trenó. Ou uma charrete.

Um grande abraço!”

O homem dobrou novamente o papel e voltou a encarar o velho. Ficou um tempo em silêncio, talvez esperando uma reação, uma palavra qualquer – quem sabe até um pedido de desculpas? Mas o Papai Noel do bairro descansou suas costas na cadeira e limitou-se a olhar para o visitante. Sua expressão era tão neutra quanto ele e um turbilhão de pensamentos tomava conta de seu cérebro. Olhava para o homem, mas estava alheio a ele.

- Ei, amigo! – O homem perdera a paciência. – Então? O que o senhor me diz?

- Puxa, eu escrevi isso daí? – Mais uma vez, sua surpresa era sincera.

- Como é que o senhor tem a coragem de acabar com ilusões de um garoto, de enfiar merda na cabeça de uma criança?

- Ele entendeu alguma coisa?

- Nada.

- Então por que a revolta? Você deve ter mais de 30 anos e também não entendeu nada. Se quer que seu filho seja como você, basta queimar esse papel. Te garanto que ele jamais se lembrará do conteúdo.

O homem olhou para o papel e por um instante pensou em rasgá-lo em quantos pedaços pudesse. Mas não o fez. Dobrou-o, colocou-o no bolso, removeu uma lágrima, balbuciou algo como “com licença” e deu as costas para o velho.

- O senhor é... é... Sei lá. Até logo.

O Papai Noel do bairro fechou a porta, deu meia-volta e por alguns segundos ficou parado, os olhos perdidos voltados para a parede. Enfim, lembrou-se do que estava fazendo antes de ser interrompido. Lentamente levou a cadeira de volta para a mesa e retomou seu trabalho. Alegrou-se ao perceber estava quase pronto o novo modelo de caixão que vinha projetando há meses. Já não suportava a pressão do dono da funerária. O pior é que ele só recebia depois de entregar o trabalho.

segunda-feira, agosto 04, 2008

VIDAS COMPARADAS: KARL E BILL

Pudesse Plutarco ser revivido nos dias de hoje, certamente ele lançaria mais um volume de suas Vidas Comparadas (ou Vidas Paralelas). Em vez de falar de Alexandre, César e outros figurões dos mundos grego e romano, logicamente ele compararia, por exemplo, Napoleão com Hitler, Mao com Stálin e assim por diante.

Uma comparação que eu, via e-mail, encomendaria a ele seria entre Karl Marx e Bill Gates. De um lado o homem que previu o (e principalmente torceu pelo) fim do capitalismo e do outro o sujeito que chegou à posição de homem mais rico do mundo devido ao sucesso do seu sistema operacional para computadores pessoais.

Talvez eu conseguisse instigar Plutarco informando-lhe que Marx era um pobretão que vivia da generosidade do filhinho de papai Engels. “Velho Pluta, sabia que eles execravam o capitalismo e enalteciam aventuras como a Comuna de Paris e outras tentativas de deter o ritmo natural da história e da evolução mental da humanidade?”, perguntaria eu, já cheio de intimidade.

“E esse nativo do Novo Mundo, o Guilherme Portões?”, indagaria o redivivo grego das antigas, ainda com a velha mania de transliterar nomes gringos. “Por que compará-lo com filósofos, se ele é inventor e homem de negócios?”

Aí então é que eu entraria com minha cartada principal. “Pluta, grego velho, o negócio é o seguinte: esse Bill ganhou tanto dinheiro, jogando pelas regras do capitalismo, que parou de trabalhar. Agora ele, ao lado da mulher, gasta grande parte do que juntou para ajudar os mais pobres, ou seja, tentando remediar a situação daqueles que supostamente eram defendidos por Marx”.

“Meu jovem”, diria Plutarco, de forma solene, “por acaso estás a insinuar que, caso o bárbaro das terras do norte tivesse conseguido acabar com o tal capitalismo, o homem dos portões não teria atingido êxito pessoal e, por conseguinte, não poderia ajudar os menos favorecidos pela sorte?”

“Mais ou menos isso, Pluta, meu chapa”, bravataria eu. “Mas o importante é que, como sempre, o problema não está no sistema, mas no próprio homem. Já no tempo de Marx existiam empresários preocupados com o bem-estar dos outros. Claro que a maioria só pensava na saúde do próprio bolso. Hoje proliferam ações em prol de pessoas e comunidades carentes. Essas coisas vão mudando naturalmente, sem revoluções, sem soluções violentas. Tudo vai se ajustando para que no futuro o presente seja cada vez menos injusto. Fora disso, qualquer extremismo termina em tragédia. Não devemos parar de denunciar os abusos, de lutar por um mundo melhor, mas a verdadeira subversão está em ‘derrotá-los’ dentro das regras deles”.

“Isso é meio grego para mim, mas vou pensar em tua sugestão, embora eu esteja recebendo muito, mas muito mais pedidos para escrever biografias comparadas de Britney Spears e Lindsay Lohan, Amy Winehouse e Paris Hilton, Chuck Norris e Steven Seagal, entre outros nomes dos quais não consigo me lembrar”.

quinta-feira, julho 31, 2008

COISAS DESCONEXAS

DUAS FRASES

• Em casa de eremita a vassoura está permanentemente atrás da porta.

• Ele era tão devagar, mas tão devagar que apostava em corrida de bicho-preguiça.


UMA PIADA DUPLAMENTE INCORRETA DO PONTO DE VISTA POLÍTICO

- Filho, você tem medo do escuro?
- Não, pai. Ele sempre me trata com carinho.

quarta-feira, junho 25, 2008

ARISTÓTELES OMORRIS E OS JOGOS OLÍMPICOS



A muralha e o paredón

Aristóteles Omorris

Kung-fu, Xaolin – Para meu intenso fastio iniciei nesta semana a preparação para a cobertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, chamada às vezes de Beijing, anteriormente Seling e Bicoting. Com relutância aceitei o pedido para que eu use meu imenso e inesgotável arsenal cultural, minha inestimável experiência em favor deste mérdico blog.

Talvez a lamentável cúpula deste, com o perdão da palavra, órgão de comunicação tenha me escolhido devido a minha ligação com o povo chínico. Como consultor das maiores empreiteiras do mundo, fui convidado pelo imperador Do In para conceber o projeto de uma obra que servisse como defesa inexpugnável do regime chinérico.

Com poucas caminhadas em volta do famoso monte Fuji Film, a inspiração voltou a brindar-me de forma generosa. “Vossa Serena, Magnânima, Amarélica e Nipônica Majestade quer proteger vosso augusto regime, não é mesmo?”, argumentei junto ao soberano, que, não sei o motivo, torceu o nariz ao ouvir a palavra “nipônica” – frescura oriental. Antes que ele respondesse, completei: “E qual a melhor forma de proteger um regime? Calando a oposição”.

Foi quando surgiu o projeto para a construção da Grande Muralha da China. Depois de pronta, colocamos todos os opositores do regime de costas para os milhares de quilômetros da muralha e passamos-lhes fogo. Em segundos estavam neutralizadas as maiores ameaças à dinastia do meu japa chapa.

Confesso que, apesar de ser considerado um herói nacional naquele distante país, tenho ido pouco à China. A última vez foi por volta dos anos 40 ou 50, quando ajudei meu bom amigo Mao a colocar um fim à insurreição do Dalai Lama e seus monges, que insistiam em ficar somente meditando e pregando o bem e o desprezo às coisas materiais. Escória!

Quando o atual governo chinélico me receber com tapete vermelho e todas as honras que ainda me serão poucas, exigirei do presidente e do secretário-geral do PC luxuosos aposentos na Cidade Proibida, onde poderei me isolar dos entediantes eventos esportivos. O que mais detesto em Olimpíada é esse negócio de jogos, atletismo, vela etc.

Aristóteles Omorris é o sujeito que, em 1970, disse a Pelé: “Meu bom crioulo, vá até aquela farmácia ali e me traga um pacote de supositórios”

segunda-feira, maio 26, 2008

PRATÃO, PIPÓCRATES E O SISTEMA DE COTAS

- Velho Prato, o Aristóteles tá espalhando por aí que tem curso superior.
- O Totó? O Omorris? Ele tá de brincadeira, idoso Pipo.
- Ele entrou pelo sistema de cotas.
- Mas ele se diz branco e racista...
- Entrou na cota pra viado.
- AHAHAHAHAHAH!!!
- Ah, se no meu tempo tivesse esse troço...
- Tu ia entrar por qual critério? Cota pra feio?
- É! E tu ia na cota pra corno!
- AHAHAHAHAHAH!!!
- Trem besta esse negócio de cota, né não?
- Ué, por quê?
- Ora, discriminação de Estado é coisa do Apartheid, do antigo sul dos Estados Unidos ou da Alemanha do Hitler.
- Mas como compensar os séculos de escravidão dos negros?
- Não se pode justificar erros do presente com erros do passado, porra!
- Mas as elites deixaram os negros no atraso. Tem que haver uma forma de facilitar a eles pelo menos o acesso ao ensino superior.
- Todos são iguais perante a lei. A Constituição garante tratamento igual pra todo mundo. O problema está na merda do Estado, que não consegue garantir ensino público e gratuito de qualidade pra quem tá no básico e no médio, pô! Isso é que precisa ser corrigido.
- Mas enquanto esse ideal não for alcançado, precisamos dar um jeito de remediar as coisas.
- Daí a merda do Estado se acomoda e nunca conserta o essencial. Vai ficar só mexendo com o acessório. Ah, vai t...
- Que ao menos se criem cotas para as pessoas carentes. Na faixa mais baixa de renda é que tão os negros...
- É a mesma merda, porra!
- Não. Entre os pobres tem gente de todas as raças e...
- Tu vai atacar os efeitos e deixar a causa quietinha, tranqüilinha, deitada na rede, tomando água de coco e olhando a mulherada na praia.
- A causa é lésbica?
- Ah, vai te f...
- Calma, calma...
- Pobre, rico, preto, pardo, branco, índio, viado, perneta... todo mundo precisa freqüentar escolas de ensino fundamental e médio de boa qualidade, sejam particulares ou públicas. Aí todos vão entrar no filtro pra faculdade em pé de igualdade. Sistema de cota é discriminação, além de ajudar a esculhambar ainda mais nosso ensino superior.
- Tu é um racista podre.
- Ah, vai tom...
- Vai você primeiro!
- Tá bom. Então vamo pro buteco porque ainda tem muito podre do Totó pra gente colocar em dia.
- Agora tu falou bonito. Sabia que foi o Lorde Byron que fez a prova do vestibular pro Totó?
- O macaco dele?
- O próprio.

Pratão e Pipócrates se auto-intitulam “filósofos de rua” e não concordam em nada, exceto no desprezo visceral a Aristóteles Omorris

sexta-feira, maio 09, 2008

CERTO ESTÁ O JOEL, QUE SE MANDOU PRA ÁFRICA DO SUL

Logo depois da final do Campeonato Carioca (maravilhosos 3 a 1, de virada, sobre o Botafogo, dia 4 de maio de 2008) eu comecei a pensar em um texto retumbantemente ufanista, laudatório e completamente imparcial sobre a (mais uma) conquista do Flamengo.

Eu poderia ter batido bem doído não só no Botafogo, mas também, de passagem, no Vasco e no Fluminense. Falaria que o time da lacrimosa estrela solitária tornou-se um viceado, tal qual o clube de São Januário. Enfim, na noite de domingo ou no mais tardar na segunda-feira eu escreveria que o vício ao vice estava se espalhando entre nossos rivais.

O tricolor das Laranjeiras não entraria apenas de gaiato na história. Afinal, o rubro-negro chegou ao seu 30º título estadual, igualando-se à purpurinada turma do pó-de-arroz. Na verdade, na média, já éramos há muito tempo os grandes papões de título no Rio, pois, quando o Flamengo começou a jogar futebol, em 1912, o Fluminense e o Botafogo já haviam conquistado vários campeonatos.

Mas eis que alguns contratempos impediram-me de postar um texto dessa estirpe no domingo, na segunda, na terça... Quando chegou a quarta-feira, bem, aí já haveria o jogo com o América do México que meramente sacramentaria nossa classificação para as quartas-de-final da Copa Libertadores.

Maracanã cheio, classificação quase garantida pelos 4 a 2 que uma semana antes havíamos aplicado na altitude da capital mexicana, despedida de Joel Santana, o misto de mago e treinador, já contratado pela seleção da África do Sul, enfim, tudo preparado para mais uma festa.

Bem, houve festa... mas com maracas e mariachis. Podíamos perder até por 2 a 0. Foi 3 a 0 pros hombres. Meu triunfante texto havia definitivamente ido para o vinagre.

Depois da noite de quarta-feira, dia 7 de maio de 2008, vexame histórico consolidado, o único lugar em que eu gostaria de estar era na bagagem do Joel. África do Sul, lá vamos nós!

sábado, abril 26, 2008

CÚMULOS

• Era tão altruísta, mas tão altruísta que não vendeu, doou sua alma ao Diabo.

• A praia era tão deserta que nem o mar sabia onde ela ficava.

• Tão tímido que não tinha coragem de falar consigo mesmo.

• Tão estúpido que só usava camiseta pra não ter que pensar nem com seus botões.

quarta-feira, abril 16, 2008

DESCONSIDERAÇÕES

- Os seres humanos dividem-se em racionais, irracionais, racionais/irracionais, racionais eventuais, irracionais eventuais, completamente racionais, completamente irracionais e você.

- Na natureza há os reinos animal, mineral e vegetal. O reino animal subdivide-se em seres humanos, seres irracionais e aquele seu vizinho mala.

- Entre os seres humanos há os altruístas e os egoístas. Para que a classe governante passe a ser composta pelos primeiros, das duas uma: ou os segundos são abatidos por uma praga qualquer ou os primeiros passam a agir em conjunto movidos por um benigno egoísmo coletivo que venha a superar os egoísmos isolados. Bom, daí não seria mais egoísmo e sim nosgoísmo.

segunda-feira, março 31, 2008

ARISTÓTELES OMORRIS 2008



‘O Estado sou eu’ (graças a mim, né, Luisinho?)

Aristóteles Omorris

Não gosto de falar de mim mesmo. Deixo isso para meus biógrafos. Mas às vezes faz-se necessário responder a algumas críticas infundadas, mesmo porque, como já dizia o mudinho Leomar, “uma mentira repetida toda hora, em dízima periódica, acaba se tornando uma verdade”.

Também não sou de ficar em cima do muro. Até porque sofro de labirintite. Acusaram-me de ter sido o artífice da chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela. Mentira deslavada! Apesar de eu ter apoiado esse grande estadista, minha participação foi modesta, se comparada a minha contribuição à magnânima Revolução de 1964.

Estou sempre do lado dos verdadeiros democratas. Isso desde que participei da campanha eleitoral do meu velho amigo Napoleão. Infelizmente a noção correta de democracia se perdeu de uns séculos para cá. Mas Chávez, Fidel, Bush, o PC chinês e eu estamos trabalhando duro para impor nosso libertário ponto de vista a todos. Nem que seja pela força das armas.

Democracia é o governo do povo. Governar é dirigir. Logo governar é dirigir o povo. Para o lado que você quiser. A democracia, portanto, é o governo do mais capaz, que é sempre o mais forte.

Claro que sou a favor do pensamento da maioria. Desde que, evidentemente, esse pensamento não seja um empecilho aos planos do bom governante, do grande líder. Às vezes o povo enche o saco. Por isso admiro gente como o Huguinho, o Fidelito, o Benitinho, enfim, todos os meus amiguinhos poderosos.

Muitas vezes desconfiei de governantes recém-eleitos. Tenho sérias restrições a pessoas que chegam ao poder pela força das urnas. Causa-me asco o golpe das eleições. Mas uma boa conversa no gabinete da nova liderança costuma me convencer das boas intenções do neomandatário. Uma boa conversa regada a um belo depósito em uma de minhas contas na Suíça, obviamente.

Mas já perdi tempo demais com vocês, pobres. Agora tenho de me retirar, pois fui chamado a intervir contra os ridículos insurgentes em prol da liberdade para o Tibete. Por mim, demoliria aqueles templos e os transformaria em algo mais produtivo, como fábricas de tênis Nike para o Paraguai.

Aristóteles Omorris é aquele papagaio de pirata que aparecia no original da Santa Ceia, de Da Vinci

terça-feira, fevereiro 12, 2008

REFLEXÃO SOLITÁRIA

Donos de bares, restaurantes e postos reclamam da lei que proíbe a venda de bebida alcoólica nas margens de rodovias. Os donos de funerárias também.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

BREVES REFLEXÕES

• A assistência social é o baixíssimo preço que a sociedade paga por seu egoísmo.

• Dos males necessários o Estado não é o menor.

• Com essa onda de cortes de gastos públicos, só falta o governo estimular o cidadão a dar esmola. Afinal, trata-se do meio de distribuição de renda menos oneroso ao erário.

• O ser humano deve estar sempre em primeiro lugar na lista de prioridades do governante de bom senso. E o bom senso deveria ser encontrado em todo governante.