segunda-feira, outubro 12, 2009

DICA DE LIVRO: STÁLIN - A CORTE DO CZAR VERMELHO


São 864 páginas de uma dura lição sobre o que de pior pode vir do ser humano. De sanguinária insanidade comparável talvez só à de Hitler, o líder soviético Josef Stálin não pode ser tratado por algo mais brando que a palavra genocida. O pior é que tem gente em altos cargos governamentais - na Rússia e no Brasil, hein? - que ainda defende o pai da Svetlana.

Entre um afago na filha e um bom livro, uma rápida ordem para fuzilar milhares de "inimigos do povo". Assim era a rotina do homem mais temido da história da Rússia e seus satélites.

O livro traz memórias e diários inéditos de personagens importantes, além de entrevistas com os sobreviventes e descendentes dos poderosos da era stalinista. O jornalista e escritor inglês Simon Sebag Montefiore beneficiou-se da recente liberação de cartas, bilhetinhos, anotações nas margens de documentos e livros, minutas de reuniões, agendas e papéis que passavam todos os dias pela escrivaninha de Stálin, em muitos dos quais ele deixava sua marca de aprovação, reprovação ou escárnio. Com isso, pôde revelar a intimidade do poder que até agora permanecia envolta em mistério e mostrar sua face mais humana, embora nem sempre menos brutal. Montefiore oferece um retrato de Stálin - leitor compulsivo, apreciador de música e cinema, burocrata minucioso e infatigável, pai rígido, marido desesperado com o suicídio da esposa, político suspeitoso e paranóico, implacável com possíveis inimigos e concorrentes, e líder disposto a sacrificar qualquer coisa - família, amigos, camaradas e milhões de camponeses e soldados - em nome do ideal comunista.

O autor traz para o primeiro plano o que chama de 'magnatas', os membros do círculo íntimo do poder - Mólotov, Vorochílov, Mikoian, Khruchióv e muitos outros -, que, como uma grande família, participavam de longos jantares e intermináveis bebedeiras, em que decidiam assuntos de Estado e compartilhavam a responsabilidade pelo terror. Montefiore relata em detalhes os bastidores das grandes decisões políticas e diplomáticas, ao mesmo tempo em que penetra na 'cozinha' dos poderosos, revelando as preocupações cotidianas com a saúde, as férias, os filhos, ou o 'disse-me-disse' muitas vezes mortal dos corredores do Kremlin. No fim, temos a imagem detalhada e completa da grande máquina montada para implantar o comunismo a ferro e fogo.

segunda-feira, agosto 24, 2009

PRATÃO, PIPÓCRATES E UM ENGAJAMENTO UM TANTO QUANTO INSÓLITO

- Pô, Pratão, eu vi seu filho de mão dada com macho na Parada Gay! Como é que tu deixa isso acontecer? Chama ele na chincha enquanto é tempo. Quem avisa amigo é...
- Fica frio, Pipo. Tá tudo sob controle.
- Sei. Sob o controle do negão...
- Calma, rapá... Meu filho é espada. É macho pra cacete!
- Hum-hum...
- Ele me avisou que participaria da Parada. E tem mais: ele vem frequentando ambientes GLS, sites de boiola e está filiado a todos esses troços de entidade de apoio à viadagem.
- Sei. E não é gay...
- Não é, pô. Tô te falando. Ele está praticando o que ele chama de “homossexualismo engajado” e...
- Claro, “engatado”. Sempre “engatado”...
- Fica na tua, meu! É uma bicharia de fachada. Um homossexualismo de protesto, sacô?
- Ah, então tá explicado... Rarrarrarrarrá!
- Ué, não tem música de protesto, arte engajada? Por que não o homossexualismo de protesto?
- Sei... Ele faz um sacrifício em nome da livre queimação, é isso?
- Ele não é gay, mas defende o fim da discriminação e do preconceito contra os baitolas, entende? É uma forma de luta que...
- Luta greco-romana: aquela que os camaradas ficam um em cima do outro...
- Ele só participa dos movimentos e...
- Movimentos dos quais não quero nem saber detalhes, por favor.
- Para de gracinha, babaca!
- Então quem faz música de protesto não é músico?
- Vai te...
- Quem faz arte engajada não é artista de verdade?
- Há casos e casos...
- É, ouvi dizer que ele teve muitos casos...
- Então quer dizer que uma pessoa não pode ser sensível ao sofrimento que as pessoas tidas como diferentes...
- Sim, ele é muito sensível mesmo...
- Vai pro inferno, maldito! Pior que o homossexualismo de protesto, que a arte engajada, é a política de resultados. Tu tem que gastar sua energia negativa é com esse pessoal que xinga o adversário num dia e no outro, quando depende dele, está abraçando e beijando. O que meu filho faz é um trabalho de solidariedade, de amor ao próximo.
- E de quem ele anda próximo ultimamente?
- Ah, vai...
- Dizem que ele não anda dormindo na sua casa.
- Tem umas semanas que ele tá na casa de um companheiro de associação.
- Humm...
- Eles tão desenvolvendo um projeto e...
- Sei... Um projeto de uma vida em comum...

- Olha aqui...

- Ou tem uma equipe grande nessa coisa de projeto na casa do amiguinho?
- Não. Só eles dois. Mas sem boiolagem! Sem boiolagem! O fato do outro rapaz receber pensão depois que morreu o sujeito que morava com ele antes não quer dizer nada.
- Claro que não... Gay sou eu... Rarrarrarrá!

- Porra! Pior é o Totó, que advoga em causa própria.

- Sem dúvida. Ele pratica o homossexualismo sem protestar.


Pratão e Pipócrates são filósofos de rua e discordam em tudo, menos na aversão a Aristóteles Omorris, o bom e velho Totó

quarta-feira, agosto 05, 2009

AOS AMANTES DE DITADURAS

De vez em quando alguém aparece dizendo algo do tipo “tá certo que era uma ditadura (e/ou regime sanguinário e/ou modelo opressor e/ou avesso à liberdade de expressão e/ou totalmente corrupto etc.), mas...”


Tal “mas” é então seguido dos supostos benefícios entregues à população por parte do regime ditatorial defendido – parcialmente ou não – por aquele alguém.


Esse tipo de defesa é primo em primeiro grau da maquiavélica expressão “os fins justificam os meios”. É fruto, portanto, de uma visão amoral, aética e simplista da política, da gestão pública e, muitas vezes, até da vida.


Às vezes essa postura decorre apenas de uma falta de reflexão, de um aprofundamento maior a respeito da gravidade de certos temas, de determinadas situações. E outra coisa, cá entre nós: a preguiça de pensar sempre foi aliada dos corruptos e dos ditadores.


O fato é que ressalva alguma redime um governo de exceção. Nenhum argumento pode ser aceito em defesa de uma ditadura ou de um ladrão. Isto deve ser um valor absoluto.


Hitler é uma das mais perfeitas representações do mal. Sua loucura levou mais de 50 milhões de pessoas à morte e outros milhões de famílias a um sofrimento que perdura até hoje. Assim, seu governo e sua passagem pelo planeta foram repugnantes, horrorosos, detestáveis, ignominiosos e execráveis. Ponto. Não tem novas estradas e outras obras que o tornem minimamente defensável. O Terceiro Reich simplesmente não deveria ter existido. Ele era a essência do mal, de tudo que prende a humanidade às trevas, ao atraso.


O regime militar brasileiro prendeu, torturou e matou quem lhe era contra. Suprimiu liberdades individuais e calou a imprensa. E daí que abriu novas estradas, que construiu Itaipu e a ponte Rio-Niteroi? A ditadura não deveria ter existido. Ela é uma representação do mal, sua essência também era maligna.


As viúvas de Mao, Stálin, Videla, Fidel, Franco e outros que me perdoem, mas elas não sabem o que falam. Qualquer regime que precise amordaçar (ou eliminar) alguém para poder funcionar não merece a mínima consideração. Quando o “consenso” se dá pela força, é porque a razão e o bom senso foram passar férias num lugar distante.


Ah, certos fins justificam certos meios? Então, se estou passando fome, é válido pisar na cabeça de alguém no chão para alcançar a lata de biscoitos, mesmo que isso vá infligir dor em outra pessoa?


Então tudo bem se eu construo uma estrada para beneficiar dois milhões de pessoas, mas fecho jornais e boto na cadeia quem não concorda comigo, causando dor a uns milhares de famílias?


Todos os ditadores, todos os déspotas estão no poder pelo poder. Dele se alimentam, dele se inebriam, dele retiram seu prazer. Todos os corruptos estão no poder pela ganância, para dele se servir, para dele tirar vantagem. Logo, todos os seus atos têm máculas, não visam o bem de todos – ou da maioria. Tudo o que fazem é movido por egoísmo e egocentrismo, ou seja, vícios, ou seja, derivados do mal.


Pois então saibam, vocês que defendem que esse ou aquele ditador, esse ou aquele corrupto deixou algo de bom, saibam que vocês também estão obrigados a apoiar os pais que porventura venham a matar os filhos para equilibrar o orçamento doméstico.

sábado, julho 18, 2009

FRASES PRA VER SE RETOMO O BLOG COM A FORÇA DOS PRIMEIROS MESES...

• No futuro, ainda que bem distante, o futuro continuará sendo melhor que o presente.

• Cúmulo do azar: Deus resolve provar que existe. Jesus, enfim, volta, mas é abatido pelo sistema de defesa aérea dos Estados Unidos.

• "Pô, logo agora que eu ia dar Roraima pra minha netinha?", reclamou Sarney.

terça-feira, junho 23, 2009

DICA DE LIVRO: "PETESBURGO", DE ANDREI BIÉLI


Petesburgo já foi chamado de Ulisses russo. Biéli, obviamente, de Joyce eslavo ou algo assim. Mas tanto um quanto o outro têm vida própria. Ninguém precisa ficar com Joyce ou qualquer outro autor em mente para se deliciar com esse livro cuja capa está aqui do lado. Como estou com pressa, não vou falar mais nada. Só recomendo a leitura e deixo uma sinopse meio vagabunda:

PETESBURGO
Andrei Biéli
Dimensões: 368 páginas - 14x21 cm

Sinopse: São Petersbugo, capital do Império Russo, epicentro de um terremoto a abalar culturalmente a Rússia, é o tema deste romance arrojadamente moderno. Cenas vividas no ano revolucionário de 1905, com clima de guerra civil marcado por atentados e pelo trauma da derrota ante os japoneses.

Escrito pelo maior teórico do simbolismo russo, Andrei Biéli (1880-1934), Petersburgo foi considerado por Vladímir Nabokov uma das quatro obras-primas em prosa do século XX, ao lado de Ulisses, de James Joyce, A Metamorfose, de Kafka, e de Em busca do tempo perdido, de Proust.

Publicada no Brasil pela última vez pela Ars Poetica, a edição nacional é rica em fotos da época, posfácio de Albert Avramenko, da Universidade de Moscou, e notas dos eslavistas R. A. Maguire e J. E. Malmstad, de Harvard e Columbia. Achável em sebos...

quinta-feira, maio 28, 2009

TRECHO DO ABANDONADO PROJETO DE LIVRO BATIZADO DE "O PARTIDO DO INDIVÍDUO"


Só pra dar uma contextualizada básica, isto é parte de uma fictícia entrevista concedida pelo jovem candidato a presidente que protagoniza o livro. A entrevista foi fantasiosamente publicada numa paródica versão da atualmente semanal revista CartaCapital, chamada no engavetado livro de MapaCapital. LC são as iniciais de Laszlo Canto.



MC: Então é isso? Você vai usar seu poder de sedução contra os donos do poder?

LC: Não sei o nome do que vou usar. Só sei que se for preciso conversar pessoalmente com cada deputado, cada senador, cada empresário, cada sindicalista, cada banqueiro, cada fazendeiro, cada oligarca, assim o farei. É impossível conversar com cada cidadão, com cada criança, então tentarei fazê-lo por intermédio da educação. Precisamos urgentemente de uma geração livre dos velhos vícios.

MC: Cada município brasileiro tem uma oligarquia dominante, caciques que decidem quem deve se candidatar e quem deve ser eleito. Que cobram vassalagem de quem está fora do sistema — e que só entra nele para votar. E votar para manter as oligarquias. Algumas tornam-se transcen­dentes e enviam membros seus para a capital do estado, para o Congresso Nacional e chegam até aos mais altos cargos executivos. São eles que manipulam a verba da educação em suas regiões, que manipulam até mesmo os professores. Haja convencimento.

LC: Educação e exemplo. Estas as armas que utilizaremos. O presidente deve ser um paradigma para a sociedade. Melhoramos de paradigma com o atual presidente. Mas essa mudança de imagem deve ser estendida a todos os representantes do povo. Tenho difundido insistentemente essa visão, essa necessidade, entre nossos correligionários. Quero uma legião de exemplos. Exemplos vivos. Inspiração para o povo, para que as pessoas não permitam ser dominadas. Que abram os olhos para sua semimilenar submissão às mesmas pessoas, que se reproduz geração após geração. Para a massa ignara o feudalismo nunca acabou, sempre existiu como regra do mundo. Não é só da educação normal, antianalfabetizante que essa gente precisa: pretendo oferecer-lhe um banho de cidadania, de ética. Não quero sua alma, quero dar-lhe uma alma. Essa gente poderá ter opção. Opção, pois não pretendo obrigar ninguém a nada. Quem quiser ser vassa­lo para sempre, assim o será. O problema é que até hoje as pessoas não tiveram opção.

MC: As pessoas não saberiam o que fazer com sua liberdade. É coisa para várias gerações suprimir o instinto de subserviência das pessoas. Desde o homem das cavernas, nós nos acostumamos a depender das decisões de um só. Para o bem da maioria, que apenas um gaste sua energia pensando. Os outros, em troca, dispõem-se a obedecer de bom grado.

LC: Exatamente. Sonho com um estado delegador de responsabilidades. Que gradualmente vá passando certas atribuições à sociedade. Um dos nomes sugeridos para o PLI foi o de Partido do Indivíduo. Não no sentido ego­ísta do termo, mas no de despertar em cada um a percepção de sua indi­vidualidade. Por si mesmo ele pode libertar-se de suas amarras, de sua acomodação, de sua modorra. Creio que um favelado, um indigente absolu­to não tem outra alternativa que não acomodar-se, amodorrar-se. A solu­ção imediata, emergencial para o sujeito que chegou a esse estágio é a assistencial e regeneradora. Para os regenerados e para aqueles que não ainda desceram àquele nível, o máximo que o estado deve fazer é criar condições para que tal coisa não aconteça. É inventar meios para que não seja por falta de educação, saúde, emprego que o indivíduo trans­forme-se em indigente.

MC: Só será indigente quem quiser. Em o indivíduo querendo sê-lo...

LC: Que vá aos Correios. (risos)

MC: O que fazer com quem insistir em ser indigente, parasita, pária, marginal, outsider?

LC: Desde que não prejudique ninguém, laissez-faire. Se a pessoa não tiver condições de viver em sociedade, que abrace o estado de natureza. A mesma política indígena será estendida a quem queira adotar o estado de natureza. Porque acho discriminatório qualquer tipo de tratamento especial. Não haverá uma política específica para o índio, grupo étnico definido, mas para os que decidam viver em estado de natureza. A polícia, o exército continuarão a existir enquanto houver indivíduos dis­postos a ferir a liberdade dos outros. Especialmente a liberdade de existir, o direito de ser. Mas se a pessoa tiver uma vocação irresistível para a mendicância, ela não será proibida de exercê-la. Afinal, dá e pede quem quer. Apenas o estado se reservará o direito de não dar. Pois já terá dado tudo àquele mendigo: educação, remédios, ofertas de emprego. Claro que se ele adoecer terá assistência médica gratuita. Agora, colinho e papinha, só a mamãezinha dele. (risos) Obviamente que refiro-me a um estado ideal, ainda utópico. No momento, qualquer gover­no sério que assuma, devido a situação de emergência em que nos encon­tramos, terá de adotar por algum tempo uma política assistencialista. Mas ao mesmo tempo criando as condições para que isso não seja necessário no futuro. Está no nosso caderninho.

MC: Mas, em suma, a quebra das oligarquias se dará pela base, desenca­deada por uma revolta dos oprimidos? Uma revolta sem sangue, sem um desligamento violento dos antigos laços servis?

LC: Saber para libertar-se; conhecer para saber como usar a liberdade. Uma revolta pacífica, gradual. Quando o velho coronel em sua cadeira de balanço perceber, ele estará mandando apenas em seus boizinhos. O que acontece já nos dias de hoje? Onde há um povo mais educado, ou melhor, com mais escolaridade, a oligarquia tradicional, oriunda do velho coro­nelato, século XIX, já não impõe sua vontade às pessoas. As oligarquias do Sul preferem exercer seu poder de persuasão diretamente com os pseu­do-representantes do povo. São os lobistas a serviço dos magnatas os representantes dos neocoronéis. Então, acabar com as oligarquias tradi­cionais é atribuição dos indivíduos devidamente instrumentalizados pela ação do estado, enquanto os neocoronéis devem ser combatidos diretamen­te pelo governo, pela despatrimonialização do setor público. São dois fronts contra as forças conservadoras. A imprensa, a justiça, bem que poderiam dar-nos a mão para fechar o cerco. Elas, no entanto, devem antes limpar a si próprias do entulho atrasadista.

MC: No caso da imprensa, que é minha área, acho difícil ocorrer essa limpeza, pois é patrão contra empregado. É setor privado. Uma revolta pacífica nesse “poder” é quase impraticável.

LC: É possível sim, Nino. Vocês, quer dizer, nós — eu também sou jor­nalista — chegaremos lá. Como disse a poetisa...

MC: Desculpe-me pela interrupção, mas as moças que versejam gostam de ser alcunhadas de “poeta”.

LC: Mas a palavra “poetisa” é tão bonita. Da mesma lavra de belas pala­vras de onde vieram “mãe”, “imperatriz”, “rainha”. Por questão de prin­cípios, preferência estético-sonora, inclusive, continuo dizendo que a poetisa Elizabeth Bishop, que morou no Brasil, nos considerou um povo amável, que faz “revoluções sem sangue”. Uma marca da qual deveríamos nos orgulhar. E manter. Faz tempo que ela escreveu isso.

domingo, março 29, 2009

NOVAS FRASES DESCONEXAS QUE SURGIRAM DO NADA

• Aliás, tudo conspira para o nada.

• Nunca ouviu um não como resposta. Era surdo.

• Esquizofrênico, ator morreu sem conseguir atuar em monólogo.

• É impossível ao esquizofrênico a intimidade total, inviolável. A ele é impraticável até uma boa conversa consigo mesmo. A sós.

• Desculpe, já não sou mais o mesmo. E olha que nunca fui grande coisa...

DEPOIS DA OBJETIVIDADE IMPOSSÍVEL, "TRAGO" ALGUÉM PARA FALAR DO PERIGO QUE CORREM OS JORNAIS IMPRESSOS ANTE OS "EDITORES" INTERNÉTICOS

O meu jornal diário

Ao contrário do jornal, internet nos leva a buscar ideias afins às nossas e vai nos isolar ainda mais em nossas câmaras políticas hermeticamente fechadas

NICHOLAS D. KRISTOF, DO "NEW YORK TIMES"

Alguns dos obituários mais recentes não estão saindo nos jornais, mas são dos jornais. O "Seattle Post-Intelligencer" é o mais recente a desaparecer, excetuando um resquício de que vai existir só no ciberespaço, e o público está cada vez mais buscando as notícias que consome não nas grandes redes de televisão ou em fontes impressas em tinta sobre árvores mortas, mas em suas incursões on-line.

Quando navegamos on-line, cada um de nós é seu próprio editor, o guardião de sua própria entrada. Selecionamos o tipo de notícias e opiniões de que mais gostamos. Nicholas Negroponte, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), chamou a esse produto noticioso emergente "O Meu Jornal Diário". E, se isso for uma tendência, que Deus nos salve de nós mesmos. Isso porque existem provas bastante convincentes de que, em geral, não desejamos realmente informações confiáveis, e sim as que confirmem nossas ideias preconcebidas.

Podemos acreditar intelectualmente no valor do choque de opiniões, mas na prática gostamos de nos encerrar no útero tranquilizador de uma câmara de ecos. Um estudo clássico enviou despachos a republicanos e democratas, oferecendo-lhes vários tipos de pesquisas políticas, ostensivamente de uma fonte neutra. Os dois grupos mostraram mais interesse em receber argumentos inteligentes que corroborassem suas ideias preexistentes.

Também houve interesse mediano em receber argumentos tolos em favor das posições do outro partido (nós nos sentimos bem quando podemos caricaturar os outros). Mas houve pouco interesse em estudar argumentos sólidos que pudessem enfraquecer as posições anteriores de cada um. Essa constatação geral foi repetida muitas vezes, como observou o autor e ensaísta Farhad Manjoo em 2008 em seu ótimo livro "True Enough: Learning to Live in a Post-Fact Society" [Verdade Suficiente: aprendendo a viver numa sociedade pós-fatos]. Permita que deixe uma coisa clara: eu mesmo às vezes sou culpado de buscar verdades na web de maneira seletiva.

O blog no qual busco análises sobre notícias do Oriente Médio frequentemente é o do professor Juan Cole, porque ele é inteligente, bem informado e sensato -em outras palavras, frequentemente concordo com ele. É menos provável que leia o blog de Daniel Pipes, especialista em Oriente Médio que é inteligente e bem informado -mas que me parece menos sensato, em parte porque frequentemente discordo dele. Segregação O efeito do "Meu Jornal" seria nos isolar ainda mais em nossas câmaras políticas hermeticamente fechadas.

Um dos livros mais fascinantes de 2008 foi "The Big Sort: Why the Clustering of Like-Minded America is Tearing Us Apart" [A grande classificação: porque a divisão da América em agrupamentos de ideias iguais nos está dividindo], de Bill Bishop. Ele argumenta que os americanos vêm se segregando em comunidades, clubes e igrejas onde são cercados por pessoas que pensam como eles. Hoje, diz Bishop, quase metade dos americanos vive em condados que votam por maioria avassaladora em candidatos democratas ou republicanos.Nos anos 60 e 70, em eleições nacionais igualmente disputadas, só cerca de um terço dos eleitores vivia em condados que apresentavam maiorias avassaladoras nas eleições. "O país está ficando mais politicamente segregado -e o benefício que deveria advir da presença de uma diversidade de opiniões se perde para o sentimento de estar com a razão que é próprio dos grupos homogêneos", escreve Bishop.

Um estudo que abrangeu 12 países concluiu que os americanos são os que demonstram menos tendência a discutir política com pessoas de visões diferentes, e isso se aplica especialmente aos mais bem instruídos. Pessoas que não concluíram o ensino médio tinham o grupo mais diversificado de pessoas com quem discutiam ideias. Já as que tinham concluído a faculdade conseguiam colocar-se ao abrigo de ideias que lhes eram incômodas. O resultado disso é a polarização e a intolerância. Cass Sunstein, professor de direito em Harvard que agora trabalha para o presidente Obama, fez uma pesquisa que mostrou que, quando progressistas ou conservadores discutem questões como ação afirmativa ou mudanças climáticas com pessoas que pensam como eles, suas ideias rapidamente se tornam mais homogêneas e mais extremas que antes da discussão.

Em um estudo, alguns progressistas inicialmente temiam que as ações para enfrentar as mudanças climáticas pudessem prejudicar os pobres, enquanto alguns conservadores inicialmente se mostravam a favor da ação afirmativa. Mas, depois de discutir a questão durante 15 minutos com pessoas que pensavam como eles, os progressistas se tornavam mais progressistas, e os conservadores, mais conservadores.

O declínio da mídia noticiosa tradicional vai acelerar a ascensão do "Meu Jornal"; vamos nos irritar menos com o que lemos e veremos nossas ideias preconcebidas confirmadas com mais frequência. O perigo é que esse "noticiário" autosselecionado aja como entorpecente, mergulhando-nos num estupor autoconfiante por meio do qual enxergaremos as coisas em preto e branco, sendo que os fatos normalmente se desenrolam em tons de cinza.

Qual seria a solução? Incentivos fiscais para progressistas que assistam a Bill O'Reilly [comentarista do canal conservador Fox News] ou conservadores que vejam Keith Olbermann [âncora do canal progressista MSNBC]? Não -enquanto o presidente Obama não nos dá o atendimento médico universal, não podemos correr o risco de um aumento grande no número de infartos. Então talvez a única maneira de avançar seja que cada um se esforce por conta própria para fazer uma malhação intelectual, enfrentando parceiros de discussão cujas opiniões deploramos.

Pense nisso como uma sessão diária de exercícios mentais análoga a uma ida à academia: se você não se exercitou até transpirar, não valeu. Agora, com licença. Vou ler a página de editoriais do "Wall Street Journal".

terça-feira, fevereiro 24, 2009

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE JORNALISMO

Ninguém reclamou (e provavelmente jamais alguém reclamará). Então, antes que surja tal improvável reclamação, vou escrever alguma coisa sobre jornalismo, o troço em que me formei, minha profissão, enfim. Coisa chata, de gueto, mas é só uma vez - a não ser que realmente reclamem...




Execração da objetividade conta com aliados improváveis
ou
Nelson Rodrigues e Norman Mailer versus a falta de imaginação

Eles nunca se encontraram, que se saiba. Um era brasileiro e o outro, norte-americano. Nelson Rodrigues, direitista não-declarado, dramaturgo, escritor e cronista. Norman Mailer, esquerdista confesso, dramaturgo, escritor e articulista. Ambos militantes do jornalismo, ambos plenos de desprezo pela objetividade pregada por faculdades e redações.

Foi Nelson que um dia xingou uns e outros de “idiotas da objetividade”. Foi Nelson que, numa mesa redonda esportivo-televisiva, chamou de burro o videotape que insistia em lhe desmentir o veredicto em relação a uma jogada polêmica. Quase cego, mesmo assim Nelson era frequentador assíduo do Maracanã e tecia verdadeiras epopeias sobre jogos que não via. Quem acompanhava suas crônicas ou leu seus livros de coletâneas, como À sombra das chuteiras imortais, sabe que, se seus textos não correspondiam aos fatos, azar dos fatos – parafraseando o jornalista Fernando Calazans, que por sua vez parafraseara o próprio Nelson*.

Usando outras palavras Norman Mailer disse a mesma coisa. Quem quiser conferir pode folhear a piauí do final de 2008. Nas edições de outubro e novembro a revista dedicou várias de suas gigantescas páginas a cartas que Mailer escreveu ao longo de sua vida. Tratando especificamente do texto jornalístico, o autor de A canção do carrasco vitupera contra quem acha possível ser 100% objetivo.

Mailer elogiava o jornal nova-iorquino Village Voice. “O Voice corresponde plenamente à minha idéia de jornal. Seus textos são parciais, tendenciosos, repletos das idiossincrasias e dos fanatismos de cada autor, exatamente como devem ser”, escreveu. “Não me ocorre maldição mais ameaçadora para o jornalismo do que a objetividade, cujo único efeito é ocultar de nós as preferências do autor, que nos permitiriam reinterpretar o que ele escreve e, assim, fazer alguma idéia do que realmente terá ocorrido. Em vez disso, o que nos passam são as preferências, sem as pistas”.

Pois é: de um modo um tanto quanto mais sofisticado, Mailer em suma fala a mesma coisa que Nelson.

Agora chega de citações.

Só não deixa respingar um pouco de si naquilo que escreve e fala quem não tem opinião própria. Ou seja, seria completamente objetivo apenas o indivíduo desprovido de opinião. Mas aí esbarraríamos num aparente paradoxo: pode um ser que trabalha com a transmissão de informações não ter opinião própria, ainda que tal opinião seja de uma imbecilidade atroz? Provavelmente não. A existência de um indivíduo puramente neutro pressupõe uma alienação total e tal alienação não combina com a responsabilidade ou o ofício de dar publicidade ao que ocorre ali na esquina, na cidade, no país ou no Quirguistão.

Quem (heroicamente) chegou até este ponto deve estar pensando que concordo inteiramente com N&N. Pois bem: para esses digo que atingimos um ponto que existe em todo livro/filme regado a clichês. É hora de reviravolta. Explico: não só não concordo integralmente com a dupla, como também penso que eles não estão de acordo em tudo nesse negócio de descer o cacete na objetividade.

Há diferenças nas motivações de Nelson e Norman. Nosso compatriota esperneava em prol do direito de inventar. Ele escrevia e falava sobre jogos, acontecimentos e pessoas que só existiam em sua cabeça. Algo vagamente baseado na vida real. Já Mailer cobrava estilo próprio, opinião, tendenciosidade, enfim, algo mais de quem se dignava a publicar textos.

Na realidade nenhum dos dois se debruçou sobre a questão do texto puramente jornalístico, aquele que é produzido exclusivamente para descrever um fato. O que é natural, pois eles não foram repórteres na acepção da palavra, não ganharam a vida como profissionais contratados para ir à caça de notícias.

Virando o disco (alguém se lembra dos LPs?), vou passar a falar da notícia em si, dos instantâneos da história, coisas do dia-a-dia, fait-divers (quem encarou faculdade de jornalismo teve que se habituar a termos como este).

Apesar da impraticabilidade da objetividade pura, o que as redações e as faculdades deveriam incutir na rapaziada é a honestidade em relação ao que está sendo informado. No caso do texto puramente informativo – não um artigo como este, por exemplo –, que se procure ouvir todos os lados, que se dê o mesmo espaço aos contendores e que se dê mais valor aos fatos.

Tudo bem que se respeite o estilo do repórter, que se preserve sua individualidade, mas o que deve ficar sempre claro é o que é informação e o que é opinião do autor ou do veículo de comunicação. Dependendo da linha editorial de cada órgão, é possível sim fazer um texto informativo, jornalístico combinado a um virtuosismo maileriano, rodrigueano, machadiano, roseano e outros anos.

Em suma, informação com estética, por favor. Mas sem querer distorcer os fatos, né? Bem, na medida do possível...


*Nota: Eu poderia muito bem ter pulado o Fernando Calazans e informado que estava parafraseando só o Nelson Rodrigues. Mas eu não poderia perder a chance de falar sobre o Zico. É que uma vez o Calazans, defendendo o maior ídolo do Mengão contra os babacas que diziam que o Galinho fora um fracasso na Seleção, escreveu no Globo: “Zico não ganhou nenhuma Copa do Mundo. Azar da Copa!” Tal menção – feita apenas para fins de reforçar ou exaltar meu rubro-negrismo – também serve para corroborar a tese de que a objetividade, já que inalcançável mesmo, tem mais é que ir pro diabo que a carregue.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

ARISTÓTELES OMORRIS NUMA CONVENÇÃO DE ARREBENTAR NÃO SÓ A BOCA DO BALÃO

Interregno de paz e harmonia entre amigos

Aristóteles Omorris

Ponta Grossa, Ouro Fino – Mal havia transpassado os monumentais pórticos do castelo de *** (perdão, leitores, mas por motivos de segurança não posso tornar público o local em que ocorreu o convescote que aqui neste pútrido blog será descrito) e lá estava Dick Cheney, todo sorrisos, a esperar-me para aplicar um sonoro abraço.

Meu velho amigo Cheninho contou-me do orgulho que estava sentindo, pois na reunião daquele ano estariam presentes meninos que haviam sido seus alunos. Pena que outros bons aprendizes não poderiam estar presentes por estarem em temporada de, digamos, férias, na base de Guantánamo e em outras masmor..., ou melhor, instalações dos EUA e aliados espalhadas pelo mundo.

Antes da reunião inaugural sentamo-nos com Osama bin Laden, que naquela época ainda não precisava enfrentar a chateação de ter seu nome confundido com um certo presidente. Isso é péssimo para a reputação do meu barbudo amigo.

Bem, enquanto eu saboreava um produto legitimamente escocês de no mínimo 12 anos, Osama e Cheninho relembravam os tempos em que trabalhavam juntos contra a ameaça soviética. “Pô, Osama, meu nego, tu aprendeu tudo direitinho”, comemorou Dick. “E hoje tu é que me ensina”. “Que nada!”, respondeu o arabesco e modesto interlocutor. “Somos um time. Ninguém é melhor que ninguém. Todos temos uma meta em comum”. Cheninho não pôde conter as lágrimas que passaram a banhar seu róseo rosto.

A sirene gritou que precisávamos nos dirigir ao auditório. Lá fomos nós três e, enquanto caminhávamos, íamos cumprimentando os grandes amigos: Ehud Olmert, Kissinger, Kadafi, o Tarso, a Dilma, Kim Jong-il, Putin e aqueles dignos camaradas do Hamas e do Hezbollah, cujos nomes sempre troco (sorry, friends, hehe).

As palestras, os discursos, as apresentações foram chatas como sempre acontece em eventos do gênero, mas o que valeu foi reencontrar essa gente idealista, empreendedora e que faz girar a riqueza do mundo. Sem meus amigos, o que seria da indústria de armas, de caixões, de limpeza de escombros, de segurança privada de líderes impopulares (povo ingrato!) de ocupações, de construção (ou reconstrução), petróleo, entre outros segmentos (incluindo aquela firma especializada em capacetes militares da qual tenho algumas açõezinhas...)?

Aristóteles Omorris, se não fosse um doido varrido, seria um crápula

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

DICA DE LIVRO: BLACKWATER

Não tivesse sido derrotado por Bill Clinton em 1992, o então presidente norte-americano, George H. Bush, teria, num hipotético segundo mandato, colocado em prática as ideias de seu secretário (ministro, para nós) Dick Cheney. O que o grupo do Bush pai queria fazer? Só privatizar as guerras que os Estados Unidos promoviam, promovem e continuarão a promover mundo afora. Só isso...

Clinton e os democratas venceram e ficaram no poder até o início de 2001, pois nas eleições de 2000 o candidato da situação, Al Gore, foi roubado na apuração dos votos. “Ganhou” George W. Bush, o Bush filho.

De volta ao poder, agora como vice-presidente, Dick Cheney finalmente poderia tirar do papel os planos elaborados pelas mais maléficas cabeças republicanas e transformá-los em realidade. E o impulso/pretexto/desculpa/oportunidade perfeito para isso foi o múltiplo atentando aéreo da Al Qaeda, o famoso 11 de setembro de 2001.

A invasão do Afeganistão e, mais tarde, a guerra no Iraque, propiciou às empresas amigas dos republicanos contratos mais que generosos. Em várias dessas companhias petrolíferas, construtoras, de segurança etc. os membros do governo Bush tiveram participação acionária e até cargos de diretoria. Bilhões e bilhões de dólares migraram do Oriente Médio para a Gringolândia.

Mais do que amigas do poder, tais empresas compartilhavam com o grupo titular da Casa Branca uma visão messiânica das coisas, em que o Cristo salvador eram os Estados Unidos. Com o discurso de que realizavam a vontade de Deus, justificavam as maiores barbaridades contra afegães, iraquianos e outros povos “não-escolhidos”.

É nesse contexto que se insere a Blackwater, a mais poderosa e influente empresa de segurança a manter contratos com o governo estadunidense. Seu dono e fundador, o jovem Erik Prince, cristão fervoroso, embora católico (ou seja, minoria entre os próceres da potência do norte das Américas) e a vertiginosamente ascendente trajetória da Blackwater são os personagens principais do livro de Jeremy Scahill. Mas o que interessa mais é o pano de fundo. É saber o que move e o que pensam as pessoas que mandam no país mais poderoso do mundo. É perceber que elas agem e se justificam utilizando-se de quase as mesmas palavras proferidas pela Al Qaeda, pelo Hizbollah, pelo Hamas, enfim, por todos aqueles que elas juram odiar e/ou combater.

É... As teocracias são bem piores que as outras cracias, pois nestas não há como debitar tudo na conta de um ser etéreo, sobrenatural e – sei lá – inexistente.

Quem quiser saber mais sobre o livro e a respeito de como é que fica essa situação com Obama no poder é só clicar aqui.

sábado, janeiro 17, 2009

PRATÃO, PIPÓCRATES E A "TERRA SANTA"

- Pô, Pratão, não sei onde esconder a cara, velho...
- Esconde no esgoto, de onde nunca deveria ter tirado. Mas o que aconteceu pra tu tá nesse baixo astral todo?
- Dei motivo pra minha filha entrar em depressão, coitada.
- Ah, não vai me dizer que tu falou que as pernas delas fazem as seriemas parecerem elefantes de duas patas...
- Não é nada disso. É que eu falei pra ela: “Filha, acabei de ver o irmão gêmeo idêntico do seu namorado beijando um rapaz na rua”. Daí ela respondeu: “Mas meu namorado não tem irmão gêmeo”.
- Putzgrila...
- Bom, aí a ficha dela foi caindo e o zoim da menina foram se enchendo de lágrimas e... Aí tu já viu, né?
- Mas tu também... Não tinha um jeito mais estúpido de contar pra menina que o namoradinho dela arranhava o azulejo?
- Ah, deixa pra lá! Agora já foi! Vamos mudar de assunto. Quêqui tá passando na televisão?
- Adivinha. Só dá a guerra dos turcos.
- Que mané turco, rapá?! É israelense contra árabe.
- Tudo a mesma merda. Quero mais é que se explodam.
- Tu é um babaca ignorante mesmo, hein? Nem guerra isso é. É um genocídio, bicho! Os israelenses tão usando tanque de guerra contra estilingue!
- Mas esses terroristas não são flor que se cheire não! Têm que levar chumbo!
- Desde quando velha e criança de dois anos são terroristas? Eles tão passando o rodo, mermão!
- Se os israelenses tão dando uma de Hitler, por que os outros turcos não fazem nada pra ajudar os palestinos, pô?
- Porque os que não tão comprado tão borrando de medo dos americanos, viado!
- Então é tudo uma cambada de bunda-mole!
- Pode ser, mas perto de Israel e dos Estados Unidos eles são favelados donos daqueles cachorrinhos bichas, os pinchers, parece. Tu vai colocar seu pincher pra brigar com o fortão da esquina que tem um pit-bull anabolizado?
- Mas eles são maioria, porra! Deviam ir à luta!
- Eles vão, quer dizer, alguns deles, mas com as armas que têm à mão. Mas não dá pra enfrentar o pit-bull dos americanos, merda! Israel é o pit-bull que os gringos colocaram pra botar “ordem” na casa das Arábias.
- De vez em quando os chihuahua dão uma mordidinha...
- Se tu não controla seu cachorro bravo, ele faz o que quer. Ele ataca qualquer um. É isso: os americanos não fazem questão de tirar do armário a coleira do pit-bull. Daí o canino abusa. Os israelenses tão agindo como animais irracionais, esquecendo que o povo judeu foi vítima de toda espécie de atrocidades. E os americanos só injetando mais anabolizante e deixando o bicho mais feroz.
- Mas, se tu puxa a coleira, a multidão de cachorrinho aproveita e mata o pit-bull, em vez de amansar a fera.
- Tem que ter um jeito de ir puxando aos poucos. Tem que ir recolhendo o leite derramado, porque o dono criou o pit-bull desde o início pra ele agir como tá agindo. Pra mudar vai ser o cão chupando manga.
- Que cão? Pit-bull?
- Sua mãe, vagabundo!
- Vai pro inferno!
- Não, porque o Aristóteles certamente vai morar lá.
- Se é que o Totó não é um enviado do capeta...
- Nisso tu pode tá certo.

Filósofos de rua em tempo quase integral, Pratão e Pipócrates discordam em tudo, menos no sincero e fiel desprezo à figura de Aristóteles Omorris, que não comunga da tese de que Israel repete na geopolítica o que acontece em termos de comportamento humano. Explico: para os psicanalistas, o agressor de hoje é o agredido de ontem, traumas do passado vão se refletir no futuro etc.