domingo, junho 25, 2006

LITERATURA: UM ESCRITOR INJUSTAMENTE DESCONHECIDO

“Desconhecido” em termos. O grande público de hoje pode jamais ter ouvido ou lido o nome Gilbert Keith Chesterton. Ou G.K. Chesterton, como também era conhecido. Mas em sua época ele foi quase um Dickens, para ficar numa comparação entre ingleses.

Antes de tudo sua narrativa era deliciosa. Na verdade, ainda é, pois a obra é imortal. Felizmente. Seus textos são impregnados de humor, como forte pendor para a ironia e o sarcasmo. Como brinde, recebemos generosas pitadas de erudição.

Para os mais jovens, especialmente os aficcionados pelos quadrinhos adultos, um bom incentivo para a leitura de Chesterton é o fato de ele ter sido citado em uma das histórias de Sandman, de Neil Gaiman. Numa das cenas de uma das primeiras edições da célebre revista, na Biblioteca das Obras que Nunca Foram Escritas, aparece em uma estante um exemplar de “O Homem que era outubro”, de G. K. Chesterton. Uma alusão ao livro - este, sim, escrito e publicado - “O Homem que era quinta-feira”.

Para quem já conhecia o livro, não foi uma surpresa a citação-homenagem de Gaiman. Afinal, a trama da obra tem muito a ver com enredos de sonhos, o material de que vive Sandman, ou Morpheus, o Mestre do Sonhar.

O ambiente onírico, aliás, remete a outro autor espetacular, Franz Kafka. E a leitura dessa gente toda, desconfio, deve ter influenciado o tecedor destas linhas, cuja obra também apresenta um ou outro componente de sonhos. De uma coisa tenho certeza: o próprio estilo dos meus sonhos (e pesadelos) influenciou minha escrita.

Mas estou aqui é para dar esta dica: leiam Chesterton. Além do livro acima citado, seria bom também não deixar de lado toda a série de contos do Padre Brown, um detetive que não deve nada a Sherlock Holmes. Com a vantagem de contar com a escrita mais refinada do velho G.K. Ah, tem ainda os ensaios.

Confira abaixo uma pequena biografia do grande escritor:

GILBERT KEITH CHESTERTON

Prolífico crítico inglês e autor de versos, ensaios, novelas e de curtas histórias. Chesterton foi, com George Bernard Shaw, Hilaire Belloc, e H.G. Wells, parte dos grandes homens edwardianos das letras. Ele é, provavelmente, mais conhecido por sua série sobre o padre-detetive Father Brown, que apareceu em 50 histórias. Entre 1900 e 1936, Chesterton publicou uns cem livros.

"A grande massa da humanidade, com sua grande massa de livros vazios e de palavras sem valor, nunca duvidou e nunca duvidará que a coragem é esplêndida, que a fidelidade é nobre, que as donzelas em apuros devem ser salvas, e que inimigos vencidos devem ser poupados. Há um grande número de pessoas cultas que duvidam destas máximas da vida diária, justo, existe um grande número pessoas que acreditam que são o Príncipe de Gales; e eu tenho dito que ambas as classes de pessoas são agradáveis de se conversar." (de 'Uma defesa da moeda de um centavo Dreadfuls', 1901).

G.K. Chesterton nasceu em Londres-Inglaterra, no dia 29 de maio de 1874, numa família de classe média. Não aprendeu a ler até os oito anos e um de seus professores disse a seu respeito: "se nós abríssemos sua cabeça, nós não devemos encontrar o cérebro, mas somente uma protuberância da gordura branca." Chesterton estudou na University College e na Escola Slade de Arte (1893-96). Por volta de 1893, atravessou uma crise de ceticismo e depressão, e durante este período, Chesterton experimentou práticas de Ouija e cresceu fascinado com as artes mágicas. - Em 1895, Chesterton deixou a University College sem ter colado grau e trabalhou em Londres para o editor Redway, e T. Fisher Unwin (1896-1902).

Muitos de seus trabahos foram publicados, em primeira mão, por veículos como The Speaker, Daily News, Illustrated London News, Eye Witness, New Witness e em seu próprio semanário de G.K.'s Weekly. Chesterton renovou sua fé cristã; também o namoro com sua futura esposa, Frances Blogg, com quem casou em 1901, ajudou-o a sair da crise espiritual.

Em 1900, apareceu GREYBEARDS AT PLAY, a primeira coleção dos poemas de Chesterton. ROBERT BROWNING (1903) e CHARLES DICKENS (1906), eram os literatos biografos. THE MAPOLEON OF NOTTING HILL (1904), foi a primeira novela de Chesterton, uma fantasia política, na qual Londres é vista como uma cidade de ocultos contos de fadas (mentiras) cintilantes, e no THE MAN WHO WAS THURSDAY (O Homem que era quinta-feira, 1908) Chesterton retrata a decadência do final do século. O protagonista, Syme, é um poeta que se tornou empregado da Scotland Yard, e que revela uma vasta conspiração contra a civilização. Os membros do grupo secreto anarquista são nomeados por dias da semana. Sunday (Domingo) é o de caráter mais misterioso, que diz que, desde "o começo do mundo, todos os homens caçavam-me como um lobo - reis e sábios, poetas e donos da lei, todas as igrejas e todos os filósofos. Mas eu nunca fui capturado." Uma adaptação para o teatro da história, pela Sra. Cecil Chesterton e Ralph Neale, foi produzida em 1926.

Em 1909 Chesterton mudou-se com sua esposa para Beaconsfield, uma vila 25 milhas ao oeste de Londres, e continuou a escrever, a fazer conferências e a viajar com bastante energia. Entre 1913 e 1914, Chesterton foi um contribuinte regular do Daily Herald. Em 1914, sofreu problemas físicos e nervosos. Depois da Primeira Grande Guerra, Chesterton tornou-se líder do movimento Distributist, e mais tarde o presidente do Distributist League, promovendo a idéia de que a propriedade privada deveria ser dividida em propriedades menores e então ser distribuída por toda a sociedade. Em seus escritos, Chesterton expressou também a sua desconfiança nos governos do mundo e no progresso evolucionário, sua visão era, freqüentemente, ruralista, antimodernista e vitoriana. Ele também foi um locutor de rádio muito popular, cativando em uma série de debates com George Bernard Shaw. Seu irmão mais novo, Cecil, morreu em 1918, e Chesterton editou para seu irmão a 'New Witness' (Nova Testemunha) e seu próprio semanário, o 'G.K.'s Weekly'.

Observou Chesterton, ao ver pela primeira vez as luzes brilhantes e cintilantes da Broadway: "Como seria bonita para alguém que não pudesse ler." (The Wordsworth Book of Literary Anecdotes by Robert Hendrickson, 1990)

Em 1922, Chesterton converteu-se do Anglicanismo para o Catolicismo Romano, e depois disso escreveu a diversos trabalhos orientados à teologia, incluindo as Vidas de Francisco de Assis e de Tomás de Aquino. Chesterton foi agraciado com graus honoríficos de Edimburgo, de Dublin e da universidade de Notre Dame. Em 1934, ele tornou-se Knight Commander with Star (Comandante dos Cavaleiros da Estrela), ordem de São Gregório, o grande.

Chesterton morreu em 14 de Junho de 1936, em sua residência, em Beaconsfield. Seu caixão, demasiado grande para ser carregado escadaria abaixo, teve que ser abaixado da janela à terra. Dorothy Collins, secretária de Chesterton, gerenciou seu acervo literário até sua morte, em 1988.

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