segunda-feira, maio 26, 2008

PRATÃO, PIPÓCRATES E O SISTEMA DE COTAS

- Velho Prato, o Aristóteles tá espalhando por aí que tem curso superior.
- O Totó? O Omorris? Ele tá de brincadeira, idoso Pipo.
- Ele entrou pelo sistema de cotas.
- Mas ele se diz branco e racista...
- Entrou na cota pra viado.
- AHAHAHAHAHAH!!!
- Ah, se no meu tempo tivesse esse troço...
- Tu ia entrar por qual critério? Cota pra feio?
- É! E tu ia na cota pra corno!
- AHAHAHAHAHAH!!!
- Trem besta esse negócio de cota, né não?
- Ué, por quê?
- Ora, discriminação de Estado é coisa do Apartheid, do antigo sul dos Estados Unidos ou da Alemanha do Hitler.
- Mas como compensar os séculos de escravidão dos negros?
- Não se pode justificar erros do presente com erros do passado, porra!
- Mas as elites deixaram os negros no atraso. Tem que haver uma forma de facilitar a eles pelo menos o acesso ao ensino superior.
- Todos são iguais perante a lei. A Constituição garante tratamento igual pra todo mundo. O problema está na merda do Estado, que não consegue garantir ensino público e gratuito de qualidade pra quem tá no básico e no médio, pô! Isso é que precisa ser corrigido.
- Mas enquanto esse ideal não for alcançado, precisamos dar um jeito de remediar as coisas.
- Daí a merda do Estado se acomoda e nunca conserta o essencial. Vai ficar só mexendo com o acessório. Ah, vai t...
- Que ao menos se criem cotas para as pessoas carentes. Na faixa mais baixa de renda é que tão os negros...
- É a mesma merda, porra!
- Não. Entre os pobres tem gente de todas as raças e...
- Tu vai atacar os efeitos e deixar a causa quietinha, tranqüilinha, deitada na rede, tomando água de coco e olhando a mulherada na praia.
- A causa é lésbica?
- Ah, vai te f...
- Calma, calma...
- Pobre, rico, preto, pardo, branco, índio, viado, perneta... todo mundo precisa freqüentar escolas de ensino fundamental e médio de boa qualidade, sejam particulares ou públicas. Aí todos vão entrar no filtro pra faculdade em pé de igualdade. Sistema de cota é discriminação, além de ajudar a esculhambar ainda mais nosso ensino superior.
- Tu é um racista podre.
- Ah, vai tom...
- Vai você primeiro!
- Tá bom. Então vamo pro buteco porque ainda tem muito podre do Totó pra gente colocar em dia.
- Agora tu falou bonito. Sabia que foi o Lorde Byron que fez a prova do vestibular pro Totó?
- O macaco dele?
- O próprio.

Pratão e Pipócrates se auto-intitulam “filósofos de rua” e não concordam em nada, exceto no desprezo visceral a Aristóteles Omorris

sexta-feira, maio 09, 2008

CERTO ESTÁ O JOEL, QUE SE MANDOU PRA ÁFRICA DO SUL

Logo depois da final do Campeonato Carioca (maravilhosos 3 a 1, de virada, sobre o Botafogo, dia 4 de maio de 2008) eu comecei a pensar em um texto retumbantemente ufanista, laudatório e completamente imparcial sobre a (mais uma) conquista do Flamengo.

Eu poderia ter batido bem doído não só no Botafogo, mas também, de passagem, no Vasco e no Fluminense. Falaria que o time da lacrimosa estrela solitária tornou-se um viceado, tal qual o clube de São Januário. Enfim, na noite de domingo ou no mais tardar na segunda-feira eu escreveria que o vício ao vice estava se espalhando entre nossos rivais.

O tricolor das Laranjeiras não entraria apenas de gaiato na história. Afinal, o rubro-negro chegou ao seu 30º título estadual, igualando-se à purpurinada turma do pó-de-arroz. Na verdade, na média, já éramos há muito tempo os grandes papões de título no Rio, pois, quando o Flamengo começou a jogar futebol, em 1912, o Fluminense e o Botafogo já haviam conquistado vários campeonatos.

Mas eis que alguns contratempos impediram-me de postar um texto dessa estirpe no domingo, na segunda, na terça... Quando chegou a quarta-feira, bem, aí já haveria o jogo com o América do México que meramente sacramentaria nossa classificação para as quartas-de-final da Copa Libertadores.

Maracanã cheio, classificação quase garantida pelos 4 a 2 que uma semana antes havíamos aplicado na altitude da capital mexicana, despedida de Joel Santana, o misto de mago e treinador, já contratado pela seleção da África do Sul, enfim, tudo preparado para mais uma festa.

Bem, houve festa... mas com maracas e mariachis. Podíamos perder até por 2 a 0. Foi 3 a 0 pros hombres. Meu triunfante texto havia definitivamente ido para o vinagre.

Depois da noite de quarta-feira, dia 7 de maio de 2008, vexame histórico consolidado, o único lugar em que eu gostaria de estar era na bagagem do Joel. África do Sul, lá vamos nós!