segunda-feira, agosto 04, 2008

VIDAS COMPARADAS: KARL E BILL

Pudesse Plutarco ser revivido nos dias de hoje, certamente ele lançaria mais um volume de suas Vidas Comparadas (ou Vidas Paralelas). Em vez de falar de Alexandre, César e outros figurões dos mundos grego e romano, logicamente ele compararia, por exemplo, Napoleão com Hitler, Mao com Stálin e assim por diante.

Uma comparação que eu, via e-mail, encomendaria a ele seria entre Karl Marx e Bill Gates. De um lado o homem que previu o (e principalmente torceu pelo) fim do capitalismo e do outro o sujeito que chegou à posição de homem mais rico do mundo devido ao sucesso do seu sistema operacional para computadores pessoais.

Talvez eu conseguisse instigar Plutarco informando-lhe que Marx era um pobretão que vivia da generosidade do filhinho de papai Engels. “Velho Pluta, sabia que eles execravam o capitalismo e enalteciam aventuras como a Comuna de Paris e outras tentativas de deter o ritmo natural da história e da evolução mental da humanidade?”, perguntaria eu, já cheio de intimidade.

“E esse nativo do Novo Mundo, o Guilherme Portões?”, indagaria o redivivo grego das antigas, ainda com a velha mania de transliterar nomes gringos. “Por que compará-lo com filósofos, se ele é inventor e homem de negócios?”

Aí então é que eu entraria com minha cartada principal. “Pluta, grego velho, o negócio é o seguinte: esse Bill ganhou tanto dinheiro, jogando pelas regras do capitalismo, que parou de trabalhar. Agora ele, ao lado da mulher, gasta grande parte do que juntou para ajudar os mais pobres, ou seja, tentando remediar a situação daqueles que supostamente eram defendidos por Marx”.

“Meu jovem”, diria Plutarco, de forma solene, “por acaso estás a insinuar que, caso o bárbaro das terras do norte tivesse conseguido acabar com o tal capitalismo, o homem dos portões não teria atingido êxito pessoal e, por conseguinte, não poderia ajudar os menos favorecidos pela sorte?”

“Mais ou menos isso, Pluta, meu chapa”, bravataria eu. “Mas o importante é que, como sempre, o problema não está no sistema, mas no próprio homem. Já no tempo de Marx existiam empresários preocupados com o bem-estar dos outros. Claro que a maioria só pensava na saúde do próprio bolso. Hoje proliferam ações em prol de pessoas e comunidades carentes. Essas coisas vão mudando naturalmente, sem revoluções, sem soluções violentas. Tudo vai se ajustando para que no futuro o presente seja cada vez menos injusto. Fora disso, qualquer extremismo termina em tragédia. Não devemos parar de denunciar os abusos, de lutar por um mundo melhor, mas a verdadeira subversão está em ‘derrotá-los’ dentro das regras deles”.

“Isso é meio grego para mim, mas vou pensar em tua sugestão, embora eu esteja recebendo muito, mas muito mais pedidos para escrever biografias comparadas de Britney Spears e Lindsay Lohan, Amy Winehouse e Paris Hilton, Chuck Norris e Steven Seagal, entre outros nomes dos quais não consigo me lembrar”.

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