segunda-feira, novembro 10, 2008

TRECHO COMPLETAMENTE ALEATÓRIO E FORA DE CONTEXTO DO LIVRO "A CONFRARIA DOS HOMENS DE BEM"

Logo agora que estava em via de psicopatização. Não, o garoto estava bem e logo entraria em contato. Se não o encontrasse na revista, tinha instruções para procurar Abel em ca­sa. Ou em qualquer outro lugar a qualquer momento. Seu celular estaria sem­pre ligado. Certamente Saito estava esperando pelo aparecimento do informan­te. Era preciso paciência nessas situações.
Já no estacionamento Abel realizou o ritual que já se tornava um hábi­to. Discretamente tentava detectar atitudes e veículos suspeitos pelas ime­diações. Viu apenas o pipoqueiro e o vendedor de algodão doce, na verdade agentes de segurança disfarçados contratados por Sforza. Foi-lhes dito que o editor da Proeza vinha sofrendo ameaças e que precisava de uma vigilante proteção. Do outro lado do estacionamento um Tempra branco esperava que Abel saísse para que logo em seguida o escoltasse, procedimento do qual ele já estava a par. Podia partir tranqüilo e colocar-se à espera do deputado, um tipo de ídolo dos confrades, ou então o eleito entre eles para alcançar por outros meios aquilo que eles conseguiam pela remoção de “entraves que impedi­am que a sociedade alcançasse a harmonia e o bem-estar em sua plenitude”.
Pensavam que ele precisava ouvir as palavras de Rosa para finalmente abraçar a causa dos homens de bem. Será que eles não percebiam que ele já pouco se importava se eles matavam suas vítimas por enforcamento ou inani­ção? Que ele já aceitara o que lhe acontecera como natural e inevitável? Os últimos meses ensinaram-lhe a ser mais pragmático. Um tanto quanto cínico ele já era. Agora ele dizia a si mesmo que não adiantava continuar a sentir remorsos ou culpa. O que ele poderia fazer? O sangue não deixaria de impreg­nar suas mãos em hipótese alguma. Se denunciasse a Confraria, poderia ganhar proteção da polícia enquanto assistia às investigações sobre as atividades dos confrades. Proteção? Eles prometeram que não lhe infligiriam nenhum dano físico. Enfim, conseguiriam provar alguma coisa contra eles, contra conspi­radores tão eficientes e meticulosos? Se eles fossem presos, se a Confraria fosse desmantelada, os estranhos e fatais incidentes cessariam, mas os atos inescrupulosos daqueles ligados à administração e à representação públicas continuariam a causar sérios problemas aos menos favorecidos. Eles sujaram suas mãos para sempre ao travarem com ele o primeiro contato.
Melhor permanecer do lado mais justo. Ou menos injusto. Tanto melhor que conseguiu um bom emprego, um salário invejável e a vida que teria pedido a Deus se acreditasse em um. Que importava se estava convencido ou não da justeza dos atos da Confraria? Não estava minimamente disposto a abrir mão do que conquistara; não apearia do cavalo da fortuna. Conversaria normalmen­te com o deputado. Mas nada do que lhe fosse dito alteraria seu pensamento. Estava sinceramente curioso a respeito das idéias daquele homem. E do próprio homem. Queria saber detalhes de seu projeto. Sentia-se privilegiado por vislumbrar o embrião de uma candidatura à presidência da República. Um con­frade-presidente. Idéia impensável, de difícil digestão.

Aleksei preferiu não mencionar ao seu editor o que tinha em mente. Mais prudente seria esperar. Queria conversar antes com Abel; e também deixar que a polícia brasiliense apurasse alguma coisa. Por enquanto, nada de fugir do trivial que o cotidiano lhe oferecia fartamente. O caçula da família Vale dava os retoques finais em sua matéria sobre o dia-a-dia de alguns mendigos da cidade de São Paulo, seus hábitos, seus pensamentos, suas hipóteses sobre o sentido da vida. Descobriu um sem-teto que fora engenheiro, realizador de várias obras de vulto no passado, construtor de viadutos e pontes para anti­gas gestões da prefeitura, e que agora tinha como residência o vão de uma de uma das construções que assinara.

Seus dedos deslizavam pelo teclado não tão rápido como de costume por­que estava fixa em sua mente a imagem com a qual fora agraciado na noite anterior. Depois de deixar o jornal e voltar para casa esperava, ao abrir a porta, encont

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