quarta-feira, outubro 22, 2008

ARISTÓTELES OMORRIS E O ÁPICE DO DELÍRIO

A insustentável grandeza do (meu) ser

Aristóteles Omorris

Louis, Vuitton –
Curioso a respeito do como-ser-pobre, resolvi fazer uma experiência científica, que, claro, envolveu toda a minha magnânima humildade. Abri mão de usar minha fortuna e passei a viver em uma morada para pessoas de baixo rendimento. A experiência já dura algumas décadas, mais precisamente desde minha mais tenra e rica infância.

O empiricismo, o mergulho na coisa-em-si sempre foi algo muito forte em mim. Minha entrega ao trabalho é de tal ordem que muita gente pensa com toda a força de todos os seus dois neurônios que eu sou realmente um pobre. Somente aqueles com capacidade superior, que conseguem enxergar além da superfície e têm a capacidade de decifrar a linguagem corporal conseguem detectar a magnitude do meu ser. Sinto informar que ainda não encontrei alguém com tal habilidade. Em verdade, encontro diariamente. Quando fito o espelho.

É imperativo e categórico que vivenciemos todas as situações as quais forem possíveis para que possamos atingir a plenitude da sabedoria, para que um dia sejamos nirvanicamente capazes de ter uma compreensão holística do vir-a-ser, do ex-devir, do existir, enfim, de toda a fenomenologia que abrange o universo em que as coisas são.

Posicionado alguns (muitos, dizem inúmeras pessoas) degraus acima da intelligentsia que supostamente comanda o planeta, precisei rebaixar-me aos extratos mais repugnantes da sociedade. Embora ainda estejam incompletos meus estudos, posso adiantar que eles já representam a maior das vitórias da epistemologia em todos os tempos.

Às vezes volumosas, dignas e honrosas lágrimas resolvem empreender visitas aos meus belos olhos. Ocorrências do gênero vêm à baila sempre que volta à tona no mar de minha consciência o heracliano sacrifício pessoal que venho fazendo durante toda a minha vida desperta. Poderia eu dar de ombros às misérias, mazelas e opróbrios do mundo e afogar-me em espumantes de França, empanturrar-me de beluga, sufocar-me de cubanos, trocar de jato (com suíte presidencial, hidromassagem, torneiras, puxadores e outros artefatos, todos em ouro) todo ano... Enfim, entregar-me a uma dolce vita eterna – ainda que merecida. Mas não, au contraire.

Aqui estou, em benefício da humanidade, vivendo entre as mais reles criaturas, suportando sinas malsãs – como escrever para este escatológico blog e suportar figuras ridículas e invejosas como Pratão e Pipócrates – e tudo isso para quê? Para ser incompreendido e tachado de um mero e asqueroso POBRE!

Oh, ciência pura e verdadeira, quantas vilanias já foram cometidas contra teu nome? Mas não cantem vitória antes do tempo, ignóbeis forças do mal e da ignorância. Vou continuar vivendo em meu paupérrimo casebre, com o bom e fiel Lorde Byron (um símio que, apesar das inverdades lançadas ad nauseam por aí, não é meu ghost writer) e desenvolvendo minhas pesquisas, sempre pensando, de forma ferozmente altruística, no progresso de toda a humanidade. Termo que não tenho certeza se abarca o titular deste blog e os já citados energúmenos.

Aristóteles Omorris é colunista de meio período e canalha em tempo integral

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