domingo, julho 02, 2006

UMA COPA JOGADA NO LIXO

O elenco mais caro do planeta, as maiores estrelas, o maior número de titulares nos clubes mais importantes da Europa. Tudo isso e muito mais o técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, tinha em mãos. Mesmo assim ele conseguiu ser eliminado nas quartas-de-final da Copa do Mundo, ao perder para a França por 1 a 0 no sábado (1º/7), em Frankfurt, na Alemanha.

Evidentemente faltou vontade a alguns jogadores, especialmente aos mais badalados, com especial destaque para Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos - o que é um absurdo, pois, se um jogador não se enche de determinação para disputar uma Copa, tê-la-á para quê? Sim, faltou vontade, mas competia ao treinador remover da equipe titular os integrantes do MSP (Movimento dos Sem-Paixão).

Cafu, Adriano, Ronaldo, Emerson e Kaká até que demonstraram alguma vontade, mas não estavam em suas melhores condições físicas e/ou técnicas. Também caberia a Parreira deixar no time somente aqueles dentre estes que pudessem ser úteis à Seleção.

Não estava tão difícil chegar ao hexacampeonato. Se o Brasil tivesse jogado desde o início com um time determinado e forte física e mentalmente, não teria dificuldades para bater a França e depois, nas semifinais, o time de Portugal, liderado pelo aguerrido e passional Luiz Felipe Scolari. Na final, contra os entusiasmados donos da casa ou os insidiosos italianos, tudo poderia acontecer.

Mas Parreira - principalmente ele - “optou” por jogar fora a possibilidade do título. Sem coragem ou personalidade para tirar do time jogadores que não eram apenas seus comandados, mas também seus amigos (alguns de longa data), o treinador preferiu tornar-se um torcedor. Passou a torcer para que o talento individual aparecesse de uma hora para outra e que, a qualquer momento, decidisse as partidas.

Funcionou contra times mais fracos. Foi difícil, o Brasil sofreu, mas passamos por Croácia, Austrália e Gana. Foi tranqüilo somente diante do Japão, “coincidentemente” no dia em que Parreira decidiu poupar Cafu, Roberto Carlos, Emerson, Zé Roberto e Adriano.

Sim, o time japonês, dirigido por Zico, marca mal e precisava vencer por boa diferença de gols, o que facilitou o trabalho brasileiro. Mas foi possível perceber que Cicinho, Gilberto, Gilberto Silva, Juninho Pernambucano e Robinho estavam num momento melhor que o dos titulares. À exceção de Zé Roberto.

No entanto, na partida seguinte, lá estavam de volta os integrantes do MSP. A vitória veio, devido à incompetência de Gana, o que deu a Parreira a ilusão de que o time dos seus chegados poderia passar pela França, que havia feito uma sofrível primeira fase. Uma alteração deu um certo alento a muita gente: saiu Adriano e entrou Juninho, com Ronaldinho Gaúcho sendo passado para o ataque, onde ele joga no Barcelona.

O problema é que os laterais não foram trocados. O esquema tático brasileiro, para funcionar, precisa de laterais com vigor e qualidade para defender e atacar o tempo todo, que façam ultrapassagens e que vão à linha de fundo sempre. Foi assim contra o Japão. Foi assim que o Brasil encantou o mundo nos dois jogos finais da Copa das Confederações no ano passado. Naquela ocasião os laterais também eram Cicinho e Gilberto.

Desse modo, o time, mesmo com Juninho e sem Adriano, não funcionou. No intervalo, se quisesse continuar na Copa, Parreira deveria ter trocado os dois laterais e colocado Robinho no lugar de um dos apáticos (e não galácticos): Kaká ou Ronaldinho Gaúcho. Mas ele só foi fazer uma mudança depois dos 15 minutos da segunda etapa. Pior: mexeu errado. Colocou Adriano no lugar de Juninho e voltou a uma formação que não vinha funcionando!

Queimada uma substituição, ele poderia fazer mais duas. Mas resolveu alterar novamente o time só depois dos 30! Tirou Cafu e colocou Cicinho, trocou Kaká por Robinho. A equipe ficou mais rápida, incisiva e criou nos minutos finais o que não tinha criado por muito mais de uma hora. Mesmo com o peso morto de Adriano em campo. Mas era tarde demais. O título já estava na lata de lixo.

Foi apenas a culminância de uma sucessão de erros perpetrados por um Parreira que parece ter perdido o pulso de 1994. Quem viu os treinos da Seleção na Suíça e na Alemanha sabe que o treinador não mostrou muita disposição pelo trabalho, não ensaiou jogadas, não experimentou alternativas táticas e não conseguiu com que a maioria dos jogadores percebesse que o que estava em jogo era uma Copa do Mundo e não uma pelada entre casados e solteiros.

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