segunda-feira, julho 31, 2006

TRECHO DE "A CONFRARIA..."

Ao contrário da confirmação da explosão inicial, os famintos confrades não tiveram de esperar muito pelo almoço. Costa Jr. e Luft trouxeram uma grande variedade de pratos, embalados em papel laminado, para agradar todos os gostos. Sentados a uma mesa na sala da casa, Abel e Raful puderam enfim fazer um breve intercâmbio de frases. Mas, perto deles, outros também tive­ram a condenável idéia de conversar durante a refeição.
— Essas marmitex — disse Luft —, essa igualdade entre ricos e po­bres, todos comendo sem luxo algum, uns dentro de casa, outros fora (até um deputado entrou na dança) deve te deixar alegre, hein, Arão? Sente no ar um cheiro de comuna, de kibutz, é ou não é?
— Vejam só — disse Arão, dirigindo-se a Abel, Raful e outros circuns­tantes. — Eu passei uma temporada no PC do B durante meus primeiros anos de faculdade. Tudo bem, admito. Mas foi uma fase. Já passou. Não acho que devo ficar pagando por esse pecado a vida toda.
— Mas você tem amigos lá. Tem até parentes. O irmão dele é um empe­dernido líder estudantil comunista.
— Ele é jovem, vai mudar. Até o partido está mudando. O que não deve mudar nunca (nem poderia) é a defesa dos opri­midos, do povão, o combate à lógica grotiana.
— De Grotius? Aquele que disse que os que caíram na servidão de forma legítima devem ficar contentes com sua sorte?
— Exato. O mesmo Grotius que considerava o estado um corpo perfeito de pessoas livres reunidas para gozar pacificamente de seus direitos. Não é uma beleza de contradição? A sociedade perfeita para quem não deu o azar de nas­cer servo.
— Isso já é da fase contratualista, que culminou em Rousseau. Chamam a Idade Média de era das trevas, essas coisas, mas foi lá na Idade Média que Guillaume d’Ockham disse que o livre-arbítrio é o fundamento da sociedade.
— Muito bonito. Depois vem um Hobbes...
— Não fale em Hobbes perto de mim — sorriu Luft.
— Entendo a aversão que você deve ter a Hobbes, que achava que toda a infelicidade dos homens vem de não saberem a quem eles devem obedecer em sã consciência. Isso vai contra toda a sua pregação individualista. Você está mais para Leroy-Beaulieu, que denunciava o estado tutor universal, sua mega­lomania em querer intrometer-se nos progressos humanos. Não me lembro direi­to se foi ele quem disse que o estado não tem a obrigação de buscar, ou pro­curar, a felicidade universal. Se não foi, fica sendo.
— Tenho aversão a Hobbes e até a Rousseau, a quem Maritain acusava de querer forçar o povo a ser livre. Para Maritain, o povo é a própria substân­cia do corpo político. O povo está acima do estado, o povo não é para o es­tado, o estado é para o povo.
— Maravilha — Ironizou Arão, deixando o garfo no prato e aplaudindo. — O ideal seria isso aí. O chato é a distorção. Meus ex-camaradas bolchevi­ques se consideravam o povo no poder. “O estado para o povo”. Mas que povo? Havia um povo manso, cordeirinho: este merecia viver; o outro povo, que ousou reclamar das arbitrariedades cometidas pelo “estado popular”, este deveria ser (e foi) descartado.
— Não sei não, mas você é da corrente revisionista, não?
— Por que você não desiste, Bruno? Não sou de corrente alguma, já me desintoxiquei do partido. Agora, acho que vai ser bom para eles ser submeti­dos ao chicote da verdade.
— Então vocês, ou melhor, eles se reerguerão redimidos, purificados dos velhos erros. Mas será que continuarão autodenominando-se comunistas, socialistas? Pois uma revisão dos dogmas, uma atualização de objetivos, de práticas, pressupõe uma troca de filosofia política, ou não?
— Não, não. O sonho socialista permanece vivo.
— Ato falho, ato falho! Vocês ouviram. Ele encheu o peito para falar que o “sonho socialista permanece vivo” — Bruno imitou o amigo.
— Eu só repeti uma frase que eles usam. O partido apenas passaria a incorporar a democracia, a liberdade individual, a pluraridade política como aceitáveis.
— Entendo. Tamanho do estado, ingerência na economia, burocracia, esse tipo de coisa não será revisto. Só me faz lembrar Eric Weil, para quem as filosofias políticas se definem pela quantidade de administração que admi­tem.
— Mas não se preocupe, Bruno. Hoje em dia não existe nenhum saint-si­moniano entre eles. Embora meu irmão, por exemplo, respeite um dos inspira­dores do marxismo...
— Fonte de Marx e Engels, para ser mais exato.
–– Embora respeite o sonho utópico bem-intencionado de Saint-Simon, meu irmão acredita que ninguém dentro dos movimentos socialistas vá redigir uma cartilha para distribuir as tarefas de cada um na nova sociedade que virá.
–– O que mais gosto em Saint-Simon –– disse Luft –– é quando ele ordena que os artistas empreguem seus talentos para apai­xonar a sociedade geral pela melhora de sua sorte. É a anulação da persona­lidade em seu paroxismo; a supressão da vontade, da criatividade, da imagi­nação até. Ao ordenar que o artista faça isso, dessa ou daquela forma, o verdadeiro criador é o que está por trás, mandando, enquanto o artista deixa de ser artista.
— É verdade: “Seja otimista, senão...” — Arão passou o dedo indicador direito pelo pescoço.
— Se for para recorrer a utopias, fiquemos com um dos menos utópicos dos autores do passado: Adam Smith. Já vejo que torce o nariz, Arão. Não, ele não revela um sonho utópico. Mas depois de discorrer sobre suas idéias, como a de que o crescimento econômico deve ser buscado como um meio de me­lhorar as condições de vida de todos; que para garanti-lo as instituições devem ser responsáveis pela sociedade, o que significa que devem ser tão internacionais quanto as principais relações econômicas de uma sociedade; e que essas instituições devem ser constantemente revistas pelo legislador (ponto importante, quando muita gente por aqui vê como defeito as revisões que se fazem em nossas constituições, por exemplo). Por fim (agora chego ao que me propus), diz Smith que compete à filosofia da sociedade proporcionar ao legislador idéias que o orientem, suas utopias.
— Ou seja, o legislador está muito ocupado legislando, ele é um pro­fissional da legislatura, então ele deve pegar as utopias fora de si, não é isso?
— Alguém deve pegar as utopias e tirar o melhor proveito de cada uma delas.
— Exatamente o contrário do que prega o Sócrates de Platão. Smith sim­plesmente trabalha com uma certeza que em Platão ainda era dúvida.
— Isso: a impossibilidade do rei-filósofo.
— Um rei-filósofo como poderia ter sido Spinoza, que escreveu, com toda simplicidade, que a finalidade do estado é a liberdade.
— Que coisa linda... — suspirou Raful.
— Lindo, realmente lindo — disse Luft. — Bonito na teoria, mas na prática é como Freud considerou, isto é, que o estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los. Na verdade é como Pierre Clastres disse: a terra sem mal é a sociedade sem estado.
— A coisa linda a que me referia — disse Raful — é a cultura enci­clopédica de vocês dois, jovens. Essas coisas me emocionam.
Como podia esse homem ser um dos mais ativos membros daquele esquadrão da morte de luxo? Abel ainda não acreditava.
– Mas seria bom que vocês distribuíssem a bibliografia após suas discussões – arrematou o policial.

sábado, julho 29, 2006

FRASES PARA DEPOIS DAS FÉRIAS

- Considerava-se tão deslocado no mundo que acabou achando que era o amigo imaginário de alguém.

- Sua angústia era tão grande que começou a usar bomba atômica para matar o tempo.

- Nunca soube dizer não. Casou-se.

- Sempre teve os pés no chão. Agora os tem abaixo.

quinta-feira, julho 13, 2006

COPA DO MUNDO: CONCLUSÕES, DEDUÇÕES, COINCIDÊNCIAS, PLATITUDES E OUTRAS COISAS

• O quarto árbitro que dedurou a cabeçada de Zidane em Materazzi era o espanhol Luis Medina Cantalejo, que garante ter visto o bizarro lance ao vivo. A Fifa proíbe o uso de recursos visuais eletrônicos para em decisões de arbitragem. Se Cantalejo dissesse que tinha visto a agressão em um monitor de TV qualquer e depois comunicado o fato ao juiz argentino, ele certamente seria punido pela entidade máxima do futebol mundial. O que importa é que sua interferência pode ter influenciado o resultado do jogo e da Copa, pois a França era claramente melhor que a Itália desde o início do segundo tempo. Zizou foi expulso no início da segunda parte da prorrogação.

• Luiz Medina Cantalejo foi o árbitro da partida que classificou a Itália para as quartas-de-final. Pelas oitavas, o jogo estava duro. Um zero a zero que parecia para sempre, pois era um encontro de duas equipes retranqueiras. Materazzi havia sido expulso e Buffon trabalhava mais que o goleiro australiano. Mas aos 47, ou seja, já nos acréscimos do segundo tempo, o lateral-esquerdo Grosso se jogou na área. Cantalejo não pestanejou. Decidiu que era pênalti. Totti bateu, fez o gol da classificação e colocou estranhamente o polegar na boca. Foi a primeira atuação "heróica" de Grosso no mundial, mas muito bem coadjuvado pelo sempre providencial Cantalejo.

• Os italianos já haviam sido beneficiados por decisões equivocadas da arbitragem em sua estréia na Copa. No jogo em que perdeu de 2 a 0 para a Itália, a seleção de Gana teve dois pênaltis claros não marcados pelo brasileiro Carlos Eugênio Simon. Parece que estava todo mundo de consciência pesada por causa dos erros que prejudicaram a Azzurra no mundial anterior.

• Os europeus em geral têm que aproveitar muito bem os próximos quatro anos, pois, levando-se em consideração o retrospecto histórico, eles não verão alguma de suas seleções levantar a taça Fifa por um bom tempo. Explico: nenhuma seleção européia ganhou a Copa quando esta foi disputada fora da Europa. Em 1930, no Uruguai, deu Uruguai; 1950, no Brasil, os uruguaios venceram novamente; 1962, no Chile, deu Brasil; 1970, no México, Seleção Brasileira outra vez; 1978, na Argentina, taça pra eles; 1986, no México de novo, agora com vitória argentina; 1994, nos Estados Unidos, tetra do Brasil, e em 2002, na Coréia do Sul e no Japão, deu Família Scolari. Como a Fifa adotou o rodízio de continentes para definir as sedes dos mundiais, a próxima Copa na Europa deverá ser realizada somente em 2030. Em 2010 será na África; 2014, América do Sul (provavelmente Brasil); 2018, Oceania; 2022, Américas Central, do Norte e Caribe, e 2026, Ásia. Como o Uruguai está morto e o Brasil ganha mais mundiais que a Argentina, é provável que, quando a Copa estiver de volta à Europa, a Seleção Brasileira já seja ênea ou decampeã.

• Moto perpétuo: México e Espanha mais uma vez chegaram cheios de planos, botando banca e parecendo gente grande. Foram embora mais cedo. Como sempre. Eternos cavalos paraguaios das copas, eles têm que se conformar com o papel de figurante tenazmente exercido por Suécia, Polônia, Suíça, Paraguai, Estados Unidos, Escócia, Bulgária, Áustria, Bélgica, Rússia e várias outras que também costumam faltar a alguns mundiais, mas logo estão de volta para servir para aumentar ou diminuir o saldo de gols dos favoritos. Mas outras equipes metidas a grande também não podem falar muito grosso não. Afinal, Inglaterra e Holanda há muito tempo chegam às copas credenciadas, cheias de "estrelas", mas no fim sempre sucumbem. Falta aquele algo mais - que a França parece ter encontrado - para atingir o patamar em que se encontram Brasil, Itália, Alemanha e Argentina.

sexta-feira, julho 07, 2006

ARISTÓTELES OMORRIS

A Copa é um tédio

Aristóteles Omorris

Berlim, o velho ranzinza que teve seu muro demolido. Bem feito - Por mim, não escreveria nada. Odeio futebol e fui obrigado a interromper minhas férias na Côte d’Azur, Suécia, para vir cobrir este torneiozinho. Gostaria de ficar apenas de papo pro ar e saboreando a rica e suína culinária alemo-germânica. Mas o imbecil-mor deste planeta, o editor deste blog, ameaçou não depositar o último milhão de dólares em minha conta em um banco suíço ali das Bahamas.

Assim, pautado exclusivamente pela ética e pela boa vontade, submeto-me ao sacrifício de escrever sobre a (bleargh!) Copa do Mundo da Alemanha 2006 (como se houvesse uma Alemanha 2001, 1998, 1568, 1354 etc. e dízima periódica. Bah!).

Frâncios e itálicos, me contaram - mediante suborno -, estão na final do mundial. Grande coisa! Em minha juventude (que não faz muito tempo, embora os detratores, mais uma vez liderados pelo perverso FC, divulguem aos três ventos - o quarto está internado - que fui babá daquele jovem que bradou retumbantemente “independência ou morte!”. Mentira! E calúnia ainda por cima! Eu sou jovem. Podem perguntar ao Sigmund, menino cujas fraldas trocava, compadecido pela preguiça da senhora Freud), fui semifinalista do torneio de palitinho de um respeitável estabelecimento de uma cosmopolita cidade chamada Serranópolis, o Boteco do Tonhão.

Fui semifinalista e ninguém falou nada! Tudo bem que perdi (roubado) a semifinal para o grande jogador Ceguinho da Igreja, mas a imprensa mundial ignorou a competição de uma forma que nos fez, à época, suspeitar de uma conspiração da Federação Internacional de Jogos que Envolvem Palitos com seu maior patrocinador. Senão vejamos: Ceguinho da Igreja usava camiseta da campanha para vereador de Zezinho da Nair. O cunhado de Zezinho da Nair era freguês inveterado da vendinha do senhor Adavilson, que era justamente o patrocinador da federação. Afinal, o “ilustre” empresário fornecia palitos à nebulosa entidade...

Neste ponto alguém pode perguntar: o que uma coisa tem a ver com a outra? Como e por que propósito a Federação Internacional de Jogos que Envolvem Palitos, aliada ao senhor Adavilson e, quiçá, a Zezinho da Nair, sabotaria, por meio da compra do silêncio da imprensa de todo o mundo, a própria competição que promovia? A resposta é simples: não sei.

De que estávamos falando mesmo, antes desta digressão passado-nostálgica? Ah, sim: da final do torneio fubeca da Alemanha. Bem que eu queria analisar as táticas de ambas e eurôpas seleções, falar de jogadores, técnicos, estatísticas e história. Mas meu espaço acabou. Meu néscio editor disse que era para escrever no máximo o número de linhas que este artigo possui. Se não falei do joguinho de domingo, a culpa é dele, que não me deu mais espaço. Ahahahahahah!!! Taí, maldito! Toma teu texto! Caíste em tua própria armadilha! Agora me deixe em paz, pois voltarei ao meu merecido ócio e à degustação dos milhares de variedades de salsichas. Pro inferno com a Copa!

Aristóteles Omorris é colunista esporádico e schwudel em tempo integral


Primeira - e única
prova de automobilismo
disputada pelo ex-piloto
Aristóteles Omorris, que não
aparece na foto pois a esta
altura da corrida estava
quatro voltas atrás do
primeiro pelotão (formado por
todos os outros pilotos)

domingo, julho 02, 2006

AS DESCULPAS DA BOLA DE CRISTAL

Minha bola de cristal continuou esfumaçada e confundindo meus olhos. Acertei quase todas as quartas-de-final e, de acordo com a revisão das previsões iniciais, acabei só errando um dos semifinalistas. É que eu tinha cravado Brasil em vez da França...

Aliás, foram os franceses que causaram um curto na bola. Eles não tinham nada que terminar em segundo lugar em um grupo em que tinham como companhia Suíça, Coréia do Sul e Togo. Se tivessem feito o dever de casa, teriam terminado na liderança e enfrentado a segunda colocada do grupo H, a galinha-morta Ucrânia. O time de Zidane passaria fácil e enfrentaria a Itália nas quartas. Elas que se matassem pra ver quem perderia para a Alemanha.

Enquanto isso, o Brasil teria se defrontado com a Espanha em Frankfurt, pois a "Fúria" não amarelaria diante da Suíça nas oitavas. Mas, vendo uma legião de camisas amarelas pela frente, os espanhóis evidentemente travariam, como o fizeram no encontro com a França, e a Seleção de Parreira, mesmo apática e desinteressada, teria carimbado o passaporte para disputar com Felipão uma vaga na final.

Viu só? Foi a França que bagunçou minha bola de cristal! Deve ter o dedo do Nostradamus nessa história toda...

UMA COPA JOGADA NO LIXO

O elenco mais caro do planeta, as maiores estrelas, o maior número de titulares nos clubes mais importantes da Europa. Tudo isso e muito mais o técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, tinha em mãos. Mesmo assim ele conseguiu ser eliminado nas quartas-de-final da Copa do Mundo, ao perder para a França por 1 a 0 no sábado (1º/7), em Frankfurt, na Alemanha.

Evidentemente faltou vontade a alguns jogadores, especialmente aos mais badalados, com especial destaque para Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos - o que é um absurdo, pois, se um jogador não se enche de determinação para disputar uma Copa, tê-la-á para quê? Sim, faltou vontade, mas competia ao treinador remover da equipe titular os integrantes do MSP (Movimento dos Sem-Paixão).

Cafu, Adriano, Ronaldo, Emerson e Kaká até que demonstraram alguma vontade, mas não estavam em suas melhores condições físicas e/ou técnicas. Também caberia a Parreira deixar no time somente aqueles dentre estes que pudessem ser úteis à Seleção.

Não estava tão difícil chegar ao hexacampeonato. Se o Brasil tivesse jogado desde o início com um time determinado e forte física e mentalmente, não teria dificuldades para bater a França e depois, nas semifinais, o time de Portugal, liderado pelo aguerrido e passional Luiz Felipe Scolari. Na final, contra os entusiasmados donos da casa ou os insidiosos italianos, tudo poderia acontecer.

Mas Parreira - principalmente ele - “optou” por jogar fora a possibilidade do título. Sem coragem ou personalidade para tirar do time jogadores que não eram apenas seus comandados, mas também seus amigos (alguns de longa data), o treinador preferiu tornar-se um torcedor. Passou a torcer para que o talento individual aparecesse de uma hora para outra e que, a qualquer momento, decidisse as partidas.

Funcionou contra times mais fracos. Foi difícil, o Brasil sofreu, mas passamos por Croácia, Austrália e Gana. Foi tranqüilo somente diante do Japão, “coincidentemente” no dia em que Parreira decidiu poupar Cafu, Roberto Carlos, Emerson, Zé Roberto e Adriano.

Sim, o time japonês, dirigido por Zico, marca mal e precisava vencer por boa diferença de gols, o que facilitou o trabalho brasileiro. Mas foi possível perceber que Cicinho, Gilberto, Gilberto Silva, Juninho Pernambucano e Robinho estavam num momento melhor que o dos titulares. À exceção de Zé Roberto.

No entanto, na partida seguinte, lá estavam de volta os integrantes do MSP. A vitória veio, devido à incompetência de Gana, o que deu a Parreira a ilusão de que o time dos seus chegados poderia passar pela França, que havia feito uma sofrível primeira fase. Uma alteração deu um certo alento a muita gente: saiu Adriano e entrou Juninho, com Ronaldinho Gaúcho sendo passado para o ataque, onde ele joga no Barcelona.

O problema é que os laterais não foram trocados. O esquema tático brasileiro, para funcionar, precisa de laterais com vigor e qualidade para defender e atacar o tempo todo, que façam ultrapassagens e que vão à linha de fundo sempre. Foi assim contra o Japão. Foi assim que o Brasil encantou o mundo nos dois jogos finais da Copa das Confederações no ano passado. Naquela ocasião os laterais também eram Cicinho e Gilberto.

Desse modo, o time, mesmo com Juninho e sem Adriano, não funcionou. No intervalo, se quisesse continuar na Copa, Parreira deveria ter trocado os dois laterais e colocado Robinho no lugar de um dos apáticos (e não galácticos): Kaká ou Ronaldinho Gaúcho. Mas ele só foi fazer uma mudança depois dos 15 minutos da segunda etapa. Pior: mexeu errado. Colocou Adriano no lugar de Juninho e voltou a uma formação que não vinha funcionando!

Queimada uma substituição, ele poderia fazer mais duas. Mas resolveu alterar novamente o time só depois dos 30! Tirou Cafu e colocou Cicinho, trocou Kaká por Robinho. A equipe ficou mais rápida, incisiva e criou nos minutos finais o que não tinha criado por muito mais de uma hora. Mesmo com o peso morto de Adriano em campo. Mas era tarde demais. O título já estava na lata de lixo.

Foi apenas a culminância de uma sucessão de erros perpetrados por um Parreira que parece ter perdido o pulso de 1994. Quem viu os treinos da Seleção na Suíça e na Alemanha sabe que o treinador não mostrou muita disposição pelo trabalho, não ensaiou jogadas, não experimentou alternativas táticas e não conseguiu com que a maioria dos jogadores percebesse que o que estava em jogo era uma Copa do Mundo e não uma pelada entre casados e solteiros.