sexta-feira, setembro 21, 2007

ARISTÓTELES OMORRIS, O POLÍTICO



De nada, Renan

Aristóteles Omorris

Detrito Federal – Minha incomensurável legião de leitores há de compreender as razões de minha ausência deste espaço nos últimos meses. Sei que muitos chegaram a cometer atos de desatino devido à falta de leitura de meus textos (chegaram a mim inclusive alguns relatos de suicídios bem-sucedidos).

Mas todo sacrifício é válido e aceito quando a causa é nobre. Vidas foram perdidas? Sim, foram. Mas o importante é que consegui alcançar meu objetivo, que era a absolvição de um político honesto e inocente.

Apesar das ridículas pressões do meu editor para que eu voltasse ao trabalho (imagina: só pra cumprir um contratinho de parcos milhões de dólares...), mantive-me fiel à pessoa que praticamente criei para a política. E pelo qual sempre fui muito bem recompensado... Tudo o que ele sabe foi aprendido por meu augusto intermédio.

Embora muitos não saibam, tenho uma extensa folha corrida de (bons) serviços prestados à sociedade. Sou jovem, mas, por ter começado na política muito cedo, tive o privilégio de ter vários bons professores nessa nobre arte. Meus amigos Pôncio Pilatos, Maluf, Joaquim Silvério dos Reis, Luiz Estevão, Goebbels, Cacciola, Jáder e Ronald Biggs sempre foram meus incentivadores e fontes de inspiração.

Sempre gostei de atuar nos bastidores. Por isso jamais ocupei altos cargos, apesar do apelo insistente dos meus amigos para que eu fosse, no mínimo, presidente dos Estados Unidos. Contentei-me em ajudar meu amigo Bushinho a vencer – com justiça – as eleições na Flórida.

Hoje, passados alguns anos, posso confessar minha participação em alguns fatos que ficaram na história. Por exemplo: fui eu o mentor da tomada de Constantinopla pelos turcos. Tomar coisas sempre foi o meu forte, desde os tempos do jardim de infância. Aliás, por minha causa foi criado aquele adágio popular: “Mais fácil que tomar doce da mão de uma criança”.

Também fui eu que arquitetei a tomada da Bastilha. Na boa e velha mão grande, quando não tinha ninguém olhando, fui lá e tomei a Bastilha dos ricos e a entreguei aos pobres (e mal-cheirosos) franceses. Em troca recebi, de muito bom grado, mesmo tendo dito que não precisava, algumas coisinhas retiradas do Palácio de Versalhes. Muita coisa derreti para financiar a indústria de guilhotinas, com as quais mandamos para o vinagre muitos daqueles pobres aos quais eu havia repassado a Bastilha. Fiquei no lucro, no final, que é o que importa.

Os senadores brasileiros requisitaram meus serviços depois de uma operação que logo se tornaria lendária. Ao saber que seriam liberados dois bilhões de dólares dos países ricos para combater a mortalidade infantil, a Aids e a miséria na África, coloquei em ação todos os meus talentos para que esses recursos fossem revertidos para fins mais necessários.

Ao conseguir desviar a verba para meus amigos influentes, aboletados nos gabinetes de nações pacíficas, como Irã, Paquistão, Coréia do Norte, Líbia, Síria, e para organizações do naipe de Al Qaeda, Hizbollah, ETA, Farc, Comando Vermelho, entre outras, impedi que uma soma tão alta fosse desperdiçada de forma tão estúpida.

Agora, feliz por ter salvado a pele de mais uma pessoa pura, honesta e unicamente preocupada com o bem-estar da população, posso pedir licença (pedir não, exigir) para um mais que merecido descanso. Aliás, já escrevi demais para quem ganha tão pouco.

Aristóteles Omorris é ex-coroinha, ex-sacristão, ex-seminarista e excomungado

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