sexta-feira, junho 29, 2007

CONTOZINHO DIALÉTICO

Inevitabilidade

- Com licença, general.
- Ô, tenente, entra! À vontade, tenente, à vontade... Pode falar enquanto termino de fazer a barba.
- Devemos atacar agora, general?
- Atacar?
- Sim, senhor. A tropa está ansiosa e...
- Pra que toda essa ansiedade, não é mesmo, tenente?
- Senhor...
- Estresse mata, sabia?
- Senhor, se não atacarmos agora, seremos cercados e...
- Não se preocupe, tenente.
- Senhor?
- Em quantos eles são?
- Uns dez mil, senhor.
- E nós?
- Não chegamos a quinhentos, senhor.
- Viu? Então pra que a pressa?
- Mas, senhor, nós...
- Você tem pressa de morrer, tenente?
- Não, mas...
- Então esperemos que eles cheguem.
- Então as ordens são pra aguardar, senhor?
- Sim. Agora vou tomar um banho.
- Permissão para falar livremente, senhor.
- Sempre, tenente. Pode falar, filho.
- Estamos todos para morrer, seremos esmagados pelo inimigo. Então, pra que tomar banho numa hora dessas?
- Ora, tenente, porque ainda não morremos. Se não morremos, logicamente ainda estamos vivos. Devemos, portanto, continuar fazendo o que os vivos costumam fazer. Não concorda comigo, tenente?
- Perdão, senhor.
- Fica frio, tenente. Nunca passei um dia da minha vida sem tomar banho. Só porque vou morrer hoje devo deixar de fazê-lo?
- Não, senhor. Claro que não.
- E ainda vou cantar o Rigoletto no chuveiro.

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