sexta-feira, abril 13, 2007

PRATÃO E PIPÓCRATES - 13/4/2007

DE VOLTA OS DIÁLOGOS ALTAMENTE... HÃ... DIGAMOS...
FILOSÓFICOS DE NOSSOS PENSADORES DE BUTECO

- Sabe da última, Pratão?
- Quêqui foi?
- Meu moleque tá trocando selinhos com os amiguinhos.
- Ah, ele é filatelista?
- Hã... Bem...
- Sei, sei. Não era de selos postais que cê estava falando...
- Pois é...
- Não. Está tudo bem. Pode ser uma fase. De qualquer forma, velho amigo, esse negócio de opção sexual não existe. Mesmo essa história de amor não passa de balela.
- Hein? Do que tu tá falando?
- Tô querendo dizer que não existe o tal do livre-arbítrio porra nenhuma, compreendeu?
- Não. O que isso tem a ver com...
- Não tem nada a ver, mas pode ter tudo a ver. O que eu tô querendo explicar é que nós todos somos escravos da natureza, somos joguetes dela, marionetes, fantoches, bichinhos amestrados, condicionados e tudo o mais, entende?
- Ah, tu tá falando de instintos básicos, impulsos, essa merda toda, né?
- É mais ou menos por aí. Todo mundo sabe que nós somos conduzidos pelos nossos instintos, por necessidades animalescas... Uns mais, outros menos. O que o pessoal não se dá conta é que tudo que fazemos é governado pela ditadura da natureza. Todo mundo age que nem cordeirinho e cai direitinho na lábia dela. E fazemos tudo sem questionar, sem primeiro raciocinar se as ações que estamos prestes a praticar serão benéficas ou não para nós e para quem nos cerca, para o mundo, afinal.
- Ih, tu tá forçando a barra... Quanto drama, pô!
- Calma. Acompanha meu raciocínio: pro que vive a galinha?
- Para que eu me empanturre de coxinhas todo dia.
- Não! Tô falando sério, pô! Qual o objetivo de vida da galinha?
- Ora... Comer, botar ovo...
- Certo, certo. Ela come pra se manter viva pra poder botar ovos.
- E o galo pra traçar todas elas, hehehe...
- Certo, certo. E os dois com o objetivo de perpetuar a espécie galinácea, correto?
- É...
- E assim ocorre com todos os outros animais. Inclusive conosco. Todos vivemos pra obedecer ao decreto autoritário da natureza, cujo único desejo é que a vida continue, que as espécies se reproduzam, que o ciclo jamais termine.
- Por mim, tudo bem. É uma ditadura do bem, então. A natureza é uma déspota esclarecida, hehehe.
- Não, não, não! O senhor está totalmente enganado! Não existe ditadura benevolente! Todo autoritarismo é pernicioso! Pelo menos nós, seres humanos, seres inteligentes, dotados de consciência, deveríamos nos rebelar contra essa ditadora dissimulada. Não precisamos viver como as feras, nós temos poder de escolha.
- Tá maluco, bicho? Tu namorou, tu casou, tu tem filhos... Por que tu não começou a revolução? Tu é tão cordeirinho quanto o resto de nós, seres “inferiores”.
- Eu não tô tirando o meu da reta. Eu fui marionete da natureza também. E por muito tempo. Mas antes de casar, eu me fiz algumas perguntas: eu amo essa mulher a ponto de querer passar o resto da vida com ela? Eu quero ter meus próprios filhos? Eu tenho condições de constituir uma família? Quando a resposta foi sim para essas três perguntas, então eu resolvi casar. Logo, eu tive escolha.
- Certo. Tu “escolheu” obedecer a repressão. Tornou-se um cordeirinho por “livre” e “espontânea” vontade. Aspas gigantescas em algumas das palavras que proferi, por favor...
- Epa! Não distorça minhas palavras!
- Não tô distorcendo. Eu entendi muito bem: seguindo seu raciocínio, os cidadãos franceses que não resistiram à ocupação alemã na Segunda Guerra e colaboraram com o regime de Vichy não cederam à opressão, não se acovardaram, não podem ser chamados de traidores, pois eles optaram por ficar do lado que detinha o poder.
- Não é nada disso, rapá! Abra sua mente, pô! Eu tô querendo falar é que as pessoas vivem sem questionar suas decisões. Inconscientemente, elas deixam que a natureza decida por elas. É mais fácil, mais cômodo, não se gasta tanta energia. Entendeu agora?
- Eu entendi aonde tu quer chegar, mas não concordo contigo, velho.
- Cê não concorda porque cê vestiu a carapuça, né? Agora entendi. Cê namorou porque todo mundo namorava, casou porque todo mundo casava, teve filhos porque todo mundo tinha, teve amantes porque...
- Aí não! Eu sempre fui fiel, tu sabe disso...
- Anrrã. Mas deixa pra lá. O que a gente mais vê por aí? É adolescente grávida, superpopulação, especialmente entre os mais pobres, promiscuidade, adultérios a toda hora, jovens competindo pra ver quem “fica” com mais pessoas numa festa... Enfim, as pessoas querem o prazer imediato, mesmo que fugaz, sem saber que estão fazendo o jogo da natureza. A natureza gargalha estrepitosamente toda vez que dá positivo o exame de gravidez de uma jovem solteira. É isso que ela quer. Não por maldade, mas porque ela implantou essa ordem em todos os seres vivos: multipliquem-se, perpetuem-se, façam de tudo para deixar descendentes, nem que para isso a ética e até a moral sejam relegadas a um plano inferior. Por isso vivemos tantos problemas. A raiz de tudo é a obediência cega à ditadura da natureza.
- E quanto à corrupção? Esse câncer da sociedade é culpa da ditadura também?
- Claro que sim! Por que o ser humano rouba? Para acumular riquezas. Por que ele acumula riquezas? Para obter poder. Por que ele quer o poder? Porque, desde os tempos das cavernas, o líder, o mais forte, o mais capaz, podia escolher mais e melhores fêmeas. E pra que tudo isso? Aí entra a pegadinha da natureza: mesmo que o chefão das cavernas não soubesse, ele era apenas mais um subordinado cuja função ela gerar uma prole saudável, preparada para dar seqüência ao eterno ciclo.
- Tu tá querendo dizer que a negada que se candidata hoje em dia tá a fim do poder só pra furunfar mais?
- Sim, mesmo que de forma inconsciente, pois a natureza é furtiva e discreta.
- Com os bilionários é a mesma coisa?
- Sem dúvida. O impulso é o mesmo.
- E o que os selinhos do meu filho têm a ver com tudo o que tu falou?
- Bem... Eles só estimularam a conversa. Eu só queria dizer que o homossexualismo...
- Epa! Tá chamando meu filho de viado?
- Eu não quis dizer isso! Presta atenção, porra! Quero dizer que, mesmo que ele venha se tornar homossexual (o que acho que não vai acontecer. Aliás, tenho certeza que não vai), a culpa (se é que há culpa nisso) dele será pequena, pois...
- Mas como, se tu acabou de falar que a ditadura da natureza manda perpetuar a espécie? Homem com homem não perpetua porcaria nenhuma, só a sem-vergonhagem.
- Calma, meu preconceituoso amigo. O impulso homossexual tem a mesma raiz do heterossexual. Não se trata de um desafio às leis da natureza. Na verdade, é mais uma rendição. O indivíduo apenas encontra uma forma alternativa de satisfazer seus instintos mais básicos, irracionalmente fazendo de tudo para obter um prazer tão fugaz, tão ligeiro quanto o dito “normal”.
- É um tipo de simulacro?
- É mais ou menos isso.
- De qualquer maneira, tenho que ter uma conversinha com aquele moleque...
- Isso. Diga pra ele usar a razão em todos os momentos da vida, senão ele vai ficar que nem o Aristóteles.
- Pô, isso não. Se ele ficar que nem o Totó...
- Um verdadeiro animal, rastejante, chafurdante...
- Pestilento...
- Repugnante...
- Etc...
- Etc...


Filósofos de rua em tempo integral, Pratão e Pipócrates discordam em tudo, mas um sentimento os une: o ódio a Aristóteles Omorris.

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