terça-feira, agosto 21, 2012

O DOMINGÃO DO FALSTAFF


Ô, loco, meu! Quer dizer, “loco” não. Devemos, de forma politicamente correta, dizer: “Ô, indivíduo temporária ou definitivamente privado das faculdades mentais ditas normais pelas convenções da sociedade ou que não se comporta do modo esperado pela maioria, meu!”

Vamos começar o programa de hoje com o “Se Vira nos 15”. Vamos receber com muito carinho o meu grande amigo Spinoza, que terá apenas 15 dias para expor todo o seu sistema de pensamento. Só 15 dias, hein, Baruch! Não vai dar uma de Fidel comigo não, viu? Mês passado o Rousseau vinha fazendo uma apresentação belíssima, mas foi eliminado por ter abandonado o palco para agredir o espectador que gritou “bom selvagem é selvagem morto!”

Nossa produção acaba de informar que o Spinoza ainda não chegou aos nossos estúdios porque se perdeu pelo caminho enquanto divagava sobre os paralelos entre sua ética à maneira dos geômetras e a licitação das obras para a Copa do Mundo. Depois o Baruch apela quando a gente chama ele de meio português.

Bem, vamos seguindo com nosso programa curtindo as “Videofilosofadas”. E olha que as “Videofilosofadas” de hoje estão demais, hein?

Olha só esse vídeo! O professor de filosofia foi ao presídio para dar uma palestra sobre os imperativos categóricos de Kant. Veja só como os presidiários começam a congelar e entrar em um estado catatônico. Agora alguns começam a ser removidos pelos guardas, como se fossem estátuas. Dizem que alguns viraram vegetais para sempre. Muito bom, muito bom, meu!

Agora o menino que levou cascudo por causa da filosofia. Orra, meu! Isso não se faz! O garoto foi convidado para a festa a fantasia e deveria ir vestido de Super-Homem. Aí chegou o dia e ele apareceu de casaco, aliás, a roupa toda no estilo Europa do século XIX, bigodão... Ninguém entendeu nada e ele levou cascudo, pescoção e muito bullying dos colegas. Que coisa, meu! Apanhou do Batman, do Hulk, da Mulher Maravilha e até do macaquinho dos Supergêmeos. Mas ele gritou que não tinha problema, pois estava além do bem e do mal, já que foi fantasiado de Super-Homem, mas o do Nietzsche.

Chegou a hora do quadro “Retrato Confidencial”. Vamos receber meu particular amigo René Descartes! E aí, René! Já furou muito poço hoje?

-        Poço, Falstaff?
-        “Poço cartesiano”! RARRARRARRÁ!

Mas chega de lero-lero e vamos ao seu “Retrato Confidencial”. Para começar, vamos acompanhar o depoimento de seu ex-secretário particular, o Tiãozinho do Cogito:

-        Olá, professor Descartes! Lembra de mim? Acho que não, né? Mas eu vou clarear sua mente. Ah, esqueci, o senhor já tem a mente iluminada... Bom, eu sou o Sebastien LeFleur, que o pessoal chamava de Tiãozinho. Eu pegava cafezinho pro senhor, achava seus óculos, fazia o clipping dos jornais do dia, essas coisas. Um dia, o senhor estava muito doidão, talvez por excesso de cafeína ou outra coisa, e me fez três perguntas rápidas: “Você cogita se tornar professor titular?”, “você ergue mais de 70 quilos na academia?” e “em vez de 'índice' eu escrevo 'sumário' ou 'somário'?” Então eu respondi “cogito”, “ergo”, “sum”. Daí o senhor começou a repetir sem parar essas três palavras e passou a escrever freneticamente. O resto é história. Quando o senhor virou best-seller mundial, eu contei pra todo mundo que eu fui a inspiração para a famosa frase, mas ninguém acreditou. E acabei ganhando o apelido de Tiãozinho do Cogito, além de ter sido internado no sanatório e ter perdido qualquer chance de me tornar professor titular. Obrigado por nada, professor.

Epa, epa, René! Pisaste na bola, companheiro! Mais ingrato que você só o príncipel Hal. Mas agora vamos ouvir o relato de Antígona de Santorini, que...

-        Mas eu não conheço nenhuma Antígona...
-        Qualé, René? Tá caducando? Tu tem só uns 500 anos... Fala, Antígona!
-        Olá! Venho aqui agradecer esse grande intelectual por toda a sua obra. Seus escritos mudaram minha vida. Hoje sou uma pessoa totalmente diferente. E mudei pra melhor, é claro. Se não fossem seus livros, eu teria permanecido na escuridão, sem norte, sem destino. Seus livros me fizeram enxergar a vida de uma outra forma, mais bela, mais generosa, mais confiante. Hoje sou mais tolerante, faço mais amigos e encontrei a felicidade plena. Obrigado principalmente por nos dar um personagem como o Cândido e por todas aquelas lições de vida e otimismo. Um beijão!
-        Hã, Falstaff, creio que houve um engano aqui...

Pô, produção! Vocês confundiram os franceses. Esse vídeo aí é sobre o Voltaire! Desculpa, René e você de casa. Outro dia a gente continua, René. Vamos agora finalizar o programa com a atração que todo mundo está esperando: a “Dança dos Filósofos”!

Hoje vão dançar os seguintes casais: Heidegger e Hannah Arendt, Gramsci e Marilena Chauí, Aristóteles e Hipátia de Alexandria, Sartre e Simone, Sócrates e Platão, Marx e Engels e Wittgenstein e Foucault.

***

Infelizmente chegou a hora de ir embora, galera! Mas semana que vem tem mais Domingão do Falstaff, com mais atrações para você. Esta semana vamos tentar confirmar a presença de Feuerbach, Hegel, Saint-Simon, Proudhon, Marx, Bakunin, Lênin, Trotsky, Žižek, Mino Carta e Reinaldo Azevedo para discutir, em seus mínimos e emocionantes detalhes, a evolução do pensamento de esquerda. Até lá, galera! Fiquem com as dançarinas do Falstaff, com suas belas minitogas dotadas de mangas de cotovelo de couro!

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