Ô, loco, meu! Quer dizer, “loco” não. Devemos, de forma
politicamente correta, dizer: “Ô, indivíduo temporária ou definitivamente
privado das faculdades mentais ditas normais pelas convenções da sociedade ou
que não se comporta do modo esperado pela maioria, meu!”
Vamos começar o programa de hoje com o “Se Vira nos 15”.
Vamos receber com muito carinho o meu grande amigo Spinoza, que terá apenas 15
dias para expor todo o seu sistema de pensamento. Só 15 dias, hein, Baruch! Não
vai dar uma de Fidel comigo não, viu? Mês passado o Rousseau vinha fazendo uma
apresentação belíssima, mas foi eliminado por ter abandonado o palco para
agredir o espectador que gritou “bom selvagem é selvagem morto!”
Nossa produção acaba de informar que o Spinoza ainda não
chegou aos nossos estúdios porque se perdeu pelo caminho enquanto divagava
sobre os paralelos entre sua ética à maneira dos geômetras e a licitação das
obras para a Copa do Mundo. Depois o Baruch apela quando a gente chama ele de
meio português.
Bem, vamos seguindo com nosso programa curtindo as
“Videofilosofadas”. E olha que as “Videofilosofadas” de hoje estão demais,
hein?
Olha só esse vídeo! O professor de filosofia foi ao presídio
para dar uma palestra sobre os imperativos categóricos de Kant. Veja só como os
presidiários começam a congelar e entrar em um estado catatônico. Agora alguns
começam a ser removidos pelos guardas, como se fossem estátuas. Dizem que
alguns viraram vegetais para sempre. Muito bom, muito bom, meu!
Agora o menino que levou cascudo por causa da filosofia.
Orra, meu! Isso não se faz! O garoto foi convidado para a festa a fantasia e
deveria ir vestido de Super-Homem. Aí chegou o dia e ele apareceu de casaco,
aliás, a roupa toda no estilo Europa do século XIX, bigodão... Ninguém entendeu
nada e ele levou cascudo, pescoção e muito bullying dos colegas. Que coisa,
meu! Apanhou do Batman, do Hulk, da Mulher Maravilha e até do macaquinho dos
Supergêmeos. Mas ele gritou que não tinha problema, pois estava além do bem e
do mal, já que foi fantasiado de Super-Homem, mas o do Nietzsche.
Chegou a hora do quadro “Retrato Confidencial”. Vamos
receber meu particular amigo René Descartes! E aí, René! Já furou muito poço
hoje?
-
Poço, Falstaff?
-
“Poço cartesiano”! RARRARRARRÁ!
Mas chega de lero-lero e vamos ao seu “Retrato Confidencial”.
Para começar, vamos acompanhar o depoimento de seu ex-secretário particular, o
Tiãozinho do Cogito:
-
Olá, professor Descartes! Lembra de mim? Acho
que não, né? Mas eu vou clarear sua mente. Ah, esqueci, o senhor já tem a mente
iluminada... Bom, eu sou o Sebastien LeFleur, que o pessoal chamava de
Tiãozinho. Eu pegava cafezinho pro senhor, achava seus óculos, fazia o clipping
dos jornais do dia, essas coisas. Um dia, o senhor estava muito doidão, talvez
por excesso de cafeína ou outra coisa, e me fez três perguntas rápidas: “Você
cogita se tornar professor titular?”, “você ergue mais de 70 quilos na
academia?” e “em vez de 'índice' eu escrevo 'sumário' ou 'somário'?” Então eu
respondi “cogito”, “ergo”, “sum”. Daí o senhor começou a repetir sem parar essas
três palavras e passou a escrever freneticamente. O resto é história. Quando o
senhor virou best-seller mundial, eu contei pra todo mundo que eu fui a
inspiração para a famosa frase, mas ninguém acreditou. E acabei ganhando o
apelido de Tiãozinho do Cogito, além de ter sido internado no sanatório e ter
perdido qualquer chance de me tornar professor titular. Obrigado por nada,
professor.
Epa, epa, René! Pisaste na bola, companheiro! Mais ingrato
que você só o príncipel Hal. Mas agora vamos ouvir o relato de Antígona de
Santorini, que...
-
Mas eu não conheço nenhuma Antígona...
-
Qualé, René? Tá caducando? Tu tem só uns 500
anos... Fala, Antígona!
-
Olá! Venho aqui agradecer esse grande
intelectual por toda a sua obra. Seus escritos mudaram minha vida. Hoje sou uma
pessoa totalmente diferente. E mudei pra melhor, é claro. Se não fossem seus
livros, eu teria permanecido na escuridão, sem norte, sem destino. Seus livros
me fizeram enxergar a vida de uma outra forma, mais bela, mais generosa, mais confiante.
Hoje sou mais tolerante, faço mais amigos e encontrei a felicidade plena.
Obrigado principalmente por nos dar um personagem como o Cândido e por todas
aquelas lições de vida e otimismo. Um beijão!
-
Hã, Falstaff, creio que houve um engano aqui...
Pô, produção! Vocês confundiram os franceses. Esse vídeo aí
é sobre o Voltaire! Desculpa, René e você de casa. Outro dia a gente continua,
René. Vamos agora finalizar o programa com a atração que todo mundo está
esperando: a “Dança dos Filósofos”!
Hoje vão dançar os seguintes casais: Heidegger e Hannah
Arendt, Gramsci e Marilena Chauí, Aristóteles e Hipátia de Alexandria, Sartre e
Simone, Sócrates e Platão, Marx e Engels e Wittgenstein e Foucault.
***
Infelizmente chegou a hora de ir embora, galera! Mas semana
que vem tem mais Domingão do Falstaff, com mais atrações para você. Esta semana
vamos tentar confirmar a presença de Feuerbach, Hegel, Saint-Simon, Proudhon,
Marx, Bakunin, Lênin, Trotsky, Žižek, Mino Carta e
Reinaldo Azevedo para discutir, em seus mínimos e emocionantes detalhes, a
evolução do pensamento de esquerda. Até lá, galera! Fiquem com as dançarinas do
Falstaff, com suas belas minitogas dotadas de mangas de cotovelo de couro!
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