sexta-feira, abril 02, 2010

ARISTÓTELES OMORRIS: A VOLTA (INFELIZMENTE) DO QUE NÃO FOI

Este ano começou com uma auspiciosa notícia para os leitores deste blog: Aristóteles Omorris deixaria de escrever neste espaço. Ele recebeu uma proposta (!) de um jornal que passaria a circular em Jataí a partir de fevereiro. Mas a coisa não vingou e, por isso, tenho a desonra de anunciar não só a permanência de Totó, mas também o desprazer de publicar aquilo que seria sua primeira coluna no natimorto periódico. Para consolo de todos nós, no entanto, informo que o salário do indigitado (e indigente) colunista sofreu uma redução da ordem de 50%. Ou seja, agora ele vai receber apenas meia tijela de Bonzo ao mês. Deleite-se (?) com o texto escrito quase em vão.


Abaixo o preconceito contra a elite


Por Aristóteles Omorris

Itumirim, Arizona - Apesar de ter há muito alcançado um elevadíssimo padrão de vida e de amealhar ganhos anuais que causam inveja a noveaux riches como Bill Gates e Warren Buffett, aceitei o convite do proprietário deste jornal para fazer parte de seu seleto grupo de colunistas. Falou mais alto minha boa vontade para com aqueles que estão começando, minha disposição em ajudar sempre, minha magnanimidade e, sobretudo, minha insuperável humildade. O depósito mensal de dois milhões de dólares em minha conta nem foi levado em consideração na hora do sim.

Então, ao trabalho, pois não estou aqui para falar de mim mesmo, mas de coisas menos interessantes. Como, por exemplo, a próxima Copa do Mundo de futebol, que será realizada no bárbaro continente africano. Foi-se o tempo em que tal evento era cercado de glamour e imponência. Agora levaram-no a um lugar que eu costumo frequentar apenas para sujar minhas botas de legítimo couro italiano em sangrentos safáris.

Lembro-me como se fosse ontem que me meti em uma saudável competição com meu amigo kaiser Guilherme para saber quem matava mais leões, rinocerontes e elefantes. Bichos fétidos e inúteis, suas mortes pelo menos serviam para aplacar o tédio de nossas vidas de elite. Minhas madeireiras também fizeram história naquele atrasado continente. Eu chorava de felicidade a cada árvore derrubada. “Madeira no chão, mais dinheiro no colchão!”, era nosso lema.

Agora, como pode a Fifa realizar uma Copa do Mundo em um lugar que não passa de um gigantesco zoológico? O pior é que parece que a Copa de 2014 será no Brasil. Quando esse importantíssimo evento voltará ao seio da civilização? Os Jogos Olímpicos na China já foram um erro. Não se pode delegar certas tarefas aos nossos fornecedores de chá e ópio. Ah, minhas inesquecíveis tardes londrinas, ali no número 10 da Downing Street, onde Churchill e eu aplacávamos nosso tédio das classes superiores saboreando alguns subprodutos das importações do antigo Império do Centro.

Longe de mim ser racista ou nutrir qualquer tipo preconceito, mas não se pode fechar os olhos para o fato de que certas nações já provaram sua capacidade para o fracasso por inúmeras oportunidades. Quando um boliviano assumir a presidência da Organização Mundial do Comércio, vou pedir licença para mudar de planeta.

Espero voltar às páginas deste digno periódico com assuntos mais amenos e agradáveis, com humildes e singelas passagens, como uma de minhas férias em Mônaco, quando tive de tirar dinheiro do bolso para pagar umas contas do príncipe Rainier e de Grace (um ex-affair de moi).

Aristóteles Omorris é empresário, engenheiro civil, PhD em civilizações mesopotâmicas e maquiador de currículos

Um comentário:

  1. Este ARISTÓTELES OMORRIS é mesmo homem viajado, viu rapaz!!!!!!. Gostei da história dele, um dia quem sabe ela poderá estar presente em uma mídia mais abrangente, chegarás lá Chicão. Não podemos desistir.

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