terça-feira, novembro 06, 2007

ARISTÓTELES OMORRIS É ENTREVISTADO - Parte 2

Não atendendo a pedidos, damos seqüência à publicação da entrevista que Aristóteles Omorris concedeu à revista Tapa Capital. Felizmente é a segunda e última parte do texto. E diga-se, en passant, que a edição em que saiu a entrevista com AO foi a de pior desempenho em bancas na história da revista, que, contam línguas ferinas e bem informadas, depois dessa está pensando seriamente em cerrar as portas.

Tapa Capital –
O senhor foi acusado de ter apoiado o golpe de 1964. O que o sen...
Aristóteles Omorris – Como “acusado”? O senhor é desinformado! Aliás, toda a imprensa e todos os historiadores o são! Eu TRAMEI o golpe de 64! (gritando) Eu fui o grande artífice daquele ato glorioso de nossa história. Devido ao comunismo deslavado que grassava no governo Jânio Goulart (o entrevistado não aceitou que o repórter o corrigisse. Para ele João “Jango” Goulart e Jânio Quadros eram a mesma pessoa...) eu chamei a alta cúpula das Forças Armadas até minha mansão. Em minha sala de estar, enquanto no telão passava o recém-lançado E o vento levou (desta vez o entrevistado ameaçou a agredir o repórter, que o interrompeu para dizer que o filme citado era da década de 1930), intimei os militares a despejar aquela corja do poder. Caso contrário eu sairia do país. Visivelmente preocupados, temerosos de que o já tão combalido Brasil viesse a ficar desfalcado de minha augusta presença, eles resolveram agir. Imediatamente repassei-lhes os planos para a tomada do governo e os nomes daqueles que deveriam assumir os principais cargos. Eles imploraram para que eu assumisse a presidência da República, mas eu disse que tinha assuntos mais importantes a tratar, mas que lhes arranjaria um tempinho para dar um ou dois conselhos aos novos mandatários. Dito isso, fui catar piolhos em Lorde Byron.

TC – Mas Joã... Quer dizer, Goulart não era comunista. Havia gente de esquerda em seu governo, mas não havia indícios de que ele planejava implantar o comunismo ou o socialismo pleno no país. O senhor conhece o marxismo, o comunismo e a evolução do socialismo?
AO – Meu jovem, vou perdoar sua ofensa porque você não sabe do que está falando e não conhece plenamente minha história. É claro que conheço todas as filosofias do mundo, desde Parmênides, o homem que criou o átomo (nesta altura o repórter já havia desistido de corrigir o entrevistado), até Caetano Veloso; de Prosópopes, o inventor da prosopopéia, até Paulo Coelho. Evidentemente Jango Quadros pretendia implantar o comunismo, afinal, seu cunhado era seguidor das idéias de Marcos, o alemão que também escreveu parte do Novo Testamento. (Omorris deve estar se referindo a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul à época do golpe de 64 e cunhado de Jango. Quanto a Marcos, deve ter algo a ver com Marx, mas... deixa pra lá) Com isso, uma vez no poder, os comunistas pretendiam obrigar o povo a usar aqueles ridículos lenços vermelhos no pescoço. Isso eu não poderia permitir. Foi quando resolvi agir, em nome da moral e dos bons costumes.

TC – Em sua autobiografia, confessadamente escrita por seu macaco, Lorde Byron, o senhor afirma ter sido o mentor do projeto espacial norte-americano, que culminou na chegada do homem à Lua em 1969. Vou citar seu livro: “Desde o início do projeto, os meninos de Nixon vinham me fazer consultas sobre foguetes, cápsulas e efeitos da gravidade”. Mas como isso foi possível, se o projeto começou com os cientistas que o governo norte-americano, muito antes de Nixon, foi buscar na Alemanha nazista, como Von Braun, por exemplo?
AO – Meu Deus, não há limite para a ignorância humana? (transtornado) Os senhores são pobres cordeiros que, inocentemente, acreditam em tudo que lhes contam os jornais e a história. Daqui a pouco vão dizer que o Einstein não colava de mim nas aulas de teoria da relatividade... Vão dizer que não inventei o motor de popa e de proa... Vão dizer que não falei pro motorista da princesa Diana andar mais devagar... Vão dizer que não criei a Aids... Ah, tenha a santa paciência!

TC – O senhor se gaba de comer sempre nos melhores restaurantes, de receber caviar diretamente do presidente da Rússia, mas dois leitores nossos enviaram fotos em que o senhor aparece revirando latas de lixo na rua. Como o sen...
AO – Como ousa? (novamente vermelho, olhos esbugalhados e dentes arreganhados) Eu sei quem são esses leitores! São os malditos Pratão e Pipócrates, a dupla de invejosos, desonestos, bandidos, fracassados e canalhas prontos e acabados! Tenho certeza! Saiba o senhor que ouvi dizer que eles praticam hábitos de Sodoma, que não desprezam a pederastia, que...

TC – Por favor, senhor, não baixemos o nível de nossa entrevista...
AO – Ah, agora eu é que estou baixando o nível... O senhor é que veio com essa pergunta descabida, dando valor a boatos infundados e falsas evidências...

TC – Mas, senhor, nas fotos, que foram consideradas legítimas por diversos laboratórios respeitados daqui e dos Estados Unidos, aparecem o senhor, Lorde Byron e o senhor Tião Macalé. Este inclusive, após encontrar uma espinha de peixe numa lata, foi severamente repreendido pelo senhor por ter tentado esconder o, digamos, alimento, dentro de seu calção. O senhor chegou a atirar uma pedra nele.
AO – Não era uma pedra. Tratava-se de um material menos consistente, que eu também julgara ser uma pedra e... Ei, ei! O que estou dizendo? Não aconteceu nada disso! Trata-se de uma montagem, uma farsa!

TC – Então mudemos de assunto. Gostaria de...
AO – Chega, chega! (extremamente alterado) Esta entrevista está encerrada! Eu desperdicei valiosos minutos de minha atribulada e ocupada vida com os senhores e o que ganho em troca? Insultos, calúnias, ofensas e dissabores vários. Amanhã mesmo embarcarei para a Escandinávia, onde pretendo me recuperar deste triste episódio desfrutando de algumas semanas de merecido e raro ócio nos Alpes Suíços. De primeira classe, obviamente.

TC – Mas os Alpes Suíços ficam na...
AO – Cale-se! Já lho tinha mandado calar-se! Tião! Lorde Byron! Por favor, acompanhem estes senhores até a porta. Passar bem. (visivelmente constrangido, Tião Macalé conduziu o repórter à saída. Já Lorde Byron pulou sobre a câmera do fotógrafo, derrubou-a e começou a enfiar os dedos nos olhos do profissional)

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