quarta-feira, agosto 05, 2009

AOS AMANTES DE DITADURAS

De vez em quando alguém aparece dizendo algo do tipo “tá certo que era uma ditadura (e/ou regime sanguinário e/ou modelo opressor e/ou avesso à liberdade de expressão e/ou totalmente corrupto etc.), mas...”


Tal “mas” é então seguido dos supostos benefícios entregues à população por parte do regime ditatorial defendido – parcialmente ou não – por aquele alguém.


Esse tipo de defesa é primo em primeiro grau da maquiavélica expressão “os fins justificam os meios”. É fruto, portanto, de uma visão amoral, aética e simplista da política, da gestão pública e, muitas vezes, até da vida.


Às vezes essa postura decorre apenas de uma falta de reflexão, de um aprofundamento maior a respeito da gravidade de certos temas, de determinadas situações. E outra coisa, cá entre nós: a preguiça de pensar sempre foi aliada dos corruptos e dos ditadores.


O fato é que ressalva alguma redime um governo de exceção. Nenhum argumento pode ser aceito em defesa de uma ditadura ou de um ladrão. Isto deve ser um valor absoluto.


Hitler é uma das mais perfeitas representações do mal. Sua loucura levou mais de 50 milhões de pessoas à morte e outros milhões de famílias a um sofrimento que perdura até hoje. Assim, seu governo e sua passagem pelo planeta foram repugnantes, horrorosos, detestáveis, ignominiosos e execráveis. Ponto. Não tem novas estradas e outras obras que o tornem minimamente defensável. O Terceiro Reich simplesmente não deveria ter existido. Ele era a essência do mal, de tudo que prende a humanidade às trevas, ao atraso.


O regime militar brasileiro prendeu, torturou e matou quem lhe era contra. Suprimiu liberdades individuais e calou a imprensa. E daí que abriu novas estradas, que construiu Itaipu e a ponte Rio-Niteroi? A ditadura não deveria ter existido. Ela é uma representação do mal, sua essência também era maligna.


As viúvas de Mao, Stálin, Videla, Fidel, Franco e outros que me perdoem, mas elas não sabem o que falam. Qualquer regime que precise amordaçar (ou eliminar) alguém para poder funcionar não merece a mínima consideração. Quando o “consenso” se dá pela força, é porque a razão e o bom senso foram passar férias num lugar distante.


Ah, certos fins justificam certos meios? Então, se estou passando fome, é válido pisar na cabeça de alguém no chão para alcançar a lata de biscoitos, mesmo que isso vá infligir dor em outra pessoa?


Então tudo bem se eu construo uma estrada para beneficiar dois milhões de pessoas, mas fecho jornais e boto na cadeia quem não concorda comigo, causando dor a uns milhares de famílias?


Todos os ditadores, todos os déspotas estão no poder pelo poder. Dele se alimentam, dele se inebriam, dele retiram seu prazer. Todos os corruptos estão no poder pela ganância, para dele se servir, para dele tirar vantagem. Logo, todos os seus atos têm máculas, não visam o bem de todos – ou da maioria. Tudo o que fazem é movido por egoísmo e egocentrismo, ou seja, vícios, ou seja, derivados do mal.


Pois então saibam, vocês que defendem que esse ou aquele ditador, esse ou aquele corrupto deixou algo de bom, saibam que vocês também estão obrigados a apoiar os pais que porventura venham a matar os filhos para equilibrar o orçamento doméstico.

2 comentários:

  1. É meu amigo Cabral, este seu texto me fez lembrar as discussões em dia de domingo com meu querido avô, ele que adorava o Castelo Branco e tinha e tem ódio mortal de Ulysses Guimarães; sempre me dizia "Ulysses era tão ruim que nem a terra quis comer!" Era o suficiente para começarmos a discutir, pois, eu tenho uma grande admiração pelo homem que implantou a democracia no Brasil. Mas como você mesmo disse isto é fruto de uma visão simplista da política, eu tinha de me conter afinal a boa educação não me permitia alterar com o patriarca da família Moraes; mas hoje em dia ele esta deixando o saudoso Ulysses em paz o seu mais novo saco de pancada é o atual presidente senhor Luiz Inácio Lula d Silva.
    Belo texto este seu, é sempre bom estarmos refletindo sobre os malefícios de uma ditadura; se é que existe algum beneficio?

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  2. Nenhum benefício, Saulo, pode crer. Não pode ser benéfico algo que implique em sofrimento para um ou alguns. Afinal, a raiz da palavra "benéfico" é "bem". O mal não gera o bem. Mas você está certo em não se alterar com seu avô. Melhor curtir ao máximo os mais velhos do que perder tempo discutindo por causa de bandidos e malandros, é ou não é?
    Um abraço!

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