quinta-feira, março 29, 2007

SEÇÃO DELÍRIOS - 29/3/2007


Para inaugurar oficialmente a seção Delírios, aqui vai uma modesta “contribuição” para o futebol mundial. Antes da proposta em si, cabe uma explicação: a estréia oficial da seção é hoje, mas o seu embrião foi lançado quando tive a petulância de publicar uma proposta para melhorar o calendário do futebol brasileiro, meses atrás. De agora em diante, sempre que minha cabeça quiser desovar alguma megalomaníaca idéia para melhorar o mundo, em qualquer área de atividade – humana ou não – os disparates virão com a chancela acima, pois talvez não passem disso mesmo, delírios.


PROPOSTA PARA UM
VERDADEIRO CAMPEONATO
MUNDIAL DE SELEÇÕES

Todo mundo adora Copa do Mundo. Quer dizer, nem todo mundo. Meu primo Marinésio detesta. Mas, de qualquer forma, por ser um torneio eliminatório, a Copa nem sempre premia o melhor time. Basta estar num dia excepcionalmente ruim para que uma equipe melhor seja mandada pra casa por um timeco qualquer. O Brasil foi vítima desses golpes do destino algumas vezes, com doloroso destaque para 1950 e 1982. Embora Uruguai e Itália, respectivamente, não fossem timecos.

Assim, sabedor (palavra horrível) de que somente um campeonato em turno e returno disputado em pontos corridos pode apresentar um resultado justo, apresento aqui (de graça) uma proposta para a dona Fifa analisar.

As 32 seleções de melhor pontuação no ranking da Fifa poderiam ser separadas em duas divisões de 16 equipes cada. Para não apertar o calendário dos clubes, cada campeonato mundial de seleções teria a duração de dois anos (um turno por ano), com 15 datas por turno. Os países que ficassem fora das duas divisões, disputariam torneios regionais: o campeão de cada federação continental entraria para a Série B seguinte, no lugar dos cinco últimos colocados.

Os dois últimos da Série A cairiam para a B de forma direta, assim como os dois primeiros da segundona mundial subiriam diretamente. Para manter a competitividade até o final, o 14º colocado da primeira divisão disputaria com o terceiro da Série B o direito de integrar o campeonato seguinte da Série A.

PARTICIPANTES

De acordo com o atual ranking da Fifa, os componentes de um hipotético Campeonato Mundial de Seleções, em suas duas divisões, hoje seriam os seguintes:

SÉRIE A

Argentina, Itália, Brasil, França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Portugal, República Tcheca, Espanha, Ucrânia, Croácia, Grécia, Romênia, Suécia e Escócia.

SÉRIE B

Suíça, Camarões, Gana, Costa do Marfim, México, Dinamarca, Rússia, Polônia, Equador, Uruguai, Turquia, Sérvia, Paraguai, Estados Unidos, Colômbia e Chile.

Os outros países jogariam torneios dentro de seus continentes para tentar chegar à Série B. Quem ficasse entre os cinco últimos da segundona, passaria a jogar seu respectivo torneio continental.

Simples, mas de impossível adoção por parte da Fifa, que fatura horrores com a Copa de quatro em quatro anos e com a Copa das Confederações, de dois em dois. Para as entidades que dirigem o futebol o que menos importa é a justiça no resultado final.

quarta-feira, março 28, 2007

UM CONTO DIALÉTICO PARA FECHAR MARÇO

Invisibilidade

- Por que você não foi à reunião de ontem?
- Andei pensando...
- E...?
- E resolvi não ir mais.
- Só ontem ou nunca mais?
- Nunca mais.
- Ora, por quê?
- Cheguei à conclusão de que tudo foi um erro.
- O que foi um erro? Nossa entrada no grupo?
- Também. Na verdade o próprio grupo foi um erro.
- Ficou maluco? Do que você está falando?
- O grupo, essas reuniões... tudo isso só serve pra aumentar nosso sofrimento. Aliás, perpetua o sofrimento. Não ir é deixar de sofrer.
- Mas nós entramos porque queríamos acabar com nosso sofrimento. A gente não tinha melhorado? Você mesmo falou que...
- Eu falei pra te agradar. Na realidade não notei melhora alguma em mim. E em você só vi o crescimento do potencial pra te causar dor.
- Porra, não estou entendendo!
- Olha, talvez tenha sido boa a intenção quando criaram o EA. Talvez a ilusão de melhora tenha consolado muita gente. Mas é tudo tão falso, tão... Os membros do EA passam a viver num simulacro da realidade. Essa auto-ilusão é daninha, não se...
- Peraí, cara... Eu... Que mal pode causar a tentativa de se levantar de um fracasso, de mil fracassos?
- Aí que está! Que fracasso? Quem falou que fracassamos em alguma coisa? Quem julga esse tipo de coisa? O que é o sucesso? Vender bem? Ganhar muito dinheiro com o que fazemos?
- Bom, eu... eu não reduziria a questão a uma visão mercantilista da coisa. É um dos aspectos, um dos aspectos...
- Quais são os outros aspectos?
- ...
- Me diz, me diz quais são os outros aspectos!
- Bem, são tantos... Olha, ontem o Machadinho levantou, pediu a palavra e falou um negócio que tocou todo mundo. Ele disse que pode não ter recebido um tostão pelo que escreveu em toda a vida, mas poderia morrer feliz se todos os dias, ao andar pela rua, fosse parado por pelo menos uma pessoa que dissesse: “Muito obrigado por ter tornado minha vida mais suportável”.
- Então é isso? Vocês, além de dinheiro, querem ser heróis populares, celebridades? Querem passear nos ombros da ralé?
- Ah, agora é “vocês”? Até anteontem você estava entre os que hoje não passam de “vocês”! Mas teve uma epifania e agora passou para um nível superior, de onde pode tripudiar sobre os mesquinhos seres inferiores! Ah, vai...
- Calma, bicho. Não quero diminuir ninguém. Vou colocar a coisa de outro modo: eu é que estou pensando diferente. EU. Não digo que estou certo e vocês errados. Só estou pensando diferente. Apenas acho que não preciso mais do EA porque não vejo que há nada de errado comigo.
- Também não vejo nada de errado comigo! O problema é este país, essa gentinha ignorante, este nosso ambiente filistino que privilegia a burrice...
- Aí está o grande erro! “O inferno são os outros”. Não! Ninguém está errado. Todos estão certos. As coisas são como são. O mundo é assim e pronto. Não temos que procurar agradar ninguém. Não é nossa função tornar a vida dos outros mais suportável. Se agradarmos todo mundo, ótimo. Se tornarmos a vida alheia mais suportável, beleza. Caso contrário, não há problema algum. A arte basta por si mesma. Não temos a obrigação nem mesmo de fazer sucesso junto a nós mesmos. Se eu não gostar do que fiz, azar meu. Mas a obra está lá. Ela precisava vir à tona, ela precisava vir à luz. Do jeito dela, como ela é, boa ou ruim, bela ou feia. Tanto faz. Se alguém estiver disposto a compartilhar da minha criação, que seja bem-vindo. Se não, tudo bem. Ela vai ficar lá, intocada em sua invisibilidade, para sempre, à disposição de todos e ao mesmo tempo sem dar bola pra ninguém. Ela é.
- Cara, que fase é essa? Tomara que ela passe logo. Espero te ver já na semana que vem lá nos Escritores Anônimos.