segunda-feira, agosto 24, 2009

PRATÃO, PIPÓCRATES E UM ENGAJAMENTO UM TANTO QUANTO INSÓLITO

- Pô, Pratão, eu vi seu filho de mão dada com macho na Parada Gay! Como é que tu deixa isso acontecer? Chama ele na chincha enquanto é tempo. Quem avisa amigo é...
- Fica frio, Pipo. Tá tudo sob controle.
- Sei. Sob o controle do negão...
- Calma, rapá... Meu filho é espada. É macho pra cacete!
- Hum-hum...
- Ele me avisou que participaria da Parada. E tem mais: ele vem frequentando ambientes GLS, sites de boiola e está filiado a todos esses troços de entidade de apoio à viadagem.
- Sei. E não é gay...
- Não é, pô. Tô te falando. Ele está praticando o que ele chama de “homossexualismo engajado” e...
- Claro, “engatado”. Sempre “engatado”...
- Fica na tua, meu! É uma bicharia de fachada. Um homossexualismo de protesto, sacô?
- Ah, então tá explicado... Rarrarrarrarrá!
- Ué, não tem música de protesto, arte engajada? Por que não o homossexualismo de protesto?
- Sei... Ele faz um sacrifício em nome da livre queimação, é isso?
- Ele não é gay, mas defende o fim da discriminação e do preconceito contra os baitolas, entende? É uma forma de luta que...
- Luta greco-romana: aquela que os camaradas ficam um em cima do outro...
- Ele só participa dos movimentos e...
- Movimentos dos quais não quero nem saber detalhes, por favor.
- Para de gracinha, babaca!
- Então quem faz música de protesto não é músico?
- Vai te...
- Quem faz arte engajada não é artista de verdade?
- Há casos e casos...
- É, ouvi dizer que ele teve muitos casos...
- Então quer dizer que uma pessoa não pode ser sensível ao sofrimento que as pessoas tidas como diferentes...
- Sim, ele é muito sensível mesmo...
- Vai pro inferno, maldito! Pior que o homossexualismo de protesto, que a arte engajada, é a política de resultados. Tu tem que gastar sua energia negativa é com esse pessoal que xinga o adversário num dia e no outro, quando depende dele, está abraçando e beijando. O que meu filho faz é um trabalho de solidariedade, de amor ao próximo.
- E de quem ele anda próximo ultimamente?
- Ah, vai...
- Dizem que ele não anda dormindo na sua casa.
- Tem umas semanas que ele tá na casa de um companheiro de associação.
- Humm...
- Eles tão desenvolvendo um projeto e...
- Sei... Um projeto de uma vida em comum...

- Olha aqui...

- Ou tem uma equipe grande nessa coisa de projeto na casa do amiguinho?
- Não. Só eles dois. Mas sem boiolagem! Sem boiolagem! O fato do outro rapaz receber pensão depois que morreu o sujeito que morava com ele antes não quer dizer nada.
- Claro que não... Gay sou eu... Rarrarrarrá!

- Porra! Pior é o Totó, que advoga em causa própria.

- Sem dúvida. Ele pratica o homossexualismo sem protestar.


Pratão e Pipócrates são filósofos de rua e discordam em tudo, menos na aversão a Aristóteles Omorris, o bom e velho Totó

quarta-feira, agosto 05, 2009

AOS AMANTES DE DITADURAS

De vez em quando alguém aparece dizendo algo do tipo “tá certo que era uma ditadura (e/ou regime sanguinário e/ou modelo opressor e/ou avesso à liberdade de expressão e/ou totalmente corrupto etc.), mas...”


Tal “mas” é então seguido dos supostos benefícios entregues à população por parte do regime ditatorial defendido – parcialmente ou não – por aquele alguém.


Esse tipo de defesa é primo em primeiro grau da maquiavélica expressão “os fins justificam os meios”. É fruto, portanto, de uma visão amoral, aética e simplista da política, da gestão pública e, muitas vezes, até da vida.


Às vezes essa postura decorre apenas de uma falta de reflexão, de um aprofundamento maior a respeito da gravidade de certos temas, de determinadas situações. E outra coisa, cá entre nós: a preguiça de pensar sempre foi aliada dos corruptos e dos ditadores.


O fato é que ressalva alguma redime um governo de exceção. Nenhum argumento pode ser aceito em defesa de uma ditadura ou de um ladrão. Isto deve ser um valor absoluto.


Hitler é uma das mais perfeitas representações do mal. Sua loucura levou mais de 50 milhões de pessoas à morte e outros milhões de famílias a um sofrimento que perdura até hoje. Assim, seu governo e sua passagem pelo planeta foram repugnantes, horrorosos, detestáveis, ignominiosos e execráveis. Ponto. Não tem novas estradas e outras obras que o tornem minimamente defensável. O Terceiro Reich simplesmente não deveria ter existido. Ele era a essência do mal, de tudo que prende a humanidade às trevas, ao atraso.


O regime militar brasileiro prendeu, torturou e matou quem lhe era contra. Suprimiu liberdades individuais e calou a imprensa. E daí que abriu novas estradas, que construiu Itaipu e a ponte Rio-Niteroi? A ditadura não deveria ter existido. Ela é uma representação do mal, sua essência também era maligna.


As viúvas de Mao, Stálin, Videla, Fidel, Franco e outros que me perdoem, mas elas não sabem o que falam. Qualquer regime que precise amordaçar (ou eliminar) alguém para poder funcionar não merece a mínima consideração. Quando o “consenso” se dá pela força, é porque a razão e o bom senso foram passar férias num lugar distante.


Ah, certos fins justificam certos meios? Então, se estou passando fome, é válido pisar na cabeça de alguém no chão para alcançar a lata de biscoitos, mesmo que isso vá infligir dor em outra pessoa?


Então tudo bem se eu construo uma estrada para beneficiar dois milhões de pessoas, mas fecho jornais e boto na cadeia quem não concorda comigo, causando dor a uns milhares de famílias?


Todos os ditadores, todos os déspotas estão no poder pelo poder. Dele se alimentam, dele se inebriam, dele retiram seu prazer. Todos os corruptos estão no poder pela ganância, para dele se servir, para dele tirar vantagem. Logo, todos os seus atos têm máculas, não visam o bem de todos – ou da maioria. Tudo o que fazem é movido por egoísmo e egocentrismo, ou seja, vícios, ou seja, derivados do mal.


Pois então saibam, vocês que defendem que esse ou aquele ditador, esse ou aquele corrupto deixou algo de bom, saibam que vocês também estão obrigados a apoiar os pais que porventura venham a matar os filhos para equilibrar o orçamento doméstico.